Não é de hoje que sabemos que um fármaco inerte pode desencadear respostas benéficas à saúde de um indivíduo – esse é o famoso efeito placebo.
Só como curiosidade, também existe o efeito nocebo, que é aquele em que um indivíduo sente algum efeito adverso de uma substância inerte, ou seja, que não seria capaz de causar aquele efeito.
Cada vez mais estudos são desenvolvidos para tentar entender de onde surge esse efeito e a importância dele para a Medicina.
Como mais uma curiosidade, segundo o dicionário médico Hooper, “placebo” vem do latim placere que significa “agraderei”. Até que se encaixa, não é mesmo?
Os médicos Arthur e Elaine Shapiro escrevem: “O panorama do tratamento, desde a antiguidade, fornece amplo suporte para a convicção de que, até recentemente, a história do tratamento médico é, essencialmente, a história do efeito placebo…
Por exemplo, as três primeiras edições de London Pharmacopoeia, publicadas no século XVII, incluía drogas inertes, como musgo do crânio de vítimas mortas de morte violenta e gesso de Vigo (incluindo carne de víbora, sapos vivos e vermes).”.
QUANDO E COMO FOI DESCOBERTO O EFEITO PLACEBO?
A “descoberta” do efeito placebo ocorreu no ano de 1796, quando o médico norteamericano Elisha Perkins patenteou um aparelho composto por duas varetas de metal que, se agitadas ao redor do paciente, tinham a capacidade de eliminar o fluido elétrico nocivo (segundo o médico, era a causa de todo o sofrimento). Ele chamou esse aparelho de “Tractor Perkins”.
O efeito benéfico desse dispositivo chamou a atenção do médico John Haygarth que, após estudos e experiências bem controladas, conseguiu comprovar que os resultados do tratamento realizado com Tractor Perkins eram verdadeiros (ou seja, melhoravam a clínica dos pacientes), porém, o mesmo efeito era atingido também com uma réplica do dispositivo feita em madeira.
Sendo assim, Haygarth foi o primeiro médico a demonstrar que é possível obter respostas positivas em tratamentos de pacientes com procedimentos inertes ou “ineficazes”, hoje conhecido como Efeito Placebo.
Muitos acreditam que tal efeito ocorra secundariamente a um efeito psicológico, devido a um efeito real causado pela crença ou por uma ilusão subjetiva, ou seja, se eu acreditar que uma pílula me ajuda, ela vai ajudar. Ou a condição física não muda, porém eu me sinto alterado.
Em um estudo publicado em 1999, Kirsch e Guy Sapirstein (Pavloviano) analisaram 19 testes clínicos de antidepressivos e chegaram à conclusão que a expectativa de melhora, e não a alteração dos neurotransmissores, era responsável por 75% da eficácia das drogas.
QUAIS SÃO AS TEORIAS MAIS “FORTES” PARA A EXPLICAÇÃO DESSE EFEITO?
Existem diversas correntes científicas para a tentativa de explicação de tal efeito. As duas principais serão citadas a seguir:
– Condicionamento clássico ou Pavloviano: defende que é uma resposta inconsciente na qual as condições fisiológicas se adaptam ao “remédio”. Por exemplo, quando um placebo é administrado pela primeira vez, teremos um efeito limitado. Conforme o medicamento é administrado mais vezes, as respostas também se tornam melhores.
Outra forma pode ser um fármaco ativo sendo administrado durante um período de tempo (ex.: 5 dias) e, após esse período, o paciente passa a receber o placebo, porém o organismo continua mantendo a resposta desejada. Nesse caso, se o paciente descobre que está tomando algo sem o princípio ativo, o tratamento deixa de funcionar.
– Mecanismo consciente de duas partes:
. Expectativa de recompensa: nesse caso, a expectativa do paciente de que a sua situação vai melhorar ativa a rede de recompensas cerebral (núcleo accumbens), contribuindo para a recuperação, já que o indivíduo se encontrará mais motivado para realizar o tratamento;
. Modulação de ansiedade: o paciente responde ao tratamento de maneira consciente, já que a resposta está vindo do psicológico. A resposta ocorre por uma junção do fisiológico com o consciente.
HÁ DIFERENTES TIPOS DE PLACEBO?
Sim! Ele pode ser dividido em inerte ou ativo. O primeiro tipo é aquele em que não há ação farmacológica alguma. Por exemplo: pílulas de açúcar ou de farinha.
Já o placebo ativo é aquele que possui algum princípio ativo (como o próprio nome já diz), porém este não é usado para o fim que lhe é designado. Por exemplo, um comprimido de vitamina C poderá aliviar a dor muscular de um indivíduo, caso ele acredite estar tomando um analgésico.
A ÉTICA ENVOLVIDA:
Bom, pessoal! É importante sempre ser honesto com os pacientes. Com isso, por mais que o efeito placebo exista, e seja benéfico em diversas situações, não é justo, e nem ético, tratar as pessoas com procedimentos e/ou medicamentos inócuos, sem que elas estejam cientes desse fato.
BREVE PASSAGEM HISTÓRICA:
Em 1955, o médico americano Henry Beecher documentou o famoso caso de soldados na Segunda Guerra Mundial, que experimentaram um alívio importante da dor, quando receberam injeções de soluções salinas, quando os suprimentos de morfina já não estavam disponíveis (inclusive, um dos mecanismos do efeito placebo parece envolver opioides endógenos, além da atividade da dopamina).
ESSE FOI MAIS UM ARTIGO DA SÉRIE “HISTÓRIA DA MEDICINA”. SOBRE O EFEITO PLACEBO, AINDA HÁ MUITO A SER ESTUDADO ATÉ DEFINIRMOS SEU REAL PAPEL NO TRATAMENTO MÉDICO E QUAL MECANISMO ESTÁ POR TRÁS DISSO TUDO!