Indicações de cuidados paliativos e suas modalidades
Com o avançar da Medicina nos últimos tempos, os métodos diagnósticos e as formas de tratamento das doenças se tornam cada vez mais extensos. Cirurgias complexas, terapias substitutivas (diálise, ventilação mecânica, circulação extracorpórea), medicações, transplante de órgãos artefatos cada vez mais rotineiros na profissão médica. Dessa forma, é evidente o aumento da expectativa de vida e da prevalência de doenças crônicas, além do prolongamento do “processo de morte”, muitas vezes sendo conhecido como distanásia (manutenção da vida a qualquer custo).
Veja também nosso artigo sobre desmame do ventilador!
Baseado nisso, e na premissa do “primum non modere” (primeiro, não prejudicar), o debate se faz necessário para que possamos contribuir de forma mais adequada para as decisões de pacientes em fase final de vida, seus familiares e equipe assistente.
Os cuidados paliativos se apoiam na singularidade da terminalidade de cada paciente, fornecendo o direito básico de saber a verdade, dialogar, ter poder de decisão e não sofrer inutilmente.
DEFINIÇÃO:
Segundo a OMS, cuidado paliativo é uma abordagem que promove a qualidade de vida do paciente e de seus familiares diante de doenças que ameacam a continuidade da vida e tem como princípios básicos (revisão de 2002):
- Afirmar a vida é resguardar a morte como processo natural;
- Não abreviar ou prorrogar a morte;
- Proporcionar alívio da dor e de outros sintomas;
- Integrar os aspectos psicológicos e espirituais dos cuidados ao paciente;
- Oferecer sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver tão ativamente quanto possível até a morte;
- Oferecer sistema de apoio para ajudar a família a lidar com a doença do paciente e com o seu próprio luto;
- Iniciar os cuidados paliativos o mais precocemente possível, junto a outras medidas de prolongamento de vida, como a quimioterapia e a radioterapia, e incluir todas as investigações necessárias para melhor compreensão e manejo dos sintomas.
É marcado pela OMS a importância de acesso aos cuidados paliativos assim que é feito o diagnóstico de uma situação ameaçadora da vida, tornando-se cada vez mais presente com o avançar da doença e a progressão para a fase terminal:
Modelo integrado de tratamento curativo e paliativo para doenças progressivas crônicas. Adaptada de American Thoracic Society 2008.
É muito comum pensar que os cuidados paliativos só estão indicados para pacientes oncológicos, e isso não é verdade! Possui indicação em qualquer condição ameaçadora da vida, tendo benefícios em doenças neurodegenerativas, insuficiência cardíaca avançada, insuficiência renal dialítica, doença pulmonar obstrutiva crônica dependente de oxigênio, neoplasias, entre outras.
Para que tais cuidados sejam realizados de forma otimizada e correta, uma equipe multiprofissional é de suma importância. Nela podemos contar com assistente social, nutricionista, enfermeiro, farmacêutico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, capelão, odontólogo, psicólogo, terapeuta ocupacional e outros.
MODALIDADES DE ATENDIMENTO:
Podemos classificar as modalidades da seguinte forma: ambulatorial, domiciliar (“home care”), hospitalar, “hospice”.
A) Ambulatorial: para pacientes que ainda são capazes de se locomover até clinica/consultório. Familiares e/ou cuidadores auxiliam em tarefas como transporte e higiene, se necessário.
B) Domiciliar (“home care”): limitações secundárias ao evoluir da doença e do indivíduo dificultam a locomoção, porém ainda sem necessidade de regime hospitalar ou institucionalização. Aqui os familiares/cuidadores são responsáveis pelo auxílio parcial ou total nos cuidados do paciente.
C) Hospitalar: indicada em eventos mais agudos, como infecções, sangramentos ou necessidades de cuidados profissional específico diário.
D) “Hospice”: modelo muito comum nos países europeus. Consiste em uma unidade de saúde não hospitalar voltada para cuidados paliativos, ou seja, é uma estrutura física desenvolvida especificamente para receber esse perfil de pacientes. É indicada para pacientes debilitados, dependentes para as atividades diárias, em fase avançada de doenças cronico-degenerativas.
Neste modelo, há duas divisões: o “respite care” e a institucionalização. No primeiro, muito comum em outros países, trata-se uma internação eletiva no objetivo de diminuir o estresse do cuidador perante os desafios diários do cuidado, com duração média de 7-10 dias. A institucionalização consiste em manter o cuidado diário a cargo da equipe de cuidados paliativos daquele local, com incentivo de familiares permanecerem o maior tempo possível.
Pilares da filosofia “hospice”: controle da dor e de outros sintomas; comunicação honesta com familiares e pacientes; qualidade de vida; autonomia do paciente; equipe multiprofissional; princípios bioéticos e ortotanásia;morte como evento natural da vida. Após essa leitura, damos início a uma reflexão d uma “pontinha” de conhecimento sobre cuidados paliativos, algo que já é um realidade na medicina praticada hoje e tende a ganhar cada vez mais espaço e importância. Acompanhe nosso blog, em breve: Cuidados nas últimas 48 horas de vida e Sedação paliativa.