Aqui, vamos falar dos sintomas de hipertireoidismo, mas também temos um outro artigo sobre com os seus sinais.
A tireoide é uma glândula importantíssima em nosso organismo, a qual produz hormônios que desempenham muitas funções essenciais. Está localizada na região cervical anterior, abaixo do Pomo de Adão, conhecido popularmente como “gogó. A glândula possui “forma de borboleta”, devido aos seus dois lobos: esquerdo e direito. Esses lobos são unidos por uma parte central conhecida como istmo da glândula.
A glândula tireoide possui células foliculares, que são as células que fazem secreção de dois hormônios importantíssimos, o T3 (triiodotironina) e T4 (tetraiodotironina ou tiroxina). A importância desses hormônios em nosso organismo é enorme, pois suas funções atuam na atividade de vários outros órgãos como coração, cérebro, rins e fígado.
Essa atividade endócrina é estimulada e regulada pelo eixo hipotálamo-hipofisário, onde o hipotálamo secreta TRH (Hormônio Liberador de Tireotrofina), que estimula a hipófise a secretar TSH (Hormônio Estimulador da Tireoide ou tireoestimulante ou tireotrofina), que, então, atua na tireóide, que produz o T3 e T4.
E agora vamos ao tema de hoje. Para começar, o que é o hipertireoidismo? Pela palavra, já conseguimos deduzir que se trata de um aumento (hiper) da atividade da tireóide. Esse aumento é detectado pelo aumento dos hormônios T3 e T4. E é esse aumento hormonal que vai provocar o hipertireoidismo.
Diversas são as causas que podem provocar o hipertireoidismo. Pode ocorrer por uma alteração no eixo hipotálamo – hipofisário (um descontrole na regulação levando ao aumento de TRH ou TSH, respectivamente, e com isso uma hiperestimulação da tireoide). Pode ocorrer também por alterações no tecido da própria glândula tireoide. Doenças autoimunes (Ex: Doença de Basedow – Graves, uma das principais causas de hipertireoidismo, na qual o sistema imunológico produz autoanticorpos que fazem o mesmo papel que o TSH faria: ligar-se aos receptores das células foliculares e estimulá-las a produzir T3 e T4). Ou pode ocorrer até mesmo por iatrogenia, como o uso de medicamentos a base de hormônios tireoidianos. Portanto, você deve perguntar se o paciente faz uso de medicamentos, e quais medicamentos são esses. Enfim, diversas são as causas, e há em comum entre elas o aumento excessivo dos hormônios da tireoide que provocam tantos efeitos no organismo, como veremos a seguir.
O hipertireoidismo traz uma série de sinais e sintomas que serão detectados no paciente. Vamos falar agora sobre os sintomas. Você sabe diferenciar sinais de sintomas? São coisas diferentes. Sinais, em semiologia, é aquilo que você consegue perceber sem que o paciente te relate, ou seja, é aquilo que você vê, ausculta, palpa, ou seja, são informações que você consegue por meio do exame físico. Já os sintomas é algo muito subjetivo, pois é aquilo que o paciente te conta, é a queixa dele, tudo o que ele sente. Por isso é muito subjetivo, pois a forma como ele interpreta esses sintomas é muito individual. Um exemplo disso é a dor. A percepção da dor é completamente diferente de indivíduo para indivíduo, pois varia conforme a interpretação e a sensação dele.
Os sintomas do hipertireoidismo, como vamos ver, afetam diversos sistemas e órgãos, justamente pelo fato de que os hormônios tireoidianos influenciam em muitos locais de nosso organismo, assim as alterações hormonais vão provocar alterações nesses locais.
No hipertireoidismo, os hormônios (T3 e T4) estão aumentados, e uma vez que são hormônios que aumentam a atividade em geral, provocam uma “aceleração” do organismo.
Logo, nota-se a perda de peso corporal que ocorre devido ao aumento acentuado do metabolismo de lipídeos e metabolismo proteico, principalmente. Mas ao contrário do que poderíamos imaginar, o paciente com hipertireoidismo tem um acentuado emagrecimento, porém tem aumento do apetite, conhecido como polifagia. Assim, durante a anamnese, o emagrecimento será uma queixa importante, ou talvez uma das principais que o paciente vai relatar, até por não entender o motivo pelo qual ele come (em quantidades maiores do que era o “normal” pra ele) e tem perdido tanto peso. Você, portanto, já entendeu o motivo pelo qual isso acontecer, certo? Simplesmente as taxas de catabolismo dele estão exacerbadas.
