A Gonorreia ou Blenorragia ou “pingadeira” é uma IST (Infecção Sexualmente Transmissível), causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae ou Gonococo. Apesar de infectar tipicamente o trato urogenital, pode acometer outros epitélios como o reto, conjuntiva e faringe.
Acometendo ambos os sexos (sobretudo na faixa etária de 25 anos) e de tratamento simples, essa IST pode gerar complicações graves caso não tratada adequadamente. Desde 2019, tem provocado maior preocupação pelo aparecimento da “supergonorreia” com cepas resistentes aos antibióticos convencionais.
Sabendo um pouco mais…
A Gonorreia é uma das doenças humanas conhecidas mais antigas, havendo referências à sua existência desde o Velho testamento e literaturas ancestrais. Denominada por Galeno (130 a 200 d.C), seu significado vem de “gono” = espermatozoides + “rhoia” = corrimento –, pois se acreditava que o exsudato purulento manifestado pela infecção, era sêmen.
Somente em 1879 que Neisser descreveu o agente etiológico e em 1982, Leistikow e Loeffler o cultivaram, recebendo o nome de Neisseria gonorrhoeae.
A infecção por esse diplococo gram negativo, ocorre na maioria das vezes, por transmissão sexual em relações desprotegidas: vaginal, oral e retal (cervicite, uretrite, faringite, entre outras). No entanto, também pode ocorrer em recém-nascido, no momento da passagem pelo canal do parto (conjuntivite gonocócica neonatal) e em crianças, como resultado de abuso sexual.
O ser humano é o principal reservatório dessa bactéria. Na maioria dos casos, os indivíduos acometidos são assintomáticos ou oligossintomáticos (apresentam poucos sintomas). Na presença de sintomas, costumam aparecer de 2 a 14 dias após o sexo desprotegido.
Sintomatologia da gonorreia:
- Nas mulheres: a cervicite (inflamação do colo uterino) é a manifestação mais frequente. Esta pode ser diagnosticada pelo exame especular, com a visualização de secreção cervical purulenta. A uretrite pode ocorrer simultaneamente. Ademais, pode haver outras queixas: corrimento amarelado com odor forte, disúria, polaciúria, dor abdominal dor pélvica, sangramento fora do período menstrual, dispareunia (dor durante a relação sexual) entre outros.
Em 10 a 20% dos casos, o gonococo pode ascender via endométrio até as tubas uterinas causando salgingite e, também, para o peritônio pélvico, desenvolvendo a DIP (Doença Inflamatória Pélvica).
Outros acometimentos são: Bartholinite (inflamação das glândulas de Bartholin, localizadas na região da fúrcula vulvar e responsáveis pela lubrificação vaginal); Skenite (inflamação das glândulas de Skene, localizadas no meato uretral e responsáveis pela lubrificação dele).
Nos homens: é mais comum a uretrite com saída de secreção purulenta uretral (amarelada ou esverdeada). Outros sintomas usuais são: dor e edema testicular, sensibilidade peniana, disúria e polaciúria. Em alguns casos, pode haver Epididimite (caracterizada por dor escrotal unilateral, sensibilidade e edema).
Abscessos das glândulas de Tyson e Littre, periuretrais ou infecção das glândulas de Cowper (próstata e vesículas seminais), são raros.
- Outros acometimentos: faringite gonocócica (assintomática, em sua maioria ou causando desconforto e dor de garganta); gonorreia retal (secreção purulenta anal, sangramento, prurido retal, constipação intestinal); conjuntivite gonocócica do parto (inflamação das pálpebras do recém-nascido com secreção purulenta); gestacional (aborto, prematuridade, sepse neonatal).
Complicações:
- Síndrome de Fitz-Hugh-Curtis: ocorre predominantemente nas mulheres acometidas etrata-se de uma peri-hepatite gonocócica ou por Clamídia. Se apresenta com dor abdominal no hipocôndrio direito, náuseas e vômitos, febre, de forma semelhante à doença hepática o biliar.
- DIP: caracterizada por dor à mobilização do colo uterino, dispareunia, desconforto em baixo ventre. Caso não diagnosticada e tratada adequadamente, pode ser uma causa de infertilidade.
- Artrite gonocócica séptica: causada por uma artrite séptica com efusão, com 1 ou 2 articulações envolvidas (principalmente punhos, cotovelos, joelhos e tornozelos). Seu início geralmente é agudo, com dor intensa, limitação articular e febre. Sinais flogísticos locais costumam estar presentes: edema, hiperemia e hipertermia.
- Infecção gonocócica disseminada (IGD) ou Síndrome artrite-dermatite: é decorrente de uma bacteremia (gonococo atinge corrente sanguínea) a partir de uma gonorreia genital, e se apresenta com febre, poliartralgia migratória, astenia e lesões cutâneas (pequenas, pouco dolorosas, base hiperêmica ou papulares, vesiculares – ocorrendo nas extremidades distais).
Diagnóstico:
O diagnóstico clínico-epidemiológico é possível, e muitas vezes, suficiente para iniciar o tratamento. No entanto, são necessários exames confirmatórios da presença do gonococo.
Sendo os mais utilizados:
i) coloração pelo método de Gram (mais utilizada para secreção uretral do homem) – em variadas amostras, são evidenciados diplococos intracelulares gram negativos e cultura;
ii) cultura – swabs obtidos de amostras são cultivados em meios específicos;
iii) NAATs (testes de amplificação de ácido nucleico) – a partir de swabs genitais, orais ou retais, o material genético do gonoco é amplificado (muitas vezes, juntamente com o da Clamídia).
Como tratar a gonorreia?
O tratamento tradicional para quadros não complicados era realizado com a administração de Ceftriaxona (cefalosporina de 3ª geração), na dose de 500mg, via intra-muscular (IM), em dose única. Atualmente, além da Ceftriaxona, se prescreve Azitromicina, na dose de 1g, por via oral (VO), em dose única – uma vez que coinfecções entre Gonoco e Clamídia são comuns.
Uma alternativa à Azitromicina, é a Doxiciclina, 100mg, 2 vezes por dia, por 7 dias. Em casos de DIP, esse tratamento se estende para 14 dias.
Precisa tratar a parceria sexual?
SIM!! A gonorreia é uma IST! Logo, as parcerias sexuais – principalmente, das últimas 2 semanas – devem ser identificadas e tratadas adequamentes.
Por que cepas resistentes?
A resistência aos antimicrobianos é uma realidade e preocupação. Ela é decorrente do abandono do tratamento antes do tempo determinado, do uso de antibioticos na auto-medicação, ou diminuição ou aumento das doses por conta-própria. Sendo assim, as bactérias mais resistentes são selecionadas naturalmente e respondem cada vez menos a esses agentes.
Prevenção da gonorreia:
Simples e de fácil acesso, se dá pelo uso de preservativos (feminino e masculino) – em todas as exposições sexuais (inclusive, no sexo oral).
Até o próximo artigo!
Profª: Cíntia Mello.