Em outubro de 2018 saiu um artigo na New England Journal of Medicine que ficou conhecido como MIND-USA e testou dois antipsicóticos para os pacientes em delirium nas unidades de terapia intensiva (ou UTI para ficar mais fácil).
[show_more more=”Ler mais” less=”ler menos” color=”#008ec2″ size=”120″ align=”center”]
O estudo teve alta repercussão e agora vamos entender melhor isso. Aliás, antes vou dar um spoiler (emoticon?) o estudo não apresentou vantagens com o uso dos antipsicóticos na população testada, mas vamos entender melhor o que aconteceu? Bem, é um estudo de fase 3, multicêntrico, randomizado e controlado por placebo. Nesta parte não tem muito o que reclamar, fora todos os centros ficarem no mesmo pais (os Estados Unidos).
Então vamos ao desenho do estudo:
Duas drogas foram testadas, haloperidol e Ziprasidona além do placebo. Os pacientes para entrarem no estudo precisavam estar internados em um UTI e em uso de ventilação mecânica invasiva ou não invasiva, vasopressores ou balão intra-aórtico. E claro, eles precisavam ter delirium… Aí vai um resuminho de delirium.
Eles avaliaram se os pacientes tinham delirium através do CAM-ICU, e a sedação através do RASS. Fizeram um pacote de controle do delirium chamado ABCDE. O desfecho primário era dias sem delirium ou coma no CTI, e como eu já contei, foi negativo! Não fez diferença entre nenhum dos tratamentos e o placebo!
Tá, mas e aí? O que deu errado?
Bem, primeiro vamos lembrar que estudo negativo não é igual dar errado. Temos uma resposta, aprendemos algo, então deu certo! Mas….
Mas… Existem duas grandes críticas importantes! A primeira é que podia haver uso de outros antipsicóticos durante o estudo sem controle, então os pacientes no grupo placebo podiam estar recebendo outra droga da mesma classe das estudas para tratar o delirium. A outra crítica é que a maior parte dos pacientes possuia delirium hipoativo, e esta apresentação é mais resistente ao tratamento farmacológico que a apresentação hiperativa. Isso já era sabido e o estudo não diferenciou no seu desenho
Então, o que dá para aprender?
Seguinte, apesar das críticas, o que podemos entender é que não devemos acreditar numa pílula mágica (ou injeção…) que resolva problemas tão complexos como o delirium no UTI. Agora, se devemos abandonar o uso de antipsicóticos no UTI? Me parece cedo, pessoalmente acredito que nos pacientes hiperativos é possível que ainda haja lugar para estas drogas, principalmente quando estes pacientes colocam os próprios tratamentos em risco, por exemplo, arrancando acessos venosos e tubos orotraqueais.
Por fim, vamos ficar de olho nos testes com outras classes de drogas, em breve devemos ter mais dados sobre o uso da dexmedetomidina no tratamento do delirium, com estudos já em curso. Os primeiros estudos publicados foram promissores.
Um abraço,
Felipe Magalhães
“não existe medicina baseada em evidências, as evidências são a única forma de se entender a medicina”
[/show_more]