Que o consumo de tabaco é fator de risco para mais de 50 doenças, dentre vários tipos de câncer e doenças cardiovasculares, todos já sabem. Mas você conhece todas as formas em que o tabaco pode ser consumido?
O mercado do tabaco é extremamente regulado no Brasil e no mundo, porém também é lucrativo e para isso as indústrias encontraram vários mecanismos para conseguir continuar lucrando. É a partir disso que surgiram as outras formas de consumo de tabaco.
Mas porque devemos falar sobre outras formas de tabaco?
De acordo com dados do CDC americano a última pesquisa Nacional sobre consumo de Tabaco (National Adult Tobacco Survey – NATS) realizado entre 2013 e 2014, de todo o consumo de tabaco, 15% corresponde a outras formas de tabaco que não o cigarro, como mostra o gráfico abaixo:
E segundo a mesma pesquisa, ao se comparar o consumo de tabaco por faixa etária pode-se observar que as populações mais jovens consomem formas de tabaco mais variadas, como observado no gráfico abaixo:
Dessa forma, podemos concluir que o consumo de outras formas de tabaco é expressivo e precisamos conhecê-las para orientar e tratar as pessoas dependentes de cigarro.
Quais são as outras formas de tabaco?
As formas de tabaco que existem para consumo no mercado podem ser divididas em dois grupos: smokeless tobacco, ou tabaco sem fumaça, em tradução literal, e smoke tabacco, tabaco fumado em tradução literal. Vamos agora conhecer um pouco sobre isso tudo.
1 – Smokeless Tobacco ou tabaco sem fumaça
É o tabaco que é consumido sem passar pelo processo de combustão, logo, não produz fumaça. Este tipo de tabaco pode ser aspirado, mascado ou usado na forma de sachês. Muitos apresentam sabores associados, como menta ou morango.
Exemplos de tabaco sem fumaça são:
- Rapé, que é o tabaco consumido
mascado ou aspirado, principalmente por populações indígenas;
- Snus, um tabaco em forma de sachê que é colocado entre as gengivas e a bochecha e é deixado para ser absorvido.
MITO: Já que não é queimado o tabaco mascado ou aspirado não causa malefícios à saúde, muito menos câncer!
Pois essas formas de tabaco além de conterem nicotina, que é altamente aditiva, podendo gerar a dependência à nicotina e consequentemente ao cigarro, apresentam também diversas substâncias cancerígenas, tais quais:
- Nitrosaminas, a mais prejudicial, presente em todos os produtos derivados do tabaco;
- Polonium-210 usado no fertilizante do tabaco;
- Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, produzidos quando o tabaco é curado;
- Metais pesados, tais quais, arsênico, berílio, cádmio, cromo, cobalto, chumbo, níquel, mercúrio.
Por conta disso, o tabaco sem fumaça pode sim causar maléficios a saúde, principalmente causar doenças da cavidade oral, como formação de leucoplasia, lesão pré-cancerígena, cárie e perda dentária. É também prejudicial a saúde reprodutiva e fetal, causando abortos e natimortos. E está associado ao risco aumentado de doenças cardiovasculares e AVC, além de apresentar toxicidade à crianças.
2 – Cigarrilha e Charuto
É qualquer rolo de tabaco envolvido por folhas ou outra substância que contém tabaco e não possuem filtro. A maioria dos charutos contém mais nicotina do que a soma de muitos cigarros (1-2 mg de nicotina no cigarro e 100-400 mg de nicotina no charuto, com até 17 g de tabaco).
MITO: Como não se traga a fumaça do charuto, é mais seguro fumar charuto do que fumar o cigarro tradicional!
A fumaça do charuto apresenta um pH crescente, podendo chegar a pH 8. Com isso, na fumaça há nicotina não-protonada, ou “livre”, facilmente absorvida pela mucosa jugal e que rapidamente atinge o SNC, por isso a fumaça do charuto não precisa ser tragada para a absorção da nicotina e, assim, promover a sensação de recompensa gerada pela nicotina.
A composição desses produtos difere do cigarro tradicional pelo tempo de envelhecimento do tabaco e do processo de fermentação. Assim, as cigarrilhas e charutos apresentam:
- Nitrito em maior quantidade, formando os derivados das N-nitrosaminas; apresentam mais Nitrosaminas não voláteis e N-nitrosaminas específicas do tabaco, em comparação ao cigarro convencional.
- Alcatrão em maior quantidade e, assim, o monóxido de carbono e a amônia são produzidos em quantidades maiores na queima de charutos.
