Alguma vez você já ouviu dizer que a candidíase pode ser transmitida sexualmente? Provavelmente sim, mas saiba que NÃO, a candidíase NÃO é uma infecção sexualmente transmissível, e hoje você vai entender o motivo para tal afirmação.
Afinal, o que é a candidíase?
A candidíase é uma infecção fúngica que acomete principalmente mulheres, mas pode também acometer os homens.
Essa infecção se dá principalmente em mucosas e na pele.
Quem causa a candidíase?
A candidíase é causada pelo fungo do gênero Candida sp, um fungo oportunista que pode estar presente no trato genital e trato gastrointestinal.
É um fungo Gram-positivo (Conheça mais sobre os tipos de colorações histológicas e microbiológicas), dimórfico (ou seja, se apresenta em diferentes formas) podendo se apresentar como levedura (blastoconídio) no estado saprofítico ou como filamentos (hifas e pseudohifas) especialmente no quadro de candidíase.
Diferentes espécies podem estar envolvidas na infecção. Geralmente agrupa-se em Candida albicans e Candida não albicans (inclui C. glabrata, C. tropicalis, C. krusei, C. parapsilosis).
– Candida albicans: é a principal envolvida nos episódios de candidíase, sendo responsável por mais de 85% dos casos.
– Candida glabrata: é a segunda mais comum.
Então se encontrar algum microrganismo do gênero Candida sp na região vaginal por exemplo, significa que a pessoa tem candidíase? Não!! E essa é uma informação muito importante que você não pode esquecer.
A Candida sp é um fungo comum de ser encontrado no trato genital compondo a flora local, e normalmente não causa nada. Porém, em situações de desequilíbrio, principalmente imunológico, esse fungo pode se proliferar exageradamente e assim provocar o quadro de candidíase. Ou seja, TER CANDIDA NÃO SIGNIFICA TER CANDIDÍASE.
Por que acontece a candidíase? Quais são os fatores de risco?
A candidíase ocorre devido a um desequilíbrio no organismo, seja ele por alterações hormonais, metabólicas, antibioticoterapia ou imunossupressão, que permite que a Candida sp se prolifere exageradamente.
Alguns fatores de risco podem predispor a esse desequilíbrio e consequentemente à candidíase.
Como exemplos de fatores hormonais, temos a gravidez como um desses exemplos, visto que durante a gestação há uma grande alteração dos hormônios sexuais femininos (principalmente o estrogênio).
As alterações hormonais também são comuns em situações de uso de contraceptivos combinados orais, terapia de reposição hormonal, em especial quando esses medicamentos são ricos em estrogênio. E por que o aumento de estrogênio pode ser um fator desencadeante para a candidíase?
O estrogênio possui uma proteína de ligação em agentes fúngicos, e com isso facilita a proliferação e infecção da Candida sp.
Além disso, os hormônios sexuais femininos aumentam a concentração de glicogênio na vagina, e a glicose é substrato para os bacilos ali presentes, que ao realizarem a fermentação (ou respiração anaeróbica), produzem ácido láctico que leva a acidificação da vagina, ou seja, redução do pH, criando assim um ambiente propício ao desenvolvimento da Candida sp.
Mais informações sobre a associação de pílulas anticoncepcionais e a candidíase: https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/222-anticoncepcao-vulvovaginites-recorrentes-em-usuarias-de-pilulas?highlight=WyJjYW5kaWRhIl0=
Outro fator que pode contribuir é o Diabetes Mellitus, um fator metabólico que leva à hiperglicemia, e essa é prejudicial ao sistema imunológico, como por exemplo aos neutrófilos prejudicando sua função, assim como a sua capacidade de fagocitar microrganismos.
Outro fator do diabetes mellitus é o aumento de proteinases ácidas que facilitam a adesão da Candida Sp ao epitélio. E, além disso, o aumento da glicemia serve como nutriente para o fungo.
A antibioticoterapia é um fator importantíssimo, especialmente quando se trata de antibióticos de amplo espectro. Isso porque o tratamento com antibióticos elimina as bactérias, mas não atua sobre os fungos.
A flora vaginal normal contém diversos microrganismos e eles controlam uns aos outros. Ao eliminar-se as bactérias, os fungos ficam “livres” para proliferar-se e ocupar toda àquela região. Por exemplo, a flora vaginal é rica em lactobacilos, que são bactérias.
Ao utilizar antibiótico, pode ocorrer uma importante supressão dos lactobacilos que são os mais envolvidos na defesa contra a proliferação fúngica.
Outro fator é a imunossupressão, em situações de utilização de medicamentos como corticoides ou outros imunossupressores, ou imunodepressão, seja por imunodeficiências primárias, estresse, imunodeficiência adquirida, como o HIV.
