O QUE É?
Bom, resumidamente, a síndrome do desfiladeiro torácico é um grupo de distúrbios ocasionados pela pressão os nervos, de acordo com sua passagem nas estruturas entre o pescoço e o tórax.
E O QUE É O “DESFILADEIRO TORÁCICO”?
O famoso desfiladeiro torácico é um espaço virtual, localizado entre o pescoço e o tórax (abertura superior do tórax, entre o pescoço e o ombro, sob a região superior do tórax e sob a clavícula, progredindo até região axilar), pelo qual passam os principais vasos sanguíneos e nervos dessa região, que irão até os membros superiores. Como há muitas estruturas nesse espaço, os vasos e nervos, que estão presentes aí, podem ser comprimidos entre elas (Ex.: pela costela, clavícula, ou algum grupamento muscular).
QUAIS SÃO AS POSSÍVEIS CAUSAS PARA ESTA SÍNDROME?
Muitas vezes, não conseguimos chegar ao diagnóstico etiológico exato. Pode haver relação com anomalias congênitas do desfiladeiro torácico, lesões de hiperextensão, lesões por estresse repetitivo, compressão externa. No entanto, em algumas ocasiões, pode se identificar alguma causa clara, geralmente alguma anormalidade anatômica como, por exemplo:
– costela supranumerária (pode ser chamada de costela cervical – podendo exercer “pressão”sobre uma artéria, por exemplo);
– costela anormal;
– fratura de clavícula;
– bloqueio de artéria subclávia
QUAL A POPULAÇÃO ALVO DESSA SÍNDROME?
Pode acometer qualquer indivíduo, mas é muito mais comum em mulheres, na faixa etária dos 35 aos 55 anos.
GUILHERME, E O QUE O PACIENTE SENTE?
A síndrome do desfiladeiro torácico é capaz de causar dor e/ou parestesia (o mais comum seria a sensação de “formigamento”), geralmente iniciando no pescoço ou no ombro do lado afetado, irradiando para região medial do braço, podendo chegar ao antebraço e mão, em alguns casos.
Em casos mais extremos, em que a artéria subclávia também se encontra “pressionada”, o paciente pode apresentar edema do membro acometido, além de cianose do mesmo. Há relatos raros de Síndrome de Raynaud associada.
Os sinais/sintomas variam de acordo com a estrutura comprometida. Existem alguns tios da síndrome do desfiladeiro torácico: neurológica, arterial, venosa e neurovascular. Como os próprios nomes já dizem, o quadro apresentado é de acordo com a estrutura afetada. A neurológica (compressão de nervos) é a mais comum, já a arterial é rara, porém a com maior urgência de ser reconhecida pelo risco de isquemia do membro.
OK! ESTOU ENTENDENDO…MAS, COMO CHEGO A ESSE DIAGNÓSTICO?
Para chegarmos ao diagnóstico, temos que ter uma boa anamnese e um bom exame físico (veremos que o exame físico não confirma nem exclui a síndrome, mas pode fornecer dados relevantes para fortalecer a suspeita diagnóstica), as vezes necessitando exames complementares (ex.: radiografia do pescoço, tórax; eletroneuromiografia; ressonância magnética; estudo angiográfico dos vasos dos membros superiores). Portanto, o diagnóstico da síndrome é essencialmente clínico!!!
Anamnese: pesquisar história de trabalhos repetitivos ou atividades/hobbies com movimentos acima do nível da cabeça; dor em membros e áreas adjacentes; parestesias dos braços, mãos, dedos; alterações da circulação dos membros superiores.
Vale a pena também atentar para história de fratura de clavícula; história de cirurgia cardiovascular ou torácica.
EXISTEM FATORES DE RISCO?
Sim! Os mais relacionados são anormalidades ósseas ou da costela cervical, trauma prévio, postura incorreta e atividade repetitiva acima do nível da cabeça.
O QUE PODEMOS PESQUISAR NO EXAME FÍSICO?
Talvez aqui esteja o tópico de maior “charme” desse assunto. Quando, através do nosso exame físico, conseguimos identificar dados que nos ajudam no diagnóstico.
Deve-se estar atento à inspeção, para avaliar biótipo, simetria e desenvolvimento da musculatura, presença de depressões ou abaulamentos supra ou infraclaviculares.
A palpação para se avaliar consistência, testar sensibilidade, mobilização, pulsos. A percussão da fossa supraclavicular é importante para averiguar se esta manobra é capaz de provocar dor (Sinal de Tinel. Isso mesmo, assim como na síndrome do túnel do carpo).
Com o estetoscópio posicionado sobre a clavícula do lado pesquisado, procuramos auscultar ruídos que se assemelhem a sopros (o que demonstraria um fluxo sanguíneo anômalo).
Vale a pena destacarmos algumas manobras:
– Manobra dos escalenos (Adson): tem como intuito elevar a primeira costela e tensionar os escalenos, reduzindo o diâmetro do triângulo intercostoescalênico. Deve ser realizada com uma inspiração profunda do paciente, estender o pescoço e virar o queixo para o lado examinado. Caso o pulso diminua ou desapareça, o teste é considerado positivo. Na fossa supraclavicular, podemos auscultar um sopro. No entanto, é uma manobra não muito específica, ou seja, até indivíduos normais podem apresentar positividade deste teste.
– Manobra costoclavicular: solicitamos que o paciente coloque os ombros para trás e os abaixe, imitando uma posição “militar exagerada”, o que diminui o espaço costoclavicular. O sinal é positivo se houver as mesmas alterações descritas anteriormente.
– Manobra da hiperabdução (Wright): elevação de 180º do membro com rotação posterior do ombro. Reprodução de sintomas, diminuição ou desaparecimento do pulso e/ou ausculta de sopro podem indicar a compressão arterial pelo tendão do músculo peitoral menor.
– Teste dos três minutos de estresse com o braço elevado: considerado o teste mais acurado para a pesquisa de síndrome do desfiladeiro torácico. Consiste na abdução dos braços, em associação com rotação externa e flexão de 90º dos cotovelos. Durante três minutos, o paciente deve ficar abrindo e fechando as mãos. Reprodução de sintomas, parestesia, incapacidade de continuar o movimento são consideradas respostas positivas. Indivíduos normais podem cansar de realizar o movimento, mas é raro que apresentem parestesia ou dor dos membros.
E O TRATAMENTO?
O tratamento é baseado em abordagem multidisciplinar com fisioterapia motora e de reabilitação, prescrição de exercícios específicos, analgesia com anti inflamatórios não esteroidais e antidepressivos. Em casos extremos, abordagem cirúrgica.