Hoje, vamos conversar um pouco sobre a anatomia de um dos órgãos “mais importantes” que temos em nosso organismo, o coração.
Você já sabe que o coração é nossa bomba propulsora, que bombeia o sangue aos tecidos, mantendo os tecidos nutridos e evitando que ocorra morte celular, como a necrose.
Conhecer a anatomia do coração é de suma importância para conseguir compreender o seu funcionamento, e para compreender também doenças que afetam o coração, podendo alterar sua anatomia.
É claro que há muito mais coisa para conversarmos, mas vamos bater um papo sobre um dos órgãos mais importantes do corpo humano? =)
Localização do coração
O coração está localizado no compartimento central da cavidade torácica, espaço conhecido como mediastino. Localiza-se especificamente no mediastino médio.
A posição do coração é oblíqua, estando posicionado mais à esquerda (dois terços) do que à direita (um terço).
O coração possui um ápice e uma base. É semelhante a uma pirâmide inclinada, onde a base está situada superiormente e o ápice inferiormente.
A base é formada principalmente pelo átrio esquerdo, enquanto o ápice é formado principalmente pelo ventrículo esquerdo e encontra-se no nível do 5° espaço intercostal esquerdo.
O coração é formado por quatro câmaras, 2 átrios (câmaras superiores) e 2 ventrículos (câmaras inferiores).
Ele possui 4 faces: a face esternocostal (anterior), a face diafragmática (inferior) e as faces pulmonares direita e esquerda (laterais).
Também possui 4 margens: margem direita formada pelo átrio direito estendendo-se até as veias cavas (superior e inferior), margem esquerda formada pelo ventrículo esquerdo e pela aurícula esquerda, margem inferior formada pelo ventrículo direito e uma pequena parte pelo ventrículo esquerdo, e a margem superior formada pelos átrios e aurículas.
Essas peculiaridades, como as margens do coração, podem parecer um simples detalhe, mas é de suma importância por exemplo, quando você for avaliar uma radiografa de tórax, pois as alterações em determinadas câmaras cardíacas alteram as respectivas margens que elas formam.
Por exemplo, se o ventrículo esquerdo estiver alterado, consequentemente haverá alteração da margem esquerda do coração.
Camadas do coração
O coração é formado por três camadas: endocárdio, miocárdio e epicárdio. O endocárdio é a camada mais interna que reveste o coração e as valvas cardíacas.
Já o miocárdio é a camada mediana formada por tecido muscular (músculo estriado cardíaco), sendo que sua espessura varia entre as câmaras cardíacas de acordo com sua atividade.
E o epicárdio é a camada mais externa, formada por pela lâmina visceral do pericárdio seroso.
Além dessas camadas, o coração conta com um saco que envolve o coração, o pericárdio. O pericárdio é uma membrana fibrosserosa que cobre tanto o coração quanto os vasos que entram e saem do coração.
Pericárdio
O pericárdio possui duas lâminas, a lâmina parietal e a lâmina visceral.
Entre essas lâminas, há um espaço virtual, que contêm uma pequena quantidade de líquido, cerca de 10 a 20 ml, e permite que o coração se movimente sem atrito.
O pericárdio possui importantes funções, como manter o formato do coração, prevenir o enchimento excessivo do coração, limitar o deslocamento do coração, além de ser uma importante barreira contra infecções.
Mas, apesar de sua grande importância, em algumas doenças onde necessita-se retirar o pericárdio, não há comprometimento da vida. Ou seja, podemos viver sem o pericárdio.
Cada câmara cardíaca possui uma peculiaridade, como veremos a seguir.
O átrio direito
O átrio direito é a câmara que recebe o sangue venoso através das veias cavas, superior e inferior, e pelo seio coronário.
Possui uma estrutura, semelhante a uma bolsa, que é a aurícula. Essa aurícula aumenta a capacidade do átrio.
Ao observar o interior do átrio direito, há uma parede lisa onde se localizam os óstios em que as veias desembocam. E há também uma parede rugosa, rugosidades essas conferidas pela presença do músculo pectíneo.
