Você já parou para pensar nas possíveis consequências da atual pandemia pelo novo coronavírus (Covid-19) naqueles pacientes que possuem alguma doença crônica ou comorbidade, que não foram infectados?
Naqueles pacientes que necessitam de acompanhamento ambulatorial regular e que, agora, estão com dificuldades de realizar as suas consultas, seus exames de rotina, sua visita médica?
Esse artigo tem como missão levantar nossa reflexão sobre como estão esses pacientes nesse momento, suas dificuldades e a repercussão na vida desses indivíduos nesse momento tão complicado.
GUILHERME, E DE ONDE VOCÊ VAI TIRAR ESSA REFLEXÃO?
Bom, pessoal, usaremos como guia uma publicação realizada no “The New England Journal of Medicine” (NEJM), publicada em junho. A reflexão da publicação se inicia a partir de um caso que ocorreu com um médico cardiologista do “Jamaica Hospital Medical Center”, situado em Nova York, ao final de seu turno de expediente.
Uma enfermeira aborda o médico relatando que seu marido vinha sentindo “pressão no peito”, e possuía história importante familiar para doença arterial coronariana. O paciente foi atendido em serviço de emergência e orientado a procurar um médico para o serviço primário, após ter sido descartada síndrome coronariana aguda.
No entanto, ao tentar procurar atendimento médico ambulatorial, o paciente foi orientado que não era o melhor momento de se procurar devido à pandemia por coronavírus. E agora?
O que deveríamos fazer com esse paciente? Essa foi a mesma pergunta da esposa enfermeira. O médico do “Jamaica Hospital Medical Center”, Dr. Lasic, orientou cineangiocoronariografia para o paciente o mais precoce possível (não vamos aprofundar se a conduta foi correta ou não).
No procedimento, o paciente apresentava um trombo que se estendia da artéria descendente anterior, em terço proximal até terço médio, sendo submetido à terapia de perfusão percutânea, e recebendo alta no dia seguinte.
O QUE PODEMOS REFLETIR A PARTIR DISSO?
O receio é que situações como essa, e muitas outras também com importante gravidade, ocorram de forma cada vez mais frequente. E quantos pacientes terão a sorte que o paciente acima relatado teve? Essa é a questão!
Isso ocorre porque, com a pandemia pelo coronavírus, a atenção médica está muito concentrada no tratamento e acompanhamento dos indivíduos afetados pela infecção viral. Com isso, há importante preocupação se vamos conseguir manter um atendimento de boa qualidade para os pacientes com doenças com potencial de gravidade, que não estejam infectados pelo vírus.
Aqui, podemos fornecer um exemplo! Alguns protocolos na especialidade de oncologia tiveram que ser revistos, na tentativa de minimizar a frequência das visitas à quimioterapia, além de tentar reduzir o grau de imunossupressão desses pacientes. Até que ponto isso é benéfico ou maléfico para os pacientes? Ainda não temos total certeza!
PESQUISAS E AVANÇOS SOBRE TRATAMENTO PARA OUTRAS DOENÇAS?
Não há dúvidas que as pesquisas e o empenho para novas descobertas no tratamento de doenças como neoplasias, outras infecções, doenças crônicas ficaram atrasadas e atrapalhadas pela situação que estamos vivendo.
Há diversos motivos para tal acontecimento: recrutamento de médicos e profissionais de saúde para apoio à assistência na pandemia; deslocamento de investimentos; entre diversos outros motivos.
OUTROS DILEMAS:
Outros problemas são as necessidades de realização de procedimentos hospitalares em alguns pacientes, enquanto há necessidade de proteger os cuidadores desses pacientes, e também de preservar certa capacidade de leitos do hospital para uma possível demanda pela pandemia.
Não foi e não está sendo incomum, no contexto da pandemia, muitos pacientes com fatores de risco para doenças importantes iniciarem sinais/sintomas que mereciam ser avaliados em regime hospitalar, com medo de procurar o serviço de saúde pela “chance de infecção”.
No entanto, muitas vezes o paciente demora mais tempo e, quando procura o hospital, já está se apresentando em uma forma muito mais grave ou urgente do acometimento.
Um outro ponto é o atraso em possíveis procedimentos e diagnósticos, pela necessidade de se afastar uma infecção por coronavírus antes de prosseguir nos tratamentos específicos de algum caso, o que pode agravar alguns casos clínicos.
Alguns procedimentos considerados eletivos não são tão eletivos. Por exemplo, pacientes com doença valvar aórtica, muitas vezes esperando alguma intervenção em regime ambulatorial, tiveram seus procedimentos adiados e evoluíram a óbito nesse contexto.
São perfis de pacientes que muitas vezes não podem aguardar meses ou seja lá quanto tempo até o fim da pandemia.
MENOR FLUXO NAS EMERGÊNCIAS MÉDICAS:
Na prática médica, notamos que as emergências, nesse período de pandemia pelo novo coronavírus (Covid-19), tornaram-se mais vazias com relação a outras situações, como infarto agudo do miocárdio, síndromes aórticas, pneumonias bacterianas, infecções urinárias e várias outras situações clínicas.
Será mesmo que essas condições estão acontecendo menos? A resposta é não!
O fato é que os pacientes estão mais resistentes em procurar uma emergência médica, pelo receio da chance de infecção pelo vírus. Os médicos também estão mais relutantes em encaminharem seus pacientes para as emergências.
De certa forma, isso possui uma lógica, já que temos que nos proteger e proteger nossos pacientes da infecção pelo Covid-19. Porém, o limiar é tênue para quando não postergar a ida à emergência, não permitindo que uma situação importante deixe de ser tratada ou que uma condição simples evolua de forma complicada.
AUMENTO DO NÚMERO DE ÓBITOS EM CASA:
Durante a pandemia, em todo o mundo, vem se notando o aumento do número de mortes em casa, o que reflete exatamente essa discussão que tivemos anteriormente.
GUILHERME, E QUAL SERIA A SOLUÇÃO?
O Sistema de Saúde como um todo tem que se adequar à nova realidade, para que não percamos a qualidade do atendimento médico e não coloquemos em risco pacientes que possuem doenças crônicas ou outras comorbidades.
Nem em maior risco para adquirir a infecção pelo novo coronavírus, nem deixarem de ser tratados para as suas condições crônicas ou alguma emergência médica.
Uma das estratégias, que vem sendo aprimorada, é a telemedicina, visando orientar os pacientes, reavaliá-los, realizar prescrições médicas e, até mesmo, encaminhá-los para uma emergência médica de imediato, quando indicado.
Sendo assim, vamos aprendendo dia após dia com a situação que estamos passando, porém devemos sempre lembrar que as outras doenças e comorbidades não deixaram de existir!
Gostei do Artigo.
Lhe escrevo para parabenizar o seu artigo.
O Jaleko e o Guilherme Pompeo agradecem pelo seu comentário e consequente elogio! 😛
Muito obrigado, Domingas!
Esperamos que continue lendo e gostando do nosso conteúdo!
Um grande abraço!