Uma outra queixa importante, que você deve se atentar, é quando o paciente relata altas temperaturas, muito calor, e a intolerância que ele tem a esse calor. Isso ocorre devido ao aumento do metabolismo basal, que aumenta o uso de energia (ATP), e provoca esse efeito termogênico. Junto do calor, vem a sudorese excessiva. Os vasos sanguíneos se dilatam na tentativa de dissipar o aumento da temperatura interna, e o que acontece é que esse calor é dissipado para a pele, que então “esquenta”, provocando essa intolerância ao calor e há também a sudorese.
Toda essa “aceleração” do organismo também provoca efeitos no sistema nervoso central, e o paciente pode relatar irritabilidade, ansiedade e insônia. Como o nome sugere, o paciente fica “hiperativado”.
No sistema digestivo, uma queixa frequente no hipertireoidismo é o aumento da motilidade intestinal, provocando quadros diarreicos. Isso ocorre, pois, os hormônios da tireoide atuam no sistema digestório, gerando o aumento da vontade de comer e estimulando a motilidade do trato gastrointestinal, porém quando estão em excesso, causa a polifagia, e a diarreia (pelo aumento excessivo da motilidade intestinal). “O que o paciente pode relatar?” Que evacua várias vezes ao dia, tem tido diarreias frequentes, que ele percebeu alterações no intestino, pois antes não era assim. Lembre-se que, no momento da anamnese, você deve extrair da entrevista clínica o máximo de informações que lhe serão necessárias para o raciocínio clínico. Então, se ele fala sobre as diarreias, você deve caracterizá-la ao máximo, buscando saber quantas vezes ao dia, o aspecto da diarreia, odor, há quanto tempo começou, se tem algo que desencadeia essa diarreia e etc.
O paciente pode vir com queixas de aceleração do coração, pois a atividade adrenérgica está exacerbada, aumentando a atividade cardíaca.
Queixas que podem surgir, em pacientes mulheres, são irregularidades menstruais, e uma delas são as oligomenorreias. “O que é isso?” São ciclos menstruais em uma frequência anormal, em períodos muito longos. Exemplificando, a mulher menstrua em intervalos maiores que 35 dias, sendo o ciclo normal entre 28-35 dias, significa que essa mulher está menstruando menos do que deveria, em relação ao tempo. Mas essa não é a única irregularidade. A mulher pode desenvolver também amenorreias secundárias, ou seja, ausência de menstruação devido a um problema de base que, no caso, é o hipertireoidismo. Percebe-se, então, que em relação ao sistema reprodutor feminino, as alterações oscilam, não trazendo informações decisivas à sua hipótese diagnóstica. Decorrente das irregularidades menstruais, a paciente pode cursar com infertilidade, pois o ciclo ovariano e uterino encontram-se alterados. Dessa forma, ela pode relatar na consulta que tenta engravidar há mais de 12 meses (tendo relações sexuais desprotegidas, sem contraceptivos), e não alcança o objetivo. Mas nem sempre a paciente vai relatar isso, por talvez não achar que tenha alguma relação com todos os outros sintomas que ela apresenta, mas é algo que você deve indagar durante a anamnese.
Outra queixa que pode aparecer na consulta, e que é maior entre mulheres, é o enfraquecimento dos cabelos. Mulheres logo percebem isso. O cabelo torna-se enfraquecido e quebradiço, e sendo algo que afeta muito as mulheres por questões de vaidade, é uma queixa frequente.
Portanto, vemos que os sintomas que podem aparecer em um paciente com hipertireoidismo são variados, e afetam diversos sistemas e órgãos do nosso organismo. Durante o exame clínico, em especial na anamnese, que é o momento em ouvimos o que o paciente tem a falar. Uma vez conhecendo os diversos sintomas que são reflexos do hipertireoidismo, você deve estar atento para colher bem as informações. E, a partir delas, conseguir chegar ao diagnóstico, pois se você não conhece ou não compreende tais sintomas, você pode acabar passando por eles sem perceber, ou associá-los erroneamente à outra patologia. E, assim, postergar um diagnóstico correto e o tratamento adequado ao paciente.
Então, bons estudos! Abraços!
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