Observa-se também uma pequena depressão conhecida como fossa oval, que é um vestígio de um forame existente no período fetal, o forame oval.
Esse forame se fecha ao nascimento e, caso permaneça, gera uma doença congênita, conhecida como “forame oval patente”, ocorrendo comunicação entre o átrio direito e o átrio esquerdo, “misturando” o sangue mal oxigenado do átrio direito com o sangue bem oxigenado do átrio esquerdo.
O átrio direito recebe o sangue drenado do organismo, e o “envia” para o ventrículo direito, passando pelo óstio atrioventricular direito quando a valva tricúspide está aberta.
O ventrículo direito
O ventrículo direito recebe o sangue vindo do átrio direito. O ventrículo direito possui trabéculas cárneas, que são colunas musculares.
Em comparação ao átrio, os ventrículos possuem a camada muscular mais espessa, pois ejetam o sangue contra um maior gradiente de pressão.
No ventrículo direito há também os músculos papilares fixados à parede ventricular. Desses músculos, originam-se as cordas tendíneas e essas estão fixadas às válvulas.
A valva atrioventricular, localizada entre o átrio e o ventrículo direito, é a conhecida valva tricúspide.
Três músculos papilares estão presentes no ventrículo direito e envolvidos com o funcionamento da valva tricúspide. São eles: o músculo papilar septal, o músculo papilar anterior e o músculo papilar posterior.
O ventrículo direito ainda possui uma importante estrutura envolvida na condução nervosa, que é a trabécula septomarginal ou banda moderadora.
É um feixe muscular curvo que atravessa o ventrículo direito da parte inferior até o músculo papilar anterior.
Como já conversamos, o sangue chega ao ventrículo direito passando pela valva tricúspide, mas em algum momento ele também deve sair do ventrículo direito, certo!?
A saída do ventrículo direito conta com uma valva semilunar, a valva pulmonar. O sangue é ejetado pelo ventrículo direito em direção ao tronco da artéria pulmonar, que se ramifica em duas artérias pulmonares, direita e esquerda.
Essas artérias seguem para o pulmão, onde o sangue é oxigenado, pelo processo de hematose.
Após ser oxigenado, o sangue retorna ao coração pelas veias pulmonares, chegando ao átrio esquerdo.
O átrio esquerdo
O átrio esquerdo como dito, recebe então o sangue oxigenado pelos pulmões. Quatro veias pulmonares chegam ao átrio esquerdo.
Essas veias chegam à parede posterior do átrio e, sendo assim, nessa parede, há os óstios de entrada das mesmas.
O átrio esquerdo também possui uma aurícula, que possui músculo pectíneo em sua superfície.
A parede do átrio esquerdo é um pouco mais espessa do que a do átrio direito.
Assim como no átrio direito, no átrio esquerdo também há a projeção que corresponde ao assoalho da fossa oval, como uma depressão semilunar no septo interatrial.
O sangue chega ao átrio esquerdo e seu próximo destino é passar pelo óstio atrioventricular direito, onde está a valva atrioventricular esquerda, também conhecida como valva bicúspide ou mitral, e chega, então, ao ventrículo esquerdo.
O ventrículo esquerdo
O ventrículo esquerdo é a câmara que possui a parede muscular mais espessa, visto o alto gradiente de pressão ao qual precisa vencer para bombear o sangue.
É o átrio esquerdo quem forma o ápice do coração.
Na parede interior, algumas peculiaridades também podem ser notadas. Assim como no ventrículo direito, o ventrículo esquerdo também possui trabéculas cárneas, porém mais finas e numerosas.
Conta também com dois músculos papilares, anterior e posterior, que, da mesma forma, emitem as cordas tendíneas que se ligam as duas valvas que formam as valvas bicúspides.
Possui também o óstio de saída onde está a valva semilunar aórtica.
Quando o sangue é bombeado pelo ventrículo esquerdo, ele passa pela valva semilunar aórtica, chegando a artéria aorta, e é distribuído para os tecidos.
Se você quiser estudar o ciclo cardíaco, temos um artigo que traz o ciclo cardíaco e cada uma de suas fases.
