Vamos conversar um pouco sobre eletrocardiograma? Antes de começar, quero te mostrar o quão importante é você saber disso. Um ponto interessante é que em geral os exames de eletrocardiograma são acompanhados de um resultado, um laudo.
A partir disso, você deve estar se questionando do motivo de aprender, mas é fundamental lembrar que pessoas erram. Todos podem errar, incluindo eu e você. Sendo assim, é extremamente necessário que você saiba ao menos checar as informações para averiguar a coerência do laudo com o traçado eletrocardiográfico que você está observando.
Outro ponto importante ainda sobre isso é que, muitos momentos, você não terá tempo de aguardar um profissional especialista laudar o seu resultado. A chegada ao hospital de um paciente com suspeita de infarto é um clássico exemplo disso. Você possui apenas 10 minutos desde a suspeita de ser um quadro de infarto até realizar esse exame.
Dessa forma, torna-se essencial que ao ter o resultado do exame nas suas mãos, você seja capaz de interpretá-lo. Então na emergência, no cti e até mesmo nas enfermarias é o médico que está atendendo que vai ser o responsável pela interpretação do eletrocardiograma.
Como laudar um ECG?
Já que estamos de acordo que esse conhecimento é muito importante, vamos aprender a como efetivamente como interpretar os aspectos mais essenciais de um ECG. Existe um mnemônico capaz de te ajudar a lembrar de itens que não podem faltar no laudo, que é a palavra “FREIOS”.
- F: Frequência cardíaca
- R: Ritmo cardíaco
- E: Eixo cardíaco
- I: Intervalos (PR e QT, principalmente)
- O: Ondas (P e T, principalmente)
- S: Sobrecargas e outras variações
Você não precisa seguir essa forma, mas é um excelente modo de não errar e esquecer de algum item. Assim, vamos entender como avaliar cada parâmetro.
1 – Frequência Cardíaca
A frequência cardíaca pode ser calculada de modo simples e rápido, considerando o número de quadradinhos e quadradões entre os complexos QRS. Após contabilizar o número de quadradinhos, você irá dividir 1500 pela quantidade que você encontrou. No caso dos quadradões, você irá dividir 300 pela quantidade que encontrou, como, por exemplo:
Contei 5 quadradões entre os complexos QRS do D2 longo, logo:
- 300/5 = 60 bpm
Sabendo disso, de modo prático, se você encontrar entre 3-5 “quadradões”, saberá que se encontra dentro da normalidade de frequência cardíaca, ou seja, entre 100-60 bpm, respectivamente.
2 – Ritmo Cardíaco
O primeiro conceito é definir se o ritmo é sinusal ou não sinusal. Como diferenciar os ritmos não sinusal iremos entender em outro momento.
Um modo simples é observar se existe onda P precedendo todos os complexos QRS e se a onda P é positiva em todas as derivações, exceto aVR (negativa) e V1 (bifásica). Caso não encontre isso, você provavelmente está diante de um ritmo não sinusal.
3 – Eixo Cardíaco
O eixo cardíaco é uma parte que dá um pouco mais de trabalho, pois exige que você trabalhe com o eixo hexagonal para encontrar o eixo do coração. A maior parte dos pacientes sem doença cardíaca, possui o eixo no quadrante entre 0°-90° (mas pode ser normal até 120°). Se você perceber que não é o caso do seu paciente, é provável que haja um desvio do eixo cardíaco, ou seja, aquele coração está deslocado de sua posição normal.
E como reconheço que está nesse quadrante? Bom, se seu D1 e aVF estiverem positivos, já dá para ficar mais tranquilo. Se você quiser calcular direitinho, sente e comece a desenhar.
4 – Intervalos
Temos intervalos, ou melhor, distâncias importantes no ECG: intervalo PR e intervalo QT. O intervalo PR é a distância desde o início da onda P até o começo do complexo QRS. O intervalo QT é a distância do complexo QRS até o final da onda T.
Para calcular, basta contar a quantidade de quadradinhos e multiplicar por 40 ms. O normal de intervalo PR é ser entre 120-200 ms. Intervalos fora desse valor podem indicar bloqueios atrioventriculares. O normal de intervalo QT é ser entre 350-440 ms. Intervalos fora desse valor podem indicar intoxicação medicamentosa ou até mesmo hipertrofia ventricular esquerda.
5 – Ondas
Temos ondas no ECG também, sendo as de importância: onda P e onda T. A forma como essas duas ondas se apresentam podem indicar alguns problemas, como no caso da onda P alargada que pode indicar uma sobrecarga atrial e da onda T apiculada que pode indicar hipercalemia (potássio alto no sangue).
6 – Sobrecargas e Outras Variações
Essa parte é mais difícil de reconhecer, mas é importante que você busque ativamente por sinais de sobrecarga atrial ou ventricular esquerda e direita, infra ou supradesnivelamento do segmento ST, taqui ou bradiarritmias, dentre outras possíveis variações. Cada um desses achados é possível de ser percebido ao atentar para características específicas do traçado. Não deixe de estudar esse tema e relembrar cada um.
Espero que tenham gostado desse super tutorial de como laudar um ECG. Até a próxima e bons estudos!