O eletrocardiograma é um exame prático, barato, não invasivo, que pode fornecer informações importantes a respeito da anatomia e fisiologia cardíaca de um indivíduo. Contudo, ele também é avaliador dependente, ou seja, necessita de um indivíduo capacitado que saiba realizar e interpretar. Tudo isso com o intuito de que os resultados obtidos sejam compreendidos em toda sua complexidade de informações. Uma das possíveis informações obtidas é a presença de isquemia, infarto ou necrose. Sendo assim, o nosso objetivo será aprender a reconhecer essas alterações e assim correlacionar com a clínica apresentada pelo paciente.
A isquemia pode ser reconhecida pela presença de uma onda T apiculada (isquemia subendocárdica) ou invertida (isquemia subepicárdica) e simétrica, visto que a redução do fluxo sanguíneo irá lentificar a repolarização ventricular.

Onda T apiculada à esquerda e onda T invertida à direita. Fonte: ECG Essencial, 7º edição: Editora Artmed.
Já a corrente de lesão do infarto pode ser identificada pela presença de um infradesnivelamento (lesão subendocárdica) ou supradesnivelamento (lesão subepicárdica) do segmento ST.

Infradesnivelamento de ST
Fonte: My EKG

Supradesnivelamento de ST
Fonte: ECG Essencial, 7ª edição: Editora Artmed.
A necrose, por sua vez, por ser um evento mais tardio, é evidenciada pela presença de uma onda Q (do complexo QRS) patológica, que é caracterizada por possuir mais de 1 mm de largura e/ou ⅓ da altura do complexo QRS.

Onda Q patológica.
Fonte: ECG Essencial, 7ª edição: Editora Artmed.
O cenário mais comum nas emergências é o do infarto agudo do miocárdio. Ao considerar isso, é fundamental saber reconhecer a presença de infra ou supradesnivelamento do segmento ST, visto que indicam existência de obstrução do fluxo coronariano importante e com morte celular (supra de ST). Como a distinção entre infra e supra de ST é capaz de modificar a conduta, foram elaborados critérios para definição de presença de supra do segmento ST: nova elevação do segmento ST de pelo menos 1mm em pelo menos 2 derivações contíguas. Nas derivações V2 e V3, os critérios irão depender do sexo e idade:
- Mulher: maior ou igual a 1,5 mm;
- Homem > 40 anos: maior ou igual a 2 mm;
- Homem < 40 anos: maior ou igual a 2,5 mm.
De acordo com as derivações afetadas, podemos identificar qual área ou parede cardíaca está sendo afetada e até mesmo especular qual vaso coronariano encontra-se obstruído. Além disso, podemos também perceber a necessidade de avaliar outras derivações, como as “direitas”, por exemplo. Alguns exemplos disso são:
- Infarto Anterosseptal: Presença de supra de ST em V1 e V2, com acometimento de artéria descendente anterior.
- Infarto Anterior: Presença de supra de ST em V1-V4, com acometimento de artéria descendente anterior.
- Infarto Antero Lateral: Presença de supra de ST em D1, aVL, V5 e V6, com acometimento de artéria circunflexa.
- Infarto Anterior Extenso: Presença de supra de ST em D1, aVL, V1-V6, com acometimento de artéria descendente anterior.
- Infarto Inferior: Presença de supra de ST em D2, D3 e aVF, com acometimento de artéria coronária direita (cerca de 90%) ou artéria circunflexa (cerca de 10%).
- Infarto Dorsal ou Posterior: Presença de supra de ST em V7, V8 e V9 com acometimento de artéria coronária direita.
- Infarto de Ventrículo Direito (VD): Presença de supra de ST em V3R e V4R, com acometimento de artéria coronária direita.
Com essas dicas, espero que fique mais fácil de reconhecer um infarto no seu plantão e assim intervir corretamente de modo a ter o máximo de sucesso para o seu paciente. Bons estudos e até a próxima!
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