A anemia é definida por valores de hemoglobina no sangue abaixo do normal para idade e gênero. É um dos principais problemas de saúde pública mundial, chegando a afetar mais de um quarto da população do mundo.
Etiologia:
De origem multifatorial, pode ser ocasionada pela:
-Deficiência de ferro: ingestão ou absorção inadequada de ferro; hábitos vegetarianos; dietas com muito chá ou café, que inibem a absorção de ferro, ou sem vitamina C.
-Perdas sanguíneas: hemorragias diversas, como melena, hematêmese, hemoptise, menstruações, traumas, partos ou por múltiplas gestações.
-Processos infecciosos e patológicos, verminoses intestinais, uso de medicações específicas que impeçam ou prejudiquem a absorção do ferro e gestação sem a suplementação adequada de ferro.
A principal causa de anemia é a deficiência de ferro. Ela está associada a mais de 60% dos casos em todo o mundo.
Manifestação Clínica:
Os principais sintomas relacionados a anemia são fraqueza, cefaleia, tontura, irritabilidade, síndrome das pernas inquietas, fadiga, pica (apetite pervertido por barro ou terra, papeis, amido, gelo). Também são sinais frequentes da anemia cansaço, palidez cutâneo mucosa, unhas quebradiças e palpitação.
Diagnóstico:
Para a população feminina adulta, considera-se anemia valores de Hb abaixo de 12 g/dL. Para homens, valores de Hb abaixo de 13 g/dL.
Inicialmente aparece anemia normocítica (volume corpuscular médio – VCM – normal), com valor absoluto de reticulócitos normais. A depleção de ferro, primeiro estágio, é caracterizada por diminuição dos depósitos de ferro. É diagnosticada a partir da redução da ferritina sérica, principal parâmetro utilizado para avaliar as reservas de ferro.
No segundo estágio (deficiência de ferro), são utilizados para diagnóstico a própria redução do ferro sérico, aumento da capacidade total de ligação da transferrina e a diminuição da saturação da transferrina.
Com a continuação da perda sanguínea, aparecerá anemia hipocrômica clássica (com hemoglobina corpuscular média – CHCM baixa) e microcitose (com VCM baixo). Com a piora da anemia e da deficiência de ferro, surgem a anisocitose (células de tamanhos variados) e a poiquilocitose (células de formas variadas).
Ainda na avaliação do hemograma, a presença de leucopenia e plaquetose, podem ser indicativos do quadro de anemia e devem ser considerados.
Tratamento Não Medicamentoso:
Os alimentos fontes de ferro devem ser recomendados. Principalmente as carnes vermelhas, vísceras (fígado e miúdos), carnes de aves, peixes e hortaliças verde-escuras.
Para melhorar a absorção do ferro, recomenda-se a ingestão de alimentos ricos em vitamina C. Este nutriente está disponível nas frutas cítricas, como laranja, acerola e limão. Deve-se evitar os excessos de chá ou café, que dificultam esta absorção.
Tratamento Medicamentoso:
O tratamento da anemia ferropriva é pautado na orientação nutricional para o consumo de alimentos ricos em ferro e reposição de ferro. A suplementação deve ser continuada visando a reposição dos estoques de ferro, o que varia entre dois a seis meses.
Sais ferrosos:
Os sais de ferro (sulfato ferroso, gluconato ferroso, fumarato ferroso) são eficazes na correção da hemoglobina e reposição dos estoques de ferro. Eles apresentam baixo custo e a rápida absorção (difusão ativa e passiva, no duodeno). Por sofrer influência dos componentes dietéticos, a suplementação com sais de ferro deve ser realizada longe das refeições. Recomenda-se a tomada em jejum, 1h antes das refeições ou antes de dormir.
Apesar da eficácia, a adesão ao tratamento com sais ferrosos é geralmente baixa. Isto devido aos sintomas adversos frequentes e típicos da suplementação, como náuseas, vômitos, gosto metálico, pirose, dispepsia, plenitude ou desconforto abdominal, diarreia e obstipação. Apesar disto, o sulfato ferroso ainda é o composto de escolha pelo Ministério da Saúde para os programas de suplementação no Sistema Único de Saúde.
Sais férricos:
Além dos sais ferrosos, os sais férricos e aminoquelatos – ferro polimaltosado, ferro aminoquelado, EDTA e ferro carbonila – também podem ser utilizados com melhor perfil de adesão. Eles não sofrerem alterações com a dieta e por provocarem menos efeitos adversos. Os sais férricos apresentam eficácia semelhante aos ferrosos quanto à correção da anemia ferropriva. O ferro quelato também apresenta alta biodisponibilidade (a união do ferro ao aminoácido impede a formação de compostos insolúveis). Não é prejudicado por fatores inibidores da dieta e não é exposto diretamente à mucosa intestinal (reduzindo os riscos de toxicidade local e de efeitos adversos). Apresentando as mesmas vantagens do uso dos sais férricos.
O ferro carbonila é a alternativa mais abundante em teor de ferro elementar (98%), com boa disponibilidade e efetividade. Menor taxa de efeitos adversos em relação aos sais ferrosos, porém mais do que os outros sais férricos. Pode ter sua absorção diminuída por componentes da dieta, devendo ser administrado em jejum.
Além da suplementação de ferro via oral, a reposição parenteral de ferro é recomendada em casos excepcionais. Exemplos são os de hospitalização por anemia grave após falha terapêutica do tratamento oral, necessidade de reposição de ferro por perdas sanguíneas, doenças inflamatórias intestinais, quimioterapia ou diálise ou após cirurgias gástricas com acometimento do intestino delgado.
A transfusão de sangue é reservada para pacientes hemodinamicamente instáveis.
Doses terapêuticas preconizadas pelo Ministério da Saúde:
– Crianças: 3 a 6 mg/kg/dia de ferro elementar, sem ultrapassar 60 mg/dia.
– Gestantes: 60 a 200 mg/dia de ferro elementar associadas a 400 mcg/dia de ácido fólico.
– Adultos: 120 mg/dia de ferro elementar.
– Idosos: 15 mg/dia de ferro elementar.
– Fórmula para cálculo da dose total venosa de ferro a ser administrada:
Ferro (mg) = (Hb desejada conforme sexo e idade do paciente – Hb atual em g/dL) x Peso corporal (kg) x 2,4 + 500 mg.
A dose deve ser administrada em hospital, em infusão IV lenta, por 30 minutos, de uma a três vezes na semana, com intervalos mínimos de 48 horas e não ultrapassando 300 mg em cada dose. Para as gestantes o peso corporal deve ser o de antes da gestação.