E aí galera, tudo certo? Hoje vamos continuar a nossa série de posts falando sobre abordagem pré-operatória. No último texto, falamos sobre o risco anestésico e a classificação da ASA. Agora vamos falar sobre como estimar o risco cardiovascular no contexto pré-cirúrgico.
Mas você pode questionar: qual a importância disso exatamente, Evandro? As doenças cardiovasculares como o infarto agudo do miocárdio (IAM) e as arritmias têm uma grande prevalência e contribuem drasticamente na mortalidade do período perioperatório.
Então, já podemos imaginar a importância de saber se um procedimento cirúrgico específico em um paciente com certas características e doenças associadas. Esse conhecimento nos permite tomar certas medidas que reduzam o risco de dano ao paciente (eventualmente até contraindicar a cirurgia).
E Como eu estimo esse risco cardiovascular?
Nós temos alguns escores que podem ser utilizados para avaliar qual o risco do paciente apresentar eventos cardiovasculares no per e pós-operatório. A estratificação de risco de Fleischer (para procedimentos não-cardíacos), o índice de risco cardíaco revisado (IRCR – escore de Lee), o escore de Goldman, que depois foi modificado por Detsky, são alguns deles.
Mas calma, obviamente você não precisa decorar todos eles. O importante é ter uma noção geral de quais características esses índices contemplam. Isto vai te ajudar a perceber o que você deve procurar no seu paciente. Ou seja, o que representa uma chance maior de complicações cardiovasculares no pós-operatório. Vamos falar um pouco de cada um deles.
Estratificação de risco cardíaco de Fleischer:
A estratificação de risco cardiovascular para procedimentos não-cirúrgicos de Fleischer, é comumente utilizada na prática. Basicamente consiste em classificar, quanto às características do procedimento cirúrgico, em alto risco (risco de complicações maior ou igual à 5% ), risco intermediário (risco entre 1 e 5%) e baixo risco (risco menor que 1%).
No grupo de alto risco se enquadram grandes cirurgias de urgência e emergência, cirurgias vasculares de grande porte (aorta e seus ramos) e cirurgias demoradas, com grande perda de sangue ou de líquidos para o terceiro espaço.
Já no grupo classificado como de risco intermediário, temos as cirurgias intraperitoneais ou torácicas, ortopédicas, prostáticas, de cabeça e pescoço, entre outras.
Por fim, no grupo de cirurgias de baixo risco, temos os procedimentos endoscópicos, cirurgias oftalmológicas, plásticas, cirurgias de mama e herniorrafias, por exemplo.
Índice de Risco Cardíaco Revisado (IRCR) – Escore de Lee:
O índice de risco cardíaco revisado, proposto por Lee em 1999, utiliza não só o tipo de cirurgia, mas também aspectos clínicos do paciente para avaliar o seu risco cardiovascular cirúrgico. Divide-se os pacientes em classes de I (sem nenhuma variável de risco, apresentando risco cardíaco inferior a 1%) a IV (3 ou mais variáveis de risco, o que demonstra um risco maior que 10% de complicações cardiovasculares).
São consideradas variáveis no IRCR, cada uma valendo um ponto:
-Cirurgias de alto risco (vascular, intraperitoneal ou torácica).
-Doença coronariana (IAM prévio, angina, teste de estresse positivo).
-Insuficiência cardíaca (ortopneia, presença de B3 ou crepitações em bases ao exame físico, congestão à radiografia de tórax)
-Doença cerebrovascular (história de AVE ou AIT).
-Diabetes mellitus insulinodependente.
-Doença renal crônica.
Índice de Goldman:
Vamos citar o índice de Goldman pelo seu valor histórico; mas saiba que atualmente já não é tão utilizado.
Esse escore leva em consideração:
-Os achados na anamnese e exame físico (idoso, história de doença coronariana, sinais clínicos de insuficiência cardíaca como presença de B3 ou turgência jugular patológica).
-Alterações eletrocardiográficas, o tipo de cirurgia e o estado geral (avaliado por alterações gasométricas, elevação de enzimas hepáticas, etc)
Os pacientes são graduados em classes de I a IV, assim como o IRCR, onde quanto maior a classe, maior o risco de complicações cardíacas.
Dessa forma, usando as ferramentas vistas até agora, podemos saber por onde começar a procurar; e responder com mais segurança os pacientes que perguntam os riscos da cirurgia. Saberemos qual a chance dele se sair bem de certos procedimentos. O nosso próximo texto vai falar sobre os exames que nós precisamos (e os que não precisamos) solicitar no pré-operatório.
Por hoje é isso, pessoal! Fique de olho no nosso blog e na nossa plataforma do Jaleko, continue estudando e até a próxima.