A diferença da exposição à fumaça aos diferentes tecidos explica o diferente padrão de mortalidade entre fumantes de charutos e de cigarros. Assim, esses produtos apresentam risco aumentado para câncer da cavidade oral (lábios, língua, boca e garganta), laringe e esôfago em comparação com fumantes apenas de cigarro. Ainda não há estudos relacionando eventos cardiovasculares ao consumo de charutos.
3 – Cachimbo
Esta forma de consumo de tabaco apresenta queda da prevalência. Atualmente, nos EUA a prevalência é menor que 1% e geralmente está associada a homens idosos, que adquiriram o hábito de fumar pelo cachimbo. É a forma mais irritativa de consumo do tabaco. O cachimbo representa um aumento de 30% de risco para doença cardíaca e para DPOC, além de existir uma relação causal entre fumar cachimbo e o aumento da mortalidade por câncer de pulmão, laringe, esôfago e orofaringe.
4- Narguilé ou Shisha
Conhecido por vários nomes, o Narguilé surgiu há séculos atrás na Pérsia antiga e na Índia. Atualmente o consumo de tabaco através do Narguilé vem aumentando na população jovem, principalmente acompanhado da abertura de cafés próprios para o consumo da shisha ou narguilé.
Em alguns lugares do mundo o consumo do Narguilé é maior do que o consumo do cigarro em si, principalmente, entre os jovens de 18 a 24 anos. Isso porque a shisha geralmente é misturada com essências ou sabores, fazendo com que o uso do narguilé seja mais prazeroso do que o cigarro. Além disso, na maioria das vezes, é utilizado em grupo, sendo uma atividade social entre amigos e conhecidos.
MITO: A ÁGUA FILTRA A FUMAÇA, PORTANTO, É “FUMAR” NARGUILÉ!
A composição do tabaco consumido desta maneira não é padronizada, portanto estima-se que a quantidade de nicotina é de 2- 4%, enquanto no tabaco para o fumo a quantidade é estimada em 1-3%.
Em geral, ao fumar um cigarro uma pessoa inala cerca de 0,5L de fumaça (45mL, 8 a 12 baforadas por cigarro, que dura de 5 a 7minutos), enquanto uma sessão de Narguilé pode chegar a 50L de fumaça (45mL, 50 a 200 baforadas, que dura de 20 a 80 minutos). Ou seja, o equivalente a 100 cigarros por sessão.
A água pouco absorve a nicotina, logo a nicotina está presente, assim o consumo de narguilé pode levar a dependência dessa substância e consequentemente ao cigarro. O carvão utilizado para a queima produz CO, metais e substâncias cancerígenas.
A “shisha” apresenta risco a saúde pois contém substâncias que podem causar trombose e doenças coronarianas. Assim, pessoas que usam o Narguilé estão correndo risco de desenvolverem as mesmas doenças que tabagistas, como diversos cânceres, DPOC e infertilidade. Além disso, fumar shisha durante a gestação pode causar CIUr, e doenças respiratórias no neonato.
O uso de narguilé pode apresentar riscos a pessoas não fumantes, pelo tabagismo passivo tanto da fumaça produzida pelo fumo quanto da queima do carvão.
Existe a comercialização de essências adocicadas e flavorizadas sem a presença da nicotina. Apesar das propagandas destes produtos afirmarem que é possível consumi-los sem os prejuízos do tabaco, estudos mostram que a queima desses materiais leva a produção de agentes tóxicos, como o CO, conhecidos por causarem doenças relacionadas ao tabagismo.
Existem informações erradas no artigo, não existe “fumaça” no narguile, é vapor, e o narguile equivale a 100 cigarros em volume de “fumaça” “vapor”, porem nao significa que um volume maior faz mais mal, pois são substancias e maneiras diferentes de se “fumar”.
Olá, muito obrigado pelos comentários.
Apesar dos usuários do Narguilê falarem em vapor, entendemos que esse termo deva ser usado para forma gasosa de algumas substâncias, como por exemplo a água. No caso do Narguilê optamos pelo termo “fumaça” pela presença de várias outras substancias presentes no inalado, aliás esse é o termo usado também pelo INCA e pela OMS.
Sobre os malefícios do Narguilê eu recomendo a leitura da Nota técnica do Grupo de Estudo da OMS sobre a Regulação de Produtos de Tabaco (TobReg) publicado Instituto Nacional do Cancêr (INCA): https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/161991/9789241508469-por.pdf. A presença de substâncias inaladas, como Alcatrão, Monóxido de Carbono, Chumbo, Formaldeído e Acroleína são dezenas de vezes maior no Narguilê que em um cigarro convencional.