Válvulas do Coração
A válvulas presentes no coração são importantes estruturas que controlam a passagem do sangue entre as câmaras cardíacas e para fora do coração.
Temos 4 válvulas importantes: duas válvulas atrioventriculares e duas válvulas semilunares.
As duas válvulas atrioventriculares, direita e esquerda, diferem tanto em localização quanto em estrutura.
A válvula atrioventricular direita possui três cúspides, sendo chamada, portanto, de valva tricúspide. E a válvula atrioventricular esquerda possui duas cúspides, sendo conhecida como bicúspide ou mitral. Essas válvulas controlam a passagem do sangue dos átrios para os ventrículos. Ambas são fixadas à músculos papilares e suas cordas tendíneas.
Já as valvas semilunares, direita e esquerda, controlam a saída do sangue dos ventrículos para as artérias pulmonares e aórtica, respectivamente. Elas não possuem cordas tendíneas.
A valva direita, que é a pulmonar, controla a saída do sangue do ventrículo direito para o tronco da artéria pulmonar.
Já a valva esquerda, a valva semilunar aórtica, controla a saída do sangue do ventrículo esquerdo para a artéria aorta.
As valvas podem sofrer alterações por processos infecciosos, trauma, ou até mesmo com o envelhecimento, e com isso sua função fica comprometida. Duas alterações podem ocorrer: insuficiência ou estenose.
Insuficiência é quando a valva não consegue se fechar adequadamente e, com isso, há passagem de sangue retrogradamente.
Já a estenose ocorre quando uma valva não se abre adequadamente, e assim há uma dificuldade na passagem ou na ejeção do sangue.
Essas alterações provocam alterações estruturais do coração, e, com isso, pode levar a efeitos sistêmicos.
Essas valvas quando alteradas levam a alterações no exame físico do aparelho cardiovascular.
Se você quiser aprender algumas manobras para avaliar determinadas alterações, temos um artigo para você.
Agora que já vimos a estrutura do coração, como qualquer tecido em nosso organismo, é necessário que haja uma vascularização, a nutrição do tecido.
Pois, apesar do coração receber cerca de 5.250 ml por minuto, ele precisa também de vasos que levem o sangue às suas camadas, como veremos agora.
Vascularização do Coração: As artérias coronárias
As artérias coronárias são os vasos responsáveis por nutrir o tecido cardíaco.
Acredito que você já tenha ouvido falar nelas, principalmente quando escuta-se falar sobre as “placas de ateroma” ou sobre o “infarto agudo do miocárdio”, por exemplo, essas artérias estão envolvidas.
Isso porque, quando obstruídas, o sangue não passa, e, assim, o tecido não recebe nutrição, sofrendo necrose de coagulação e infarto do tecido.
As coronárias, direita e esquerda, são os primeiros ramos da artéria aorta. Elas suprem tanto átrios, quanto os ventrículos. Cada uma dessas artérias possui uma área a qual ela irriga.
Algumas dessas áreas podem variar entre os indivíduos, mas há uma predominância de determinada artéria, como veremos.
Artéria Coronária Direita
A artéria coronária direita (ACD), em 60% dos indivíduos dá origem ao ramo do nó sinoatrial.
Após emitir esse ramo, ela segue em direção ao ápice, nesse trajeto dá origem ao ramo marginal direito, que como o nome diz, irriga a margem direita do coração (formada pelo átrio direito) e também uma importante porção do ventrículo direito.
Ela não alcança o ápice do coração, antes disso desvia-se para a esquerda e segue posteriormente.
Na junção entre os septos interatrial e interventricular, em 80% das pessoas, a coronária direita origina o ramo do nó atrioventricular.
E ainda, em 67% dos indivíduos, ela origina o ramo interventricular posterior (artéria descendente posterior) que segue em direção ao ápice, irrigando o terço posterior do septo interventricular e porções de ambos os ventrículos.
O ramo terminal (ventricular esquerdo) continua no sulco coronário e supre a face diafragmática do coração (que corresponde principalmente ao ventrículo esquerdo).
Se originar o ramo interventricular posterior, ela domina o sistema arterial coronário, lembrando que em 33% das pessoas a predominância será da artéria coronária esquerda.
