Fala galera!! Mais um dia e mais uma dica! Eu não sei como foi essa experiência para vocês, mas eu lembro muito bem a minha. Meu quarto dia no estágio, fui passar o laboratório para o prontuário, quando me deparei com um potássio de 3,2. Meus olhos brilharam, ajoelhei e agradeci a DEUS!!! Ué seu psicopata, você queria que o paciente tivesse hipocalemia? Não, é porque, finalmente, eu sabia o que escrever na conduta: Repor potássio.
Tudo bem, tudo ótimo, até que chegamos ao round e meu rotina faz a fatídica pergunta: colocou a reposição na prescrição? Nesse momento, minha sinapse travou. Ah, faz isso comigo não, já fiz o diagnóstico (olhei um número, que dificuldade hein), não sei repor. Com um sorriso no rosto, como se incorporando um espírito, o staff fala é fácil, faz assim:
Diante disso, ou eu respondia que não tinha entendido e recebia um caloroso esporro ou eu acenava e sorria, acenava e sorria, esperando a hora do round terminar para perguntar para alguma outra alma bondosa como fazia a bendita reposição.
Então, você já passou por isso ou continua passando?
- Não, só você que é azarado mesmo.
- Sim, me ajuda.
Se você faz parte do segundo grupo, então vem comigo! Caso contrário, vem também, afinal, existem várias maneiras de repor potássio, de repente, te mostro uma nova!
Po, Gabriel, tudo isso só para me ensinar a repor potássio? Calma, jovem, tá achando que aqui é assim? Nem chama pra sair e já quer que eu me abra assim?
Beleza, chega de conversa mole, partiu aprender.
Reposição de Potássio:
Antes de começar a repor, precisamos responder duas perguntas:
- Esse hipocalemia é por redistribuição?
- Tem hipomagnesemia associada?
Se a resposta for positiva para apenas a primeira pergunta, então devemos ter muita atenção. Gabriel, como assim por redistribuição? Isso se dá quando o paciente tem um nível corporal total de potássio normal, mas está distribuído de maneira a estar, em sua maioria, concentrado no meio intracelular. Logo, se você repor potássio e o paciente tiver sua causa de redistribuição resolvida, o risco de hipercalemia de rebote é grande, e o resultado podem ser arritmias ventriculares fatais, logo, ATENÇÃO! Mas, quando eu vou pensar nisso?
Um exemplo clássico, é o paciente com altos níveis de epinefrina, que tem propriedade beta-2-agonista, levando a uma entrada importante de potássio para dentro da célula. Ou um paciente que tenha recebido uma glicoinsulinoterapia em excesso, resolvendo a hipercalemia, mas criando uma hipocalemia por redistribuição.
Tá, entendi, mas eu faço o que então? Infelizmente não tem resposta exata, isso deve ser individualizado de acordo com a causa da possível redistribuição.
Certo, mas e se eu não tiver uma hipocalemia por redistribuição, o que que o magnésio baixo tem a ver com isso? Tudo! O magnésio inibe o canal de potássio no néfron distal, se não temos magnésio, o potássio sairá pelo canal em direção a urina, causando, portanto hipocalemia. Então, sempre que você tiver uma hipocalemia refratária ao tratamento, olhe para o magnésio e se o mesmo estiver baixo, você acabou de encontrar o motivo da refratariedade.
Com essas perguntas ambas com respostas negativas, podemos seguir para a reposição, propriamente dita:
Primeiro precisamos determinar a gravidade da hipocalemia:
- Leve a moderada 3.0-3.4 mEq por L
- Grave < 2,5-3,0 mEq por L ou sintomática
Elementar, meu caro Gabriel, a número 1 eu faço via oral e a número 2 via intravenosa. Boa! Agora eu sei que meu artigo vai ajudar, afinal o que você falou está errado. Então, vamos lá, fica calmo e presta atenção:
Temos várias preparações de potássio e podemos escolher uma ou outra a depender do contexto clínico.
No caso de uma hipocalemia leve a moderada:
Xarope de cloreto de potássio a 6% – 900mg de potássio para 15ml de solução -> 15 ml via oral até 4 vezes ao dia.
OU
Cloreto de potássio: 600mg cada comprimido, podendo ser administrado de 1-2 cps em até 4 vezes ao dia
Observação: Se o paciente estiver com sonda nasoenteral, não usar o comprimido, pois o mesmo, se triturado perde sua eficácia. Preferir o xarope, nessas situações. E é sempre bom avisar que o gosto pode não ser tão bom, digamos assim.
Hipocalemia grave, sintomática ou incapacitada de usar via oral-enteral:
Se puder usar a via oral-enteral use! Associando a uma das seguintes formas de reposição venosa:
Cloreto de potássio a 10% (10 ml de KCl + 490 ml SF 0,9%) IV em 1 hora, se veia periférica
OU
Cloreto de potássio a 10% (20 ml KCl + 480 ml SF 0,9%) IV em 1 hora, se veia central
Importante: Não esqueça de que reposição de potássio pode ser altamente irritante a veia, causando flebite. Para evitar isso, recomendamos que a velocidade de infusão não passe de 20 mEq por hora, se o acesso for periférico! Da mesma forma, devemos restringir a concentração a 40 mEq por litro, se periférico e até 60, se acesso profundo.
Pronto, agora vocês já sabem repor potássio. Acabou¿ Claro que não. Você vai repor e não vai checar se sua reposição foi efetiva¿ Esqueceu né¿ Vem comigo!
Monitorizando os efeitos da hipocalemia e a reposição:
Devemos manter o paciente monitorizado com eletrocardiograma continuo e checando o potássio sérico de 2 a 4 horas para assegurar a resposta terapêutica. Quando chegar a um nível de pelo menos 3,0 mEq por L e com o paciente assintomático podemos trocar o tratamento do paciente para aquele que é feito no indivíduo com hipocalemia leve a moderada.
Agora sim! Vocês podem dizer que sabem repor potássio. Ah, Gabriel, mas então eu tenho que decorar isso? Sim e não. Você pode entender isso, assistindo nosso curso de nefrologia que descreve, perfeitamente, como chegamos a essas soluções, mas com o tempo isso se torna medular. Em geral, as aulas versam sobre como chegar a solução, mas não dizem como é na vida real. Meu objetivo aqui foi trazer opções rápidas para que vocês possam usar na vida prática.
Bom, espero que tenham gostado e fiquem ligados para as próximas dicas!