Aqui, vamos falar dos sinais de hipertireoidismo, mas também temos um outro artigo sobre com os seus sintomas.
Quem nunca ouviu falar na glândula tireoide? Muitas vezes, ela é lembrada apenas em situações de disfunções. O motivo da tireoide ser tão lembrada, quando sua atividade se encontra alterada, se dá ao fato de que suas ações são muito importantes ao nosso organismo e normalmente tudo “funciona” perfeitamente. Mas, uma vez que as suas ações e efeitos começam a sofrer alterações, é que surge o grande problema, pois todo o corpo sofre esse disfunção e o paciente percebe que algo está “errado”.
“Onde a tireoide se localiza?”
Ela está localizada no pescoço, na região anterior, abaixo do Pomo de Adão, conhecido popularmente como “gogó. A glândula possui “forma de borboleta”, devido aos seus dois lobos: esquerdo e direito. Esses lobos são unidos por uma parte central conhecida como istmo da tireoide.
A glândula tireoide possui, dentre suas células, as células foliculares, que são as células que fazem a secreção de dois hormônios importantíssimos, o T3 (triiodotironina) e T4 (tetraiodotironina ou tiroxina). A importância desses hormônios em nosso organismo é enorme, pois suas funções atuam na atividade de vários outros órgãos como coração, cérebro, rins e fígado.
Essa atividade endócrina é estimulada e regulada pelo eixo hipotálamo – hipofisário, onde o hipotálamo secreta TRH (Hormônio Liberador de Tireotrofina), que estimula a porção anterior da hipófise a secretar TSH (Hormônio Estimulador da Tireoide ou tireoestimulante ou tireotrofina), que, então, atua nas células foliculares da tireoide, que produz o T3 e T4.
Em condições normais, a ação dos hormônios da tireoide é fundamental, mas, em excesso, eles se tornam patológicos, e o paciente desenvolve a condição clínica conhecida como hipertireoidismo. No hipertireoidismo, a tireoide se torna hiperativa. Dessa forma, secreta quantidades hormonais muito maiores do que deveria.
Mas por que isso acontece?
Diversas são as causas que podem provocar o hipertireoidismo. Pode ocorrer por uma alteração no eixo hipotálamo – hipofisário (um descontrole na regulação levando ao aumento de TRH ou TSH, respectivamente, e com isso uma hiperestimulação da tireoide; ou ainda um adenoma hipofisário hipersecretante que aumente a secreção de TSH). Pode ocorrer também por alterações no tecido da própria glândula tireoide, um exemplo é um adenoma secretor na tireoide, como ocorre na Doença de Plummer. Doenças autoimunes, como por exemplo a Doença de Basedow – Graves, uma das principais causas de hipertireoidismo, na qual o sistema imunológico produz autoanticorpos que fazem o mesmo papel que o TSH faria: ligar-se aos receptores das células foliculares e estimulá-las a produzir T3 e T4). Produção ectópica também pode ocorrer, como em teratomas (tumor de células germinativas que tem a capacidade de desenvolver diversos tecidos, e um deles pode ser o tecido tireoidiano, que então passa a produzir indevidamente o T3 e o T4). Ou pode ocorrer até mesmo por iatrogenia, como o uso indevido de medicamentos a base de hormônios tireoidianos, e um exemplo disso são remédios para emagrecer, pois como os hormônios aumentam a taxa de metabolismo basal, estimulam o emagrecimento. Entretanto, esse emagrecimento é patológico, até mesmo porque ele não vem sozinho, ao contrário, ele vem acompanhado de uma série de outros sinais e sintomas, e que podem ser de alta gravidade.
Como dito anteriormente, o hipertireoidismo traz uma série de sinais e sintomas que serão detectados no paciente. Hoje, vamos falar sobre os sinais. Em semiologia, os sinais é tudo aquilo que você consegue perceber sem que o paciente te relate, ou seja, é aquilo que você vê, ausculta, palpa, ou seja, são informações que você consegue por meio do exame físico, principalmente.
Desde a entrada do paciente no consultório, você já inicia a ectoscopia, que é a avaliação global do paciente, sem perguntar nada, pois independe da queixa, você simplesmente o observa. Observa o corpo como um todo, a face, o comportamento do paciente durante a consulta, a coloração, hidratação, higiene, e etc. “Qual o motivo de tal observação? Simplesmente, nessa observação, você já pode perceber características físicas e comportamentais importantes para o diagnóstico de hipertireoidismo.
