Qual a importância de saber sobre sedação paliativa? Muitas vezes, durante a carreira médica e na maioria das especialidades, vamos lidar com pacientes que se encontram no chamado fim de vida, ou processo ativo de morte, ou cuidados das últimas 48 horas de vida. Nesse momento de tamanha aflição e angústia, do próprio doente e dos familiares, é muito comum que o médico tenha que lançar mão de ferramentas para atuar nesse sofrimento. Neste artigo iremos orientar e esclarecer um pouquinho sobre essa técnica de grande valor para tal cuidado específico, a sedação paliativa.
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A sedação paliativa, também conhecida como sedação de conforto, consiste no uso de medicamentos para reduzir o nível de consciência e assim aliviar um ou mais sintomas refratários em pacientes com doença avançada terminal. São considerados refratários todos os sintomas intoleráveis e/ou intratáveis que não foram controlados, mesmo após o esgotamento dos recursos disponíveis.
ISSO NÃO ACABARIA CONSISTINDO EM EUTANÁSIA?
Não! A sedação paliativa diferencia-se da eutanásia em sua intenção, tipo de ação e aos resultados que esperamos da mesma. A primeira consiste em aliviar o sofrimento e controlar os sintomas refratários, utilizando as menores doses medicamentosas possíveis capazes de obter um controle adequado dos sintomas, esperando-se o alívio do sofrimento. Por outro lado, a eutanásia se baseia em provocar a morte do paciente para cessar o sofrimento através de uso de drogas em doses altas e letais, com o objetivo claro de morte imediata. Conseguiram ver a diferença?
OK, GUILHERME! ATÉ AQUI EU CONSEGUI ENTENDER. MAS, EU POSSO / DEVO INDICAR SEDAÇÃO PALIATIVA PARA TODOS MEUS PACIENTES TERMINAIS?
A resposta novamente é: não! Quando pensarmos em sedação paliativa, temos que possuir a resposta clara para algumas perguntas:
. Identifiquei e tratei todas as causas potencialmente reversíveis?
. Disponibilizei todos os recursos farmacológicos e não farmacológicos que estão ao meu alcance?
. O paciente foi avaliado por uma equipe de cuidados paliativos e/ou outros especialistas? Aqui há um detalhe importante! É sugerido que a sedação paliativa seja indicada por 2 ou mais membros da equipe assistencial.
. O paciente e seus familiares estão cientes desta indicação e houve um consenso?
. Há um registro formal e adequado no prontuário?
Se a reposta foi “Sim” para todos esses itens, mãos à obra! A sedação paliativa está bem indicada!
QUAIS MEDICAMENTOS POSSO UTILIZAR?
Não há uma receita de bolo para isso. O ideal é utilizar a medicação com a qual a equipe assistente tenha mais familiaridade com seu manejo, conhecimento e controle dos efeitos colaterais.
Algumas drogas que podem ser utilizadas com tal intuito são: midazolam, clorpromazina, fenobarbital, propofol.
É importante lembrar: opioides são drogas sedativas e não devem ser utilizadas com este objetivo! Boas indicações dos opiáceos são dispneia refratária e controle da dor.
APÓS O INÍCIO DA SEDAÇÃO, PRECISO TOMAR ALGUMA OUTRA MEDIDA?
Claro! Algumas orientações são:
. Reavaliar o paciente periodicamente (2/2 horas) até controle satisfatório dos sintomas;
. Refazer doses em bolus do sedativo, se o paciente se mantiver refratário, com aumento progressivo e gradual da infusão continua;
. Suspender tratamentos considerados fúteis ou desproporcionais;
. Manter jejum oral, se o paciente estiver em sedação profunda;
. Opioides para controle álgico;
. Suporte psicológico e espiritual aos familiares.
ÓTIMO! AGORA AS COISAS ESTÃO MAIS CLARAS NA MINHA MENTE! E AINDA HÁ ALGO MAIS PARA ALIVIAR O SOFRIMENTO DO MEU PACIENTE E DE SUA FAMÍLIA?
Além de tudo que enumeramos anteriormente, devemos incentivar visitas e despedidas, acolher necessidades e angústias, facilitar momentos religiosos ou de ritos, incentivar a retomada de relações interpessoais, contar com equipe multidisciplinar.
O final de vida é muito particular de cada indivíduo e das pessoas que o cercam. Baseado nisso, devemos procurar conhecer a fundo aquele doente a fim de melhor assisti-lo e a seus familiares no processo de morte.