Novos antibióticos:
Quando Alexander Fleming descobriu que uma substância produzida por um fungo era capaz de matar bactérias, em 1928, o mundo vibrou com a ideia de uma sociedade livre de doenças infecciosas. No entanto, a alegria não durou muito, pois, cada vez mais, eram descobertas bactérias resistentes aos fármacos primitivos. Desde então a humanidade vive uma corrida armamentista à busca do desenvolvimento de Novos antibióticos capazes de conter os microrganismos progressivamente resistentes. Vamos dar uma olhada, então, em alguns dos mais modernos antibióticos, alguns já disponíveis no Brasil, e nas infecções que se propõem a tratar.
Plazomicina
A plazomicina é um aminoglicosídeo semissintético aprovado pelo FDA em Junho de 2018 para o tratamento de infecções do trato urinário (ITU) complicadas. Dentre essas, pielonefrite, por bacilos gram negativos (BGN), como Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae e Proteus mirabilis. O fármaco também é eficaz contra as enterobactérias produtoras de β-lactamases de espectro estendido (ESBL), de carbapenemases (ERC, como KPC) e de metalo-β-lactamases (MBL), que são extremamente difíceis de tratar. Isto por superar alguns mecanismos de resistência que inativam outros antibióticos.
A plazomicina não é eficaz contra BGN não fermentadores, como Acinetobacter baumannii e Stenotrophomonas maltophilia. Sua eficácia contra Pseudomonas aeruginosa é variável.
Eravaciclina
A eravaciclina é uma tetraciclina sintética aprovada pelo FDA para infecções intra-abdominais complicadas. Seu espectro de ação é semelhante ao da tigeciclina, englobando gram-positivos, inclusive os resistentes (MRSA); enterobactérias, as produtoras de ESBL, KPC e MBL; anaeróbios; e A. baumannii e S. maltophilia. Assim como a tigeciclina, não apresenta atividade contra Pseudomonas aeruginosa e Proteus vulgaris.
A plazomicina e a eravaciclina ainda não foram liberadas para uso no Brasil, pois são muito recentes.
Tedizolida
A tedizolida é o segundo representante da classe das oxazolidinonas, à qual também pertence a linezolida. Ela tem atividade bacteriostática contra cocos gram positivos, incluindo MRSA, VRSA e VRE (enterococos resistentes à vancomicina). Estes são um grande desafio terapêutico, devido à escassez de drogas eficazes disponíveis. Além disso, ela também apresenta atividade contra anaeróbios gram positivos, porém é ineficaz contra todos os gram negativos, assim como a linezolida.
Dalbavancina
A dalbavancina é um glicopeptídeo, classe à qual também pertencem a vancomicina e a teicoplanina. Assim como essas outras drogas, a dalbavancina é específica para germes gram positivos, cobrindo MRSA e alguns enterococos, porém não os VRE. Ela não apresenta qualquer atividade contra gram negativos. Ainda não há dados suficientes para determinar sua penetração pela barreira hematoencefálica (BHE). Lembre-se que essa é a principal diferença entre a vancomicina, que penetra, e a teicoplanina, que não penetra a BHE.
Tanto a tedizolida quanto a dalbavancina já são disponíveis no Brasil.
Fidaxomicina
A fidaxomicina é um macrolídeo oral destinado especificamente ao tratamento das infecções moderadas ou severas por Clostridium difficille, causador da colite pseudomembranosa. As vantagens da fidaxomicina em relação à vancomicina e ao metronidazol, as outras duas drogas já usadas contra o C. difficille, parecem ser menor absorção sistêmica, alta concentração na luz intestinal e mínima atividade contra a flora bacteriana residente. Estudos têm apontado maior taxa de cura e menor recorrência da doença com o uso da fidaxomicina em comparação com a vancomicina. Seu uso já está aprovado pela ANVISA desde 2014.
Ceftolozana-Tazobactam
A ceftolozana-tazobactam consiste na combinação de uma cefalosporina avançada com um inibidor da β-lactamase. Ele está indicado para tratamento de ITU complicada e infecção intra abdominal. Muitas vezes é combinado com metronidazol para ampliar o espectro contra anaeróbios. Seu espectro de ação cobre estreptococos, enterobactérias, inclusive as produtoras de ESBL, e P. aeruginosa. Ela não apresenta ação contra Staphylococcus ou Enterococcus, nem enterobactérias produtoras de KPC ou MBL, nem A. baumannii e S. maltophilia. A ANVISA aprovou o uso da ceftolozana-avibactam no início de 2018.
Ceftazidima-Avibactam
A ceftazidima é uma cefalosporina de terceira geração que tem atividade antipseudomonas. Sua associação com o avibactam, um inibidor de β-lactamase, expande seu espectro de ação para gram negativos resistentes, especialmente as ERC (enterobactérias resistentes a carbapenêmicos, como as produtoras de KPC).
As drogas tradicionalmente usadas contra ERC não são eficazes contra Pseudomonas, como a tigeciclina, ou não são eficazes contra alguns BGN específicos, como Proteus, Morganella, Serratia e Providencia, caso da Polimixina B. Esse é um diferencial importante dessa nova droga, que abrange todos os ERCs e BGNs mencionados. Uma das suas principais indicações é o tratamento de pneumonia hospitalar ou associada a ventilação mecânica causada por bacilos gram negativos.
Apenas os produtores de MBL, dentre enterobactérias, são resistentes à ceftazidima-avibactam.
Essa droga já teve seu uso aprovado no Brasil pela ANVISA em Junho de 2018.
Mas vamos com calma
É importante lembrar que esses novos antibióticos devem ser reservados apenas para infecções refratárias às outras opções de tratamento, a fim de evitar o desenvolvimento de resistência e prolongar sua vida útil. Isto porque são drogas novas com amplo espectro de ação e atividade contra patógenos multirresistentes.
Uma consulta à comissão de controle de infecção hospitalar (CCIH) da unidade é altamente recomendada diante dessas infecções mais complicadas.
Veja também como derrotar a superbactéria, Klebsiella pneumoniae, resistentes a carbapenêmicos.