Quem nunca ficou perdido meio a tantos fatores de coagulação, naquela aula de cascata da coagulação?? Pois é! Se liga na explicação abaixo que vai facilitar muito a sua vida de estudante de Medicina!
Fisiologia da hemostasia da cascata da coagulação
O nosso processo de hemostasia (o conjunto de mecanismos que o organismo emprega para coibir hemorragia) é uma balança entre os fatores trombogênicos e não trombogênicos.
Fatores Trombogênicos | Fatores não trombogênicos |
Exposição do endotélio | Heparina |
Fator tecidual | Trombomodulina |
Exposição do colágeno | Ativador do plasminogênio tecidual |
Plaquetas | Antitrombina |
Fator ativador de plaquetas | Proteína C e S |
Fatores da coagulação | Plasminogênio |
Protombina | |
Fibrinogênio | |
Fator de Von Willebrand |
Hemostasia Primária
A hemostasia primária se refere à interação entre as plaquetas circulantes, a parede lesada dos vasos sanguíneos e as proteínas adesivas. A interação entre estes componentes ocasiona a formação do plug inicial de plaquetas.
O espaço subendotelial é ALTAMENTE trombogênico porque contém COLÁGENO, fator tecidual, fator de Von Willebrand e Laminina. Assim um vaso sanguíneo que sofreu injúria com exposição do espaço endotelial e subendotelial é um potente iniciador da cascata da coagulação.
As plaquetas NÃO aderem ao endotélio vascular intacto. MAS se aderem FORTEMENTE ao colágeno e ao fator de Von Willebrand, ambos muito abundantes no espaço subendotelial.
O processo de hemostasia primária ocorre em 3 etapas:
Adesão plaquetária
Se a parede vascular está lesada, o fator de Von Willebrand (VWF) se torna exposto. Este fator funciona como uma ponte entre o colágeno endotelial e os receptores plaquetários de superfície (GPIb). A interação entre: FATOR DE VON WILLEBRAND, COLÁGENO E RECEPTOR Gplb da superfície plaquetária, resultam em adesão plaquetária.
Secreção Plaquetária
As plaquetas possuem três tipos de grânulos: densos, α e lisossomos
– Os grânulos α (mais numerosos) contêm: fatores de coagulação, VWF, fibrinogênio, β-tromboglobulina, fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGF) e outras proteínas.
– Os grânulos densos contêm: ATP, ADP, cálcio e serotonina.
– Os lisossomos contêm enzimas hidrolíticas
Depois da adesão plaquetária, ocorre a degranulação dos grânulos plaquetários. Diferentes fatores são liberados, incluindo cálcio que é essencial para a ativação plaquetária e de outros fatores de coagulação.
Agregação plaquetária
Plaquetas ativadas, secretam tromboxano A2 (TXA2), que é o pivô do segundo mais importante ciclo de realimentação e amplificação secundária da ativação plaquetária, necessária à firmeza e estabilidade do agregado plaquetário. Quando combinado com ADP, o TXA2 leva ao aumento do plug inicial de plaquetas, selo TEMPORÁRIO da lesão vascular. Além disso, o ADP também liga a plaqueta aos receptores GpIIb/IIIa que são responsáveis pela deposição de fibrinogênio. A geração de trombina, converte fibrinogênio em fibrina levando a maior estabilidade do plug inicial de plaquetas. Este estágio é conhecido como HEMOSTASIA SECUNDÁRIA.
O óxido nítrico (NO) é liberado constitucionalmente nas células endoteliais dos macrófagos e plaquetas. Possui meia-vida curta, 3-5 segundos, inibe a ativação plaquetária e promove vasodilatação. A prostaciclina, sintetizada pelas células endoteliais, também inibe a função plaquetária.
Cascata da Coagulação
É classicamente dividida em via INTRÍNSECA E EXTRÍNSECA, ambas convertem para a ativação do fator X.
Via Extrínseca | Via Intrínseca | Via Comum |
Ligação do fator tecidual, exposto após lesão vascular, ao fator de coagulação VIIa e cálcio promovendo a conversão do fator X para o fator Xa para iniciar a via comum. Esta via é rapidamente inativada pelo inibidor do fator tecidual (TFPI). | Os fatores VIII e V são convertidos em VIIIa e Va pelas pequenas quantidades de trombina geradas durante a iniciação. Nesta fase de amplificação, forma-se o fator Xa por meio da interação entre IXa e VIIIa na superfície de fosfolipídio e na presença de Ca²+. | O fator Xa juntamente com o cofator Va, plaquetas e cálcio, forma o complexo protombinase que converte Protombina-> trombina. A trombina converte Fibrinogênio -> fibrina e ativa o fator XIII que reage com os polímeros de fibrina para estabilizar o plug plaquetário inicial. |
A atividade dos fatores II, VII, IX e X depende da vitamina K.
A hemostasia definitiva é obtida quando a fibrina, formada pela coagulação sanguínea, é acrescentada à massa de plaquetas pela retração/compactação do coágulo induzida pelas plaquetas.
RESUMINDO…
Disponível em: Fundamentos em Hematologia, cap 24, pag 321
O fator tecidual se liga ao fator VIIa para ativar o fator IX. Este complexo ativa o fator X. O fator Xa se liga ao fator II para formar a trombina. A geração de trombina nesta etapa é limitada, caso o inibidor da via do fator tecidual esteja disponível.
A geração de trombina ativa os fatores V e VIII. A ativação desses dois fatores acelera a ativação do fator II pelo fator Xa e do fator Xa por meio do IXa. Isto é mantido pela ação do complexo de protrombinase.
O complexo de protrombinase se acumula na superfície plaquetária. Ocorre grande formação de trombina e as plaquetas são ativadas. A fibrina gerada a partir do fibrinogênio é suficiente para formar um grande coágulo.
O passo final é estabilizar o coagulo formado. A trombina ativa o fator XIII que liga polímeros de fibrina para fornecer força e estabilidade ao plug hemostático secundário. A trombina também ativa o inibidor da fibrinólise que impede a fibrinólise do coágulo recém formado.
Referência: Hoffbrand, A. V, MOSS, P.A.H. Fundamentos em Hematologia. Artmed, 6.ª edição.