Artéria Coronária Esquerda
A artéria coronária esquerda (ACE) entra no sulco interventricular anterior, e divide-se em dois ramos, o ramo interventricular anterior e o ramo circunflexo da ACE.
O ramo interventricular anterior (ou descendente anterior) segue pelo sulco em direção ao ápice do coração. Supre partes de ambos os ventrículos, mas principalmente do ventrículo esquerdo.
Emite ramos septais, que são responsáveis por irrigar dois terços do septo interventricular, além de irrigar também o feixe atrioventricular do complexo estimulante do coração.
Já o ramo circunflexo da ACE acompanha a margem esquerda do coração (formada pelo ventrículo esquerdo e aurícula esquerda) até a face posterior.
Emite o ramo marginal esquerdo que irriga o ventrículo esquerdo.
Em 40% da população, o ramo do nó sinoatrial pode se originar da artéria coronária esquerda.
Drenagem venosa: As veias do coração
A drenagem do coração é realizada por pequenas veias que drenam para o átrio direito, se abrindo no seio coronário.
A principal veia do coração é o seio coronário, que segue da esquerda para a direita, na face posterior do sulco coronário. Ele recebe algumas outras veias tributárias em seu trajeto.
Uma dessas é a veia cardíaca magna, a maior das tributárias. Basicamente, a veia cardíaca magna drena as áreas do coração, que são supridas pela artéria coronária esquerda.
Há também a veia interventricular posterior que acompanha o ramo interventricular posterior (originado da artéria coronária direita).
O ramo marginal direito da ACD também é acompanhado por uma veia, a veia cardíaca parva.
Sendo assim, essas duas veias drenam a área irrigada pela ACD.
Todas essas veias listadas até o momento se abrem no seio coronário. Mas nem todas as veias que drenam o coração são tributárias do seio coronário.
Algumas pequenas veias drenam diretamente para o átrio direito, como as veias anteriores do ventrículo direito e as veias cardíacas mínimas.
Drenagem linfática do coração
O coração também possui drenagem linfática, e os vasos linfáticos presentes no miocárdio drenam para o plexo linfático subepicárdico.
Todos os vasos linfáticos se unem em um único vaso, que drena para os linfonodos traqueobronquiais inferiores, geralmente no lado direito.
Inervação
A inervação do coração é oriunda do plexo cardíaco.
O coração recebe fibras simpáticas e parassimpáticas (derivadas do nervo vago, o X par craniano).
Complexo estimulante do coração
O coração possui um complexo estimulante que gera e transmite impulsos nervosos, o que faz com que o coração atue como uma bomba propulsora, que contrai e relaxa.
Algumas estruturas, que já foram mencionadas, compõe esse sistema. A primeira delas é o nó sinoatrial, conhecido também como nó sinusal. É nessa estrutura que se inicia o impulso, sendo o nó sinoatrial quem dita o ritmo cardíaco. Por isso, o nó sinoatrial é o marcapasso do coração.
Apesar de ser uma estrutura com capacidade de gerar o impulso, ela pode ser modulada pelo sistema nervoso autônomo, podendo ser estimulado pelo sistema simpático, o que leva a aceleração dos batimentos cardíacos, aumentando a frequência, ou ser inibido pelo sistema parassimpático, reduzindo a frequência cardíaca a níveis basais.
Após ser gerado o impulso, ele é transmitido por fibras até chegar ao nó atrioventricular.
O nó atrioventricular recebe o impulso e propaga-o para o fascículo atrioventricular, que se divide em ramo direito e esquerdo, seguindo pelo septo interventricular e depois emitem ramos subendocárdicos, que são as fibras de Purkinje.
E assim, a partir desse sistema de condução, o coração “funciona”, pois é a partir da atividade elétrica gerada que há o estímulo do tecido muscular, para que ocorra a contração muscular seguida do relaxamento.
Como eu já disse, é muito importante compreender a anatomia cardíaca para entender o ciclo cardíaco, por exemplo, e para compreender também as inúmeras doenças que acometem esse órgão tão importante.
Bons estudos, pessoal! Até a próxima!!