Introdução
Todos que já passaram pela disciplina de Semiologia ou até mesmo a de Cardiologia já escutaram falar esse nome: pulso de Corrigan. Em qualquer livro que você pegar, irá encontrar esse achado bastante frequente em pacientes com insuficiência aórtica. Mas vocês já pararam para pensar no porque esse pulso recebeu esse nome? Quem foi Corrigan?! Neste artigo você conhecerá um pouco mais da história da medicina, assim como a biografia de um dos médicos essenciais para o diagnóstico de doenças cardiovasculares.
Dominic John Corrigan
Dominic Corrigan nasceu em 2 de dezembro de 1802, em Dublin, na Irlanda, mas viveu sua vida inteira na Inglaterra. Filho de um fazendeiro bem-sucedido e comerciante (vendia produtos agrícolas), estudou quando criança no colégio católico St. Patrick`s, em Maynooth, e frequentou a faculdade de medicina de Dublin nos primeiros anos, quando posteriormente pediu transferência para outra faculdade localizada em Edinburgo, aonde se formou no ano de 1825. Foi muito influenciado a estudar medicina após contato com O’Kelly, um médico clínico geral que atendia na sua faculdade e levou Corrigan para os hospitais desde cedo, tornando-o seu aprendiz. E Dominic, almejando chegar aonde O’Kelly chegou, resolveu tentar a vida como médico após vivenciar a rotina do seu orientador.
Após a formatura, retornou a sua cidade de origem, Dublin. Lá abriu negócios particulares, mas foi trabalhando com indivíduos de baixa renda e moradores de rua que se aperfeiçoou no estudo das doenças do coração e dos pulmões, se tornando então um dos médicos mais famosos de toda a Europa. Casou-se com Joanna Woodlock em 1827 e teve seis lindos filhos, três meninas e três meninos. Faleceu em Dublin no ano de 1880 de complicações de um acidente vascular cerebral.
Na medicina publicou vários artigos, inclusive o que retratava as causas e o tratamento da insuficiência aórtica, que foi escrito baseado na observação dos pacientes acometidos com a doença em um hospital de Dublin. Porém, seu artigo mais conhecido foi “Cirrhosis of the lung”, escrito em 1838 e publicado no Jornal de Ciências Médicas de Dublin, assim como “Aortitis as a cause of angina pectoris and mitral stenosis”, escrito nessa mesma época. Além dessas pesquisas, também foi o responsável por descrever o pulso de Corrigan. Tornou-se também professor de medicina na escola médica de Diggs Street.
Em 1850, quando a Universidade Queen’sfoi fundada, Corrigan se tornou parte do senado, a partir de 1859 virou representante no conselho médico e em 1871 tornou-se vice-chanceler. Em 1856 foi eleito membro do Irish college of Psysicians, sendo reeleito por 5 vezes e conseguiu vencer inúmeras batalhas pelos direitos humanos. Durante o seu mandato, tornou o colégio britânico o primeiro órgão da região britânica a aceitar mulheres para tirarem licença média.
Além das suas contribuições para a medicina, Dominic John Corrigan também mantinha interesses fora dessa área e se saiu muito bem. Publicou dois artigos não relacionados a cardiologia e que tiveram influência surpreendente em sua história. Ele descreveu em 1846 o que ficou conhecido como o “Botão de Corrigan”. Ele descreveu um pedaço de ferro que, ao ser posto na chama e, ainda quente, encostado na superfície de uma parte que ele dizia “afetada”, provocava o aparecimento de círculos vermelhos. Esses círculos serviam de contra-argumentação e foram usados em várias outras doenças, como por exemplo nos casos de artrite reumatoide, lombalgia e neuralgia. A fisiopatologia desse achado era decorrente de que o calor produzido pelo pedaço de ferro diminuía a irritação causada pelos sintomas da doença de base nesses pacientes.
Outro estudo em que Dominic mostrou interesse foi na enurese infantil (saída involuntária de urina). Esse estudo baseava-se na aplicação de uma fina camada de colódio (solução de nitrocelulose utilizada na época) sobre o prepúcio do pênis de um paciente e, à medida que o colódio secava, tornava-se duro e impedia a urina de sair sem o esforço provocado pelo paciente.
Pulso de Corrigan
Também chamado de pulso em martelo d’água, refere-se a um estranho e anormal pulso associado à insuficiência aórtica. Ele se caracteriza por uma ascensão rápida da onda de percussão sistólica, seguida de um colapso súbito. É conhecido também por esse nome pois esse aparecimento e desaparecimento com rapidez é semelhante a sensação de tocarmos um martelo d’água, que é um aparelho composto por um tubo de vidro repleto de água em 50% e remove-se o ar nos 50% restante. Quando invertemos esse tubo, a água cai como se fosse um corpo único e sólido, culminando com um solavanco percebido pela mão do examinador, como se fosse um golpe. O pulso de Corrigan é decorrente da pressão diferencial, podendo ser encontrado além da insuficiência aórtica, em outras patologias que não as cardíacas, como por exemplo as fístulas arteriovenosas, anemias graves e no hipertireoidismo.
Sabemos que a insuficiência aórtica é uma condição cardíaca (principalmente relacionado às válvulas) em que o sangue é refluído para o ventrículo esquerdo no momento em que está ocorrendo a diástole ventricular e sua principal causa é o fechamento valvar inadequado, ou seja, a válvula cardíaca não se fecha como deveria. Os pacientes que a apresentam normalmente cursam com alguns sintomas típicos, dentre eles: fadiga e tonteira (refletindo o baixo débito que o coração está sendo exposto), dispneia e ortopneia (pela congestão) e angina, como as principais manifestações. O tratamento dessa condição requer a substituição daquela válvula, visto que nenhum medicamento é capaz de fazer a válvula regenerar. Alguns medicamentos podem ser usados, como a dobutamina e alguns vasodilatadores, para ajudar na diminuição dos sintomas clínicos apresentados por eles.
Conclusão
Sabemos que o termo epônimo refere-se a uma personalidade que fez história e por isso deram seu nome a alguma coisa. Corrigan teve impacto não só pelas suas descobertas na área da medicina, mas também por sua personalidade ímpar relatada por quem convivia com ele. Além disso, ele tinha enorme força em suas palavras e nos artigos que escrevia. Ele possuía algumas características que davam prazer ao leitor quando os liam. Por isso, mesmo depois de seu falecimento, Dominic Corrigan teve seu nome honrado por muitos médicos contemporâneos que continuaram a fazer observações sobre as suas descobertas e sobre a sua personalidade.