Com a pandemia do novo coronavírus e a paralisação do Brasil, e do mundo, na tentativa de diminuir a tão falada curva de número de casos de infectados pelo COVID-19, a maioria dos estudantes de medicina teve suas aulas suspensas para reforçar o isolamento social.
Mesmo sabendo que esses estudantes poderiam ser uma mão de obra futura para ajuda no combate à pandemia, inicialmente não se soube como nem quando isso poderia ser feito. Muitas faculdades, Brasil à fora, cancelaram as aulas para que esses estudantes se preocupassem apenas em ficar em casa.
Acontece que, além de ficar em casa por diversos dias seguidos, sem previsão de retorno ao convívio social, muitos longe de suas famílias e de suas cidades, também veio a preocupação quanto a sua formação profissional e a possibilidade de atuação quando a curva ficasse mais íngreme, e a situação no país piorasse.
Com as faculdades paradas, o receio a respeito de sua formação vai desde os calouros, empolgados para as primeiras aulas, ansiosos para adquirir todo o conhecimento que vem pela frente, até os estudantes mais próximos do CRM. Os calouros já não sabem mais a respeito de férias, choppadas, viagem no final do ano.
Não há previsão do que será nos próximos meses, já que precisam adquirir todo o conhecimento teórico tão importante para essa profissão – sua formação não pode ser abreviada. Os quase formandos já não sabem mais sobre a data da formatura, sobre os rodízios de cada mês, sobre a data das provas de residência.
Os quase formandos já não têm mais nenhuma previsão sobre esse cenário que, hora parece se adiantar, hora parece se atrasar.
Foi permitido o adiantamento da formação para aqueles que já tivessem 75% da carga horária necessária para o internato, mas fica a cargo das faculdades liberarem essa carga horária e se posicionarem contra ou a favor do adiantamento.
E aqueles que ainda não completaram essa porcentagem necessária, terão suas formaturas atrasadas? Fica a dúvida.
Além disso, na semana do dia 30/03 a 03/04, veio a convocação dos estudantes de medicina (do 1º ao 6º ano – dando preferência aos estudantes do 5º e 6º ano), e muitas outras incertezas se estabeleceram.
É oferecida uma bolsa no valor de 522,00 reais para os estudantes do 1º ao 4º ano, por 20 horas de trabalho semanais por mês, e uma bolsa no valor de 1045,00 reais para os estudantes do 5º ao 6º ano, por 40 horas de trabalho semanais por mês, valendo como carga horária para o internato, e mais uma pontuação adicional de 10% no processo de seleção pública para programas de residência promovidos pelo Ministério da Saúde.
Se as outras residências também vão aderir, e em que etapa do processo seletivo entrará essa bonificação, ninguém sabe.
Sem saber se serão ou não convocados após o cadastro, pois isso dependerá da demanda das unidades de saúde e, sem saber se irão ou não após a convocação, os estudantes se veem perdidos em meio a essa nova dinâmica. Até que ponto vale a pena se arriscar no combate ao COVID-19? Até que ponto dá para não se arriscar se tantas pessoas precisarão?
E se você sempre desejou realizar um trabalho histórico como esse, mas faz parte de algum grupo de risco? Pode ser que você também deseje passar por esse processo para adquirir essa bagagem.
Pode ser que você queira ajudar o país a cuidar das pessoas, pode ser que você esteja interessado apenas nos 10% na prova de residência, e/ou nos 1045,00 reais mensais, ou pode ser que você pense que nada paga a sua segurança. Pode ser que o Brasil conte com você, mas será que você pode contar com o Brasil? Vale a reflexão.
A balança entre os prós e contras é uma realidade na mente atual dos estudantes de medicina, e a resposta para todas as suas dúvidas encontra-se apenas neles mesmos. O que eles farão com isso tudo depende apenas deles.
Mas é inegável que, participando ou não do programa, se formando antes, se formando no prazo, ou se formando depois, de qualquer forma, o COVID-19 impactou muita gente nesse contexto.
Isso ainda sem mencionar sobre os longos dias em casa, que parecem não ter fim, e sobre a quantidade de alunos com crise de ansiedade, depressão, e sem ver muita solução para essa condição.
Aceitar essa situação é o primeiro passo dessa caminhada. E, para que os outros passos sejam dados, é muito importante que, apesar de todo esse cenário, a balança sempre pese a seu favor, pensando na sua saúde, física e mental, desejando se nutrir de coisas boas em meio a todos os problemas.
Não se pode prever o que vai acontecer e nem quando isso tudo vai acabar, mas se pode focar em atitudes positivas para a sua vida, adotando hábitos mais saudáveis, se cuidando, continuando a estudar, com foco e propósito no seu objetivo, e não se prendendo o dia todo em notícias que possam ser um gatilho para que se sinta mal.
É possível, e cabe a você, segurar as rédeas de sua vida e tomar as suas próprias decisões, se colocando sempre em primeiro lugar.