Outros fatores envolvidos são: má higiene local, utilização de roupas que dificultam a ventilação (lembre-se que fungos gostam de ambiente úmido e quentes) e consumo de alimentos ricos em açucares.
Quais os tipos de Candidíase?
Existem duas formas de candidíase, definidas de acordo com fatores como a forma de apresentação e a efetividade do tratamento, por exemplo.
São duas as formas: simples ou não complicada e a forma complicada.
A forma simples (não complicada) é aquela candidíase que acomete mulheres sadias, e que os sintomas são esporádicos e infrequentes. O agente etiológico é a Candida albicans. Outro ponto importante é que, geralmente esse tipo de candidíase pode ser tratado com terapia antifúngica convencional e são altos os níveis de cura.
Já a forma complicada representa a candidíase que acomete pacientes imunossuprimidos, pode ser causada pelas espécies menos comuns de Candida sp (como Candida glabata ou Candida krusei), os sintomas são recorrentes e podem se repetir 3 ou mais vezes por ano, sendo que, esses sintomas são mais graves, e o tratamento deve ser mais prolongado.
Quais os sintomas da Candidíase?
Candidíase Vulvovaginal (Mulher)
O principal sintoma da candidíase vulvovaginal (CVV) é o prurido vulvovaginal (coceira). Além disso, nota-se uma importante queimação e eritema na região.
Devido ao prurido, podem ser encontradas também, escoriações e fissuras vulvares.
Também pode apresentar disúria (dor ao urinar) e dispaurenia (dor durante o ato sexual).
Um outro sintoma importante, e que consiste em uma queixa frequente das mulheres, é o corrimento vaginal. Esse corrimento é branco, grumoso, sem cheiro e com aspecto caseoso(“leite coalhado). Encontra-se aderido as paredes da vagina.
Nas paredes vaginais também podem ser visualizadas placas brancas ou acinzentadas.
Geralmente os sintomas da CVV se exacerbam na fase pré menstrual e melhoram com a menstruação, pois o sangue menstrual alcaliniza a vagina, levando a essa falsa melhora.
Candidíase Peniana (Masculina)
A candidíase também pode acometer indivíduos do sexo masculino, e nesses casos, o principal sintoma é a balanite ou balanopostite (inflamação da glande e do prepúcio).
Na região acometida, a glande, os sintomas mais comuns são o eritema (vermelhidão), edema e dor. Também podem surgir placas brancas nessa região.
Assim como na candidíase vulvovaginal, há um importante prurido na região, o que pode acabar levando a escoriações.
O paciente pode apresentar dispaurenia e ardência após o ato sexual.
O corrimento também pode acontecer, sendo espesso e com odor desagradável, especialmente em pacientes não circuncidados.
Candidíase Oral
Sendo a boca um dos habitats da Candida sp, em situações de desequilíbrio pode ocorrer uma proliferação exacerbada do fungo oportunista e resultar no desenvolvimento da candidíase oral.
Existem diversas formas de candidíase oral: candidíase pseudomembranosa, candidíase atrófica aguda, candidíase hiperplásica crônica, candidíase atrófica crônica, entre outras.
A principal e mais comum é a candidíase pseudomembranosa, o conhecido “sapinho”, que acomete principalmente recém nascidos. A lesão é marcada por pseudomembranas, de coloração branca, que são formadas por células epiteliais descamadas juntamente à fibrina e hifas fúngicas.
Em geral, alguns fatores de risco são idades extremas (bebês, crianças e idosos), comorbidades como o diabetes mellitus, pacientes em estado de imunodepressão devido a doenças como HIV/AIDS, leucemia, uso de antibióticos de amplo espectro, uso de corticoides por via inalatória (exemplo, os sprays para asma), entre outros.
Candidíase Vulvovaginal Recorrente
Quando se tem 4 ou mais episódios tratados e diagnosticados de candidíase em 12 meses, pode-se dizer que o paciente tem candidíase recorrente.
Geralmente os sintomas são mais persistentes, e o principal sintoma é a queimação na vulva e no vestíbulo.
Diagnóstico de Candidíase
O exame clínico (história clínica e exame físico) muitas vezes é suficiente para o diagnóstico, ou seja, o diagnóstico da candidíase clássica pode ser definida por critérios CLÍNICOS.
Alguns exames podem ser solicitados principalmente para avaliar quadros recorrentes, para assim determinar qual o microrganismo envolvido.
A cultura vaginal específica em meios como Sabourad, Nickerson ou Microstix-candida pode ser realizada para avaliar o microrganismo envolvido em uma candidíase recorrente, por exemplo, ou quando a suspeita de candidíase vulvovaginal por Candida sp é grande, mas a citologia é negativa.
Na análise laboratorial, pode ser solicitado a avaliação do pH vaginal, que em casos de candidíase geralmente encontra-se menor ou igual a 4,5.