Atualmente, pela facilidade e disponibilidade, é cada vez mais comum a solicitação de exames laboratoriais (e não só laboratoriais) sem uma indicação precisa e adequada, acarretando gastos no sistema saúde desnecessários, além de muitas vezes trazer informações as quais não sabemos interpretar (afinal, para se pesquisar algo temos que ter em mente o que estamos procurando).
Seu uso indiscriminado, além dos fatores já citados, pode trazer prejuízos ao paciente, como diagnósticos errados, espoliação de sangue, acidentes, além de solicitação em cascata de outros exames ainda mais sofisticados baseados em resultados falso-positivos.
Os exames laboratoriais fazem parte da nossa prática médica e são muitas vezes essenciais para o auxílio e conclusão diagnóstica. Se utilizados de forma criteriosa, associam-se a uma melhor prática médica.
Nos EUA, por exemplo, a solicitação de exames complementares é a atividade médica considerada de maior volume e em números crescentes. Alguns motivos podem ser apontados como possíveis contribuintes para este fenômeno: envelhecimento da população e consequente aumento das comorbidades; surgimento de novos testes; influência dos meios de comunicação; supervalorização do exame laboratorial em detrimento da história e exame físico; desconhecimento dos custos dos procedimentos; postura médica defensiva (contra possíveis processos judiciais).
QUANDO DEVO PEDIR UM EXAME COMPLEMENTAR?
Todo exame complementar deve ser solicitado para a confirmação ou exclusão de uma hipótese diagnóstica, na checagem de uma alteração de estado do paciente, monitorização de tratamentos e procedimentos, além de acompanhar a evolução clínica.
Alguns estudos indicam que não há necessidade de repetir um exame normal mais que 4 vezes consecutivas durante a mesma internação. No caso de resultado anormal, em paciente estável ou em recuperação, a repetição pode não ser necessária. Um grande exemplo é a dosagem sérica de creatinina em paciente com doença renal crônica já conhecida e que se encontra estável: a repetição do teste não acrescenta valor diagnóstico nem ao tratamento, prognóstico ou monitorização.
E O QUE JÁ ESTÁ SENDO FEITO E QUE PODE SER FEITO DAQUI PARA FRENTE?
Algumas estratégias são: informar os custos de cada exame; compensações para médicos que solicitam laboratório de forma mais criteriosa; implantação de formulários eletrônicos com regras de solicitação; ações de caráter educacional.
NO QUE DEVEMOS REFLETIR ANTES DE SOLICITAR UM EXAME LABORATORIAL?
– Será que este mesmo exame já não está sendo realizado e em andamento?
– A realização do mesmo é segura para o paciente?
– Esse(s) exame(s) é coerente com a(s) hipótese(s) diagnóstica(s)?
– A condição clínica atual justifica a solicitação/repetição do exame?
– O que vier de resultado modificará a conduta?