É o seu primeiro plantão como médico em terapia intensiva, você escolhe os pacientes que irá evoluir e fazer a prescrição. Plantãozinho moleza, sem dificuldades até que as 18 e 50, faltando 10 minutos para o fim, um dos pacientes começa a vomitar sangue e ficar hipotenso. Desesperado, você procura um motivo e não encontra, afinal o paciente era um jovem, internado por crise asmática que evoluiu para a prótese ventilatória há mais de 48 horas. Portanto, não havia indicação de profilaxia de úlcera de estresse… ou havia?
E aí, sabe a resposta? Tá na dúvida? Vem comigo que eu te mostro!
A primeira pergunta que você se deve fazer é: Porque fazer profilaxia?
Em 1994, um estudo do Canadian Critical Care Trials Group comparou a taxa de mortalidade entre pacientes com e sem sangramento gastrointestinal. O resultado vocês já devem ter uma noção, o grupo com sangramento teve uma mortalidade maior. Mas, isso é obvio né Gabriel? O que ninguém esperava era que a mortalidade do grupo com sangramento fosse de 49% e o do grupo sem de 9%. Bizarro né? Se isso não te convenceu da importância da profilaxia, então talvez isso convença:
Um ano depois, outro estudo respondeu a pergunta, pois trouxe como conclusão de que em até 72 horas após a admissão na terapia intensiva, 75% dos mesmos apresentavam lesão aguda de mucosa gástrica.
Pronto, tenho certeza que você ficou tão convencido que decidiu você mesmo tomar e prescreveu pra todo mundo da sua unidade! Calma jovem, contenha essa ansiedade! Nem só de Omeprazol vive o homem. A profilaxia é importante, mas nem todos se beneficiam disso.
Escolhendo os eleitos:
O mundo da terapia intensiva não é democrático. Após diversos estudos, chegamos a seguinte indicação:
TODOS OS PACIENTES DA TERAPIA INTENSIVA COM ALTO RISCO DE SANGRAMENTO GASTROINTESTINAL DEVEM RECEBER PROFILAXIA. SENDO ELES:
- Coagulopatia (Plaquetopenia < 50.000, INR > 1,5 ou PTT > 2x o valor do controle)
- Ventilação mecânica por mais de 48 horas
- Grande queimado
- Trauma: Cranioencefálico e ou raquimedular
- Dois ou mais dos seguintes: Sepse, estadia na terapia intensiva com duração de mais de uma semana, sangramento oculto por seis dias ou mais ou terapia com glicocorticoide (como hidrocortisona em doses de 250 mg ou mais ou outro corticoide em dose equivalente)
Gabriel, mas e nutrição enteral? Já me falaram uma vez que nutrição enteral é protetora e, portanto, não precisa fazer profilaxia. Estamos diante de um paradoxo, isso está certo e errado ao mesmo tempo. Ann? Como assim?
Esse assunto é muito extenso e controverso, mas em linhas gerais, pacientes que tem indicação de profilaxia, como, por exemplo, a coagulopatia ou ventilação maior que 48 horas, não devem deixar de receber a profilaxia por conta da nutrição enteral. Espera, fiquei confuso…
Simplificando, pacientes de alto risco para sangramento devem receber profilaxia, independentemente, de estarem recebendo nutrição enteral (saiba mais aqui).
No próximo artigo sobre CTI, você vai descobrir COMO prescrever a profilaxia! Para não perder, nos acompanhe no Instagram e Facebook do Jaleko!