Ao observar a pele de um paciente com hipertireoidismo, você pode perceber que é uma pele fina e lisa. O aumento do metabolismo basal e consumo energético gera um efeito termogênico, e assim ao toque, a pele é quente e com sudorese excessiva, pois o organismo tenta dissipar a temperatura fazendo vasodilatação. O hipertireoidismo pode vir associado ao vitiligo (uma doença crônica, onde há despigmentação da pele, provocando manchas brancas). Então, se um paciente chega ao consultório com queixas relacionadas ao hipertireoidismo, e você o observa e percebe a presença de vitiligo, é uma boa pista para o diagnóstico de hipertireoidismo.
As unhas também sofrem alteração pelo aumento de T3 e T4. Ao observá-las, nota-se o descolamento da unha na porção distal. Tornam-se também mais fracas, pois há redução de sua espessura.
Tanto a pele quanto as unhas você pode avaliar facilmente, observando e tocando a mão do paciente.
Um outro aparelho acometido pelo hipertireoidismo é o aparelho cardiovascular. O paciente pode chegar e dizer que tem a sensação que o coração está batendo muito rápido, e então você deve pesquisar durante o exame físico. O indivíduo com hipertireoidismo cursa com taquicardia (aumento da frequência cardíaca a mais de 100 batimentos por minuto, sendo que a faixa de normalidade é de 60 a 100 batimentos por minuto). Dessa forma, durante a consulta, no momento em que você avalia os sinais vitais, em especial a frequência cardíaca, é comum tal achado. Isso porque os hormônios tireoidianos aumentam a atividade adrenérgica. Mas a taquicardia não é o único achado no exame físico do aparelho cardiovascular.
Pode haver também fibrilação atrial (uma arritmia, onde os átrios se contraem de forma dessincronizada, e “fibrilam”, prejudicando a contração atrial), que pode ser percebida pela tomada do pulso, que estará muito irregular. Esse é um achado importante, e que muitas vezes você encontrará no exame físico, mas não espere o paciente se queixar de palpitação, tontura ou desmaio, pois muitas vezes o paciente com fibrilação atrial é assintomático.
Neste sistema, há também aumento da pressão arterial sistêmica. Lembra que eu disse que os hormônios produzidos pela tireoide aumentam o efeito adrenérgico? Pois é! A atividade adrenérgica aumenta o inotropismo cardíaco, aumentando a força de contração, e há também aumento do débito cardíaco. E é isso que promove o aumento da pressão arterial sistêmica, que é um outro sinal que você pode encontrar.
Como o hipertireoidismo leva à hiperatividade, durante a consulta você pode notar o paciente com tremor nas mãos, e em outras extremidades. Ele se encontra desinquieto, agitado, ansioso, tudo isso são sinais. Essa hiperatividade, que afeta o sistema nervoso como um todo, também provoca aumento de reflexos, que você pode notar examinando a língua e as pálpebras, ou seja, o paciente tem hiperreflexia.
E quando o paciente tem hipertireoidismo, devido à Doença de Basedow Graves, ele apresenta exolftalmia, que pode ser uni ou bilateral. Em outras palavras, o paciente fica com os olhos “esbugalhados”. Ao olhar o paciente, você já percebe a alteração. Há protusão do globo ocular, pela ação dos autoanticorpos, que promovem aumento da deposição de matriz extracelular na região periorbital e isso provoca a oftalmopatia. Além da protusão, pode haver hiperemia da conjuntiva ocular. Não se confunda, esse sinal da exoftalmia não está presente em todos os pacientes com hipertireoidismo, ele estará presente quando a causa do hipertireoidismo for a doença de Graves!!
E algo que você não pode deixar de fazer no exame físico, principalmente quando o paciente apresenta queixas relacionadas ao hipertireoidismo, é o exame da tireoide. Inspeção, palpação e ausculta. Logo na inspeção, em um paciente com hipertireoidismo, você pode notar o aumento da tireoide, conhecido como bócio. E isso não pode ser deixado de lado, pois o bócio pode ser um sinal que a glândula está sendo hiperestimulada e está aumentando seu volume, e no caso do hipertireoidismo, além do volume, está aumentando também a sua produção hormonal. O bócio pode estar presente, por exemplo, na doença de Graves.
Portanto, os sinais do hipertireoidismo são muitos, e juntamente da história relatada, dos sintomas que o paciente apresenta, você deve suspeitar de hipertireoidismo. Lembrando que em mulheres a prevalência é maior.
Faça uma boa anamnese (pois as informações do paciente são valiosíssimas), faça um bom exame físico (pois nele você pode perceber e sentir muitos sinais importantes ao diagnóstico). Esses dois pilares são fundamentais a atuação médica, ao raciocínio clínico e à “consequência” de tudo isso que é o diagnóstico final e o adequado tratamento.
Bons estudos e até a próxima!!
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