O eletrocardiograma (ECG) é um exame prático, barato, não invasivo, que pode fornecer informações importantes a respeito da anatomia e fisiologia cardíaca de um indivíduo. Contudo, ele também é avaliador dependente, ou seja, necessita de um indivíduo capacitado que saiba realizar e interpretar. Tudo isso com o intuito de que os resultados obtidos sejam compreendidos em toda sua complexidade de informações.
Uma das possíveis informações obtidas é a presença de bloqueios atrioventriculares (BAVs). Sendo assim, o nosso objetivo será aprender a reconhecer essas possíveis alterações que podem justificar algumas queixas de bradicardia, assim como causar bradiarritmias graves, com potencial letal sem a devida intervenção, como o uso do marcapasso, por exemplo.
Os BAVs são bloqueios a nível do nodo atrioventricular (AV), que acabam por lentificar a condução elétrica e consequentemente retarda a estimulação dos ventrículos. Eles podem ser classificados em bloqueios de 1º grau, 2º grau 2:1, 2º grau Mobitz I, 2º grau Mobitz II e 3º grau, sendo estes 2 últimos considerados malignos e, mesmo em sinais de estabilidade hemodinâmica, dependerão da implantação de um marca-passo, de modo oposto aos anteriores que respondem bem às drogas, como a atropina.
No ECG, podem ser reconhecidos pela presença de um intervalo PR aumentado, maior que 200 ms (5 quadradinhos). Isso porque o intervalo PR indica o momento da despolarização do átrio, bem como o atraso fisiológico da condução do estímulo ao passar pelo nodo AV. Logo, se há um retardo da condução, haverá um aumento do intervalo PR.
Agora que você entendeu os tipos e como reconhecer o BAV, vamos aprender a diferenciar cada um deles:
1- Bloqueio Atrioventricular de 1º Grau
Neste caso, todos os estímulos vão chegar aos ventrículos de modo lentificado, o que pode ser comprovado pelo intervalo PR maior que 200 ms, presença de onda P, todos os complexos QRS e onda T.
2- BAV de 2º Grau 2:1
Nesta situação, alguns estímulos provenientes dos átrios não chegarão aos ventrículos. Por conta disso, veremos intervalo PR maior que 200 ms e algumas ondas P bloqueadas, como, por exemplo, presença de 2 ondas Ps antes de cada complexo QRS. O 2:1 refere-se à presença de 2 ondas Ps para 1 complexo QRS.
3- Bloqueio Atrioventricular de 2º Grau Mobitz I
Aqui acontecerá fenômeno semelhante ao anterior no que diz respeito ao fato de todos os estímulos atriais não chegarem aos ventrículos. No entanto, o que distingue do anterior é que acontece um alargamento progressivo do intervalo PR seguido de uma supressão de um complexo QRS (fenômeno de Wenckebach). Sendo assim, conseguimos ver um “prenúncio” de que o bloqueio vai acontecer, mas há obrigatoriamente presença de complexo QRS no próximo ciclo.
4- BAV de 2º Grau Mobitz II
Neste tipo de bloqueio atrioventricular, o intervalo PR está aumentado, porém de modo fixo. Ou seja, em todos os ciclos ele vai se apresentar com o mesmo tamanho, associado à supressão de um complexo QRS (bloqueio). O complexo QRS poderá estar alargado (maior que 120 ms).
5- BAV de 3º Grau, Avançado ou de Alto Grau
Nesta situação, podemos encontrar várias conduções atriais que não estimulam os ventrículos. Tendo isso em vista, é possível observar mais de 2 ondas Ps bloqueadas sequencialmente (sem complexos QRS). Ocorre uma dissociação entre os complexos QRS e onda P, também chamada de dissociação atrioventricular. Este é considerado o bloqueio de alto grau, que necessita de uma rápida intervenção, pois a qualquer momento o indivíduo pode ir a óbito.
Espero que, com este resumo, você consiga reconhecer e diferenciar os BAVs que encontrar no seu plantão e na sua prática médica. Além desse e outros temas, no curso de eletrocardiograma do Jaleko tem uma sessão destinada somente a casos clínicos com alterações no ECG! Bons estudos e até a próxima.