Você já ouviu falar de miocárdio ou coração atordoado? Esse artigo vem definir e abordar um pouco mais desse assunto, que se encontra cada vez mais presente na prática clínica e no mundo da cardiologia.
A definição de miocárdio atordoado
É um termo utilizado para a condição miocárdica que culmina em anormalidade do movimento das paredes do ventrículo esquerdo (VE) cardíaco após a oclusão de uma artéria coronariana, mesmo após reperfusão, podendo persistir por horas ou até mesmo dias após o evento.
Sendo assim, podemos resumir o miocárdio atordoado na seguinte sequência: redução, total ou quase total, do fluxo sanguíneo coronariano -> restabelecimento deste fluxo -> disfunção subsequente do VE de duração limitada (importante lembrar que para definirmos miocárdio atordoado essa alteração não deva ser permanente).
Você sabe diferenciar esta condição do miocárdio hibernante?
É muito comum que as pessoas se confundam, acreditando que miocárdio atordoado e hibernante são duas situações semelhantes. Porém, este é um conceito errado!
O miocárdio hibernante é uma condição de comprometimento permanente da função miocárdica e do VE em repouso secundária a um fluxo sanguíneo coronariano cronicamente reduzido.
A hibernação miocárdica pode ser aguda, subaguda ou crônica, podendo ocorrer em conjunto com angina estável, instável e ao infarto agudo do miocárdio (IAM). É uma condição que pode ser revertida, se o segmento cardíaco afetado for submetido à terapia de reperfusão em tempo hábil.
Qual a relação entre miocárdio atordoado e hibernante?
Os dados da literatura atual sugerem que a diferença entre uma entidade e outra possa ser apenas com relação ao grau de gravidade. Enquanto no miocárdio atordoado, o fluxo sanguíneo no repouso é normal e o fluxo máximo é normal, na condição de hibernante o fluxo coronariano já é alterado, mesmo em repouso. Ainda assim, acredita-se que exista uma sobreposição entre essas duas condições.
Alguns dados ainda sugerem que o miocárdio hibernante possa ser resultado de múltiplos episódios repetitivos de atordoamento do músculo cardíaco, secundário a episódios de isquemia.
Quais são as síndromes clínicas associadas a essas condições?
O miocárdio atordoado, como já explicado anteriormente, decorre de um episódio de isquemia coronariana aguda. Por outro lado, o hibernante é decorrente de angina instável, angina estável crônica, disfunção ventricular ou insuficiência cardíaca.
Há outras causas para essas situações?
Há alguns relatos de caso que documentam associação de miocárdio atordoado com taquicardiomiopatia, uso de quimioterápicos cardiotóxicos, hipoxemia severa e até mesmo estado de mal epiléptico convulsivo.
Como eu posso detectar um miocárdio acelerado?
Após o evento precipitante, podemos lançar mão de alguns métodos para auxiliar no diagnóstico:
– Ecocardiograma: anormalidades na contração das paredes cardíacas. Um detalhe é que as alterações ecocardiográficas são super precoces no contexto de oclusão arterial coronariana aguda. Pode-se detectar essas anormalidades dentro de 10 a 30 segundos após a oclusão coronariana. Portanto, essas alterações podem surgir antes mesmo das mudanças eletrocardiográficas e/ou sintomas de dor.
No caso do miocárdio atordoado, esses déficits focais regridem dentro de horas a dias após o insulto isquêmico.
Qual a importância da ressonância nuclear cardíaca nesse contexto?
A ressonância cardíaca é um método cada vez mais acessível e mais importante para esse perfil de pacientes. É um método que permite realizar tanto a avaliação perfusional quanto a “viabilidade” daquele miocárdio, ou seja, presença e extensão de realce tardio (que quer dizer fibrose no miocárdio). Essa correlação possui íntima associação com os dados histopatológicos, possuindo boas sensibilidade e especificidade.
Simplificando, quanto mais realce tardio, menor a probabilidade de recuperação da contratilidade segmentar cardíaca.
Com isso, é um método com dados relevantes para a avaliação do miocárdio atordoado ou hibernante.
Guilherme, já que estamos falando desse assunto, você pode dar uma resumida no que é viabilidade miocárdica?
Bom, como o próprio nome já diz, o termo miocárdio viável diz respeito ao tecido que se encontra com função deprimida, porém que possui alguma probabilidade de recuperação após o restabelecimento do fluxo coronariano normal. Esse estudo é fundamental nos casos de miocárdio atordoado e hibernante, já que podemos ter acesso ao possível prognóstico do paciente, além de permitir uma possível programação terapêutica.
E o tratamento dessa condição?
Como já falamos durante o texto, tanto o miocárdio atordoado quanto o hibernante são condições teoricamente transitórias, que podem ser revertidas com a melhora da perfusão coronariana, tanto de forma clínica e medicamentosa quanto com relação à revascularização miocárdica ou terapia de reperfusão. Dessa forma, o tratamento sempre vai consistir na redução ou resolução do desbalanceio entre oferta e demanda perfusional que ocorre nesses pacientes.
Gostei do artigo, mas da próxima vez coloque algmas imagens para melhor percepção.
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