Introdução: o Dr. Claude Beck é famoso pela descoberta da tríade clássica conhecida como Tríade de Beck. Esse médico, assim como diversos outros, dedicou a sua vida para estudar Medicina e é reconhecido até hoje na descrição dos achados semiológicos de pacientes cardiopatas.
Biografia: Nascido em 8 de novembro de 1894, na cidade da Pensilvânia, Claude Beck foi um médico dos Estados Unidos da América e também o primeiro professor de cirurgia cardíaca da região Norte Americana. Filho de Simon e Martha Schaeffer, se formou em Medicina no Franklin & Marshall College, no ano de 1916, se especializou em cirurgia cardíaca na Universidade de Cleveland, no ano de 1924, e concluiu o seu doutorado na Universidade Johns Hopkins em 1921. Casou-se com Ellen Manning, em 1928, e juntos tiveram três. E, após contribuir tanto com a medicina Norte Americana e mundial, aos 77 anos sofreu um Acidente Vascular Cerebral e não resistiu.
Contribuições na Medicina: Beck se destacou na Medicina e na cirurgia cardíaca, principalmente por sua habilidade em operar músculos cardíacos, que foram danificados por patologias prévias. Outra contribuição foi a descoberta de uma maneira em que ele conseguia retornar o ritmo cardíaco sinusal em pacientes que sofreram um ataque cardíaco. Essa conquista foi através da desfibrilação e da massagem cardíaca (RCP). No ano de 1930, estudou intensamente para aprimorar suas técnicas cirúrgicas, pois havia percebido que, durante as suas cirurgias cardíacas, o coração dos seus pacientes entrava em fibrilação ventricular, causando diversas mortes na sua mesa de operação. E, em 1947, ele conseguiu devolver a vida de seu primeiro paciente em parada cardíaca, utilizando esse mesmo desfibrilador.
Beck também contribuiu bastante, e principalmente, no tratamento cirúrgico de patologias cardiovasculares. Quando começou a trabalhar com o Dr. Cutler, passou a interessar-se pela doença arterial coronariana e investiu seus estudos em como melhorar o tratamento desses doentes. Além de realizar a primeira cirurgia cardíaca e a primeira desfibrilação, Beck foi o primeiro médico a participar e realizar uma extração de tumor no coração. Em 1924, Cutler e Beck iniciaram uma tentativa de amenizar os sintomas da estenose mitral com a ajuda de um novo aparelho, chamado cardiovalvulótomo, e Beck foi o pioneiro no estudo desses equipamentos. Além de contribuir na área da cirurgia cardiovascular, contribuiu também na neurocirurgia, sendo um dos primeiros médicos a usar as placas de vitélio para a correção de defeitos cranianos.
Claude Beck também foi responsável por estudar diversos problemas que pareciam estar relacionados com a cirurgia cardíaca, incluindo o estudo dos traumas cardíacos (penetrantes e não penetrantes), técnica de sutura das feridas cardíacas, uso de anestésicos durante os procedimentos cirúrgicos do coração e também da desfibrilação dos ventrículos direito e esquerdo, como abordado anteriormente. Ele também ajudou no desenvolvimento de diversas operações para o tratamento da estenose pulmonar e mitral, dissecção da aorta e persistência do canal arterial em crianças. Em 1952, foi nomeado para o prêmio Nobel de Medicina.
A cardiopericardioplexia foi um outro procedimento que Beck desenvolveu, que se baseava em fornecer sangue para o músculo cardíaco, mesmo na presença de uma obstrução coronariana. Após vários testes em animais, em 1935 finalmente o procedimento foi realizado em seres humanos. Essa foi a denominada “Operação de Beck I”, em que ele conseguia o suprimento de um sangue adicional por meio da criação de novas células granulomatosas e vasculares. Essas células se aderiam nos tecidos localizados entre o coração e o pericárdio, e isso era conseguido por meio da colocação de pó de amianto, principalmente, no saco pericárdico desses pacientes. Durante 7 anos, Claude operou 37 pacientes utilizando essa nova técnica. Mas teve suas pesquisas interrompidas quando, em 1942, adentrou no serviço militar do exército, junto com o corpo médico, e passou a se dedicar à defesa do seu pais. E foi ainda no exército que teve mais certeza de que a maioria das doenças cardíacas eram tratadas através de procedimentos cirúrgicos.
Depois que sua serventia no exército teve fim, ele desenvolveu a “Operação de Beck II”, que nada mais era do que a construção de um enxerto venoso localizado entre a aorta e o seio coronariano de determinados pacientes. E, com isso, ele estimulava o crescimento das comunicações intercoronarianas. Realizou 124 dessas cirurgias, porém, em 1954, esse procedimento apresentou diversas dificuldades, retrocedendo, então, para a operação de Beck I, que havia mais probabilidades de sucesso.
Entre os anos de 1925 e 1935, Beck intensificou os seus estudos acerca do tamponamento cardíaco (agudo e crônico), descrevendo a tríade que levou o seu nome, a tríade de Beck.
A tríade de Beck: A tríade de Beck é uma tríade caracterizada por 3 sinais que, quando associados, dizem muito a favor de uma patologia de origem cardíaca, como, por exemplo, o tamponamento cardíaco, e está presente em 30% dos pacientes que possuem essa doença. O tamponamento cardíaco é uma condição clínica em que o coração do paciente sofre um acúmulo de líquido, e, como consequência disso, aumenta a pressão intra pericárdica, que vai depender da quantidade de líquido que estiver acumulado. Com isso, a capacidade cardíaca de contratilidade se torna reduzida, pois o líquido ali presente impossibilita o coração de se contrair adequadamente. Devido a elevadas pressões diastólicas, o enchimento do ventrículo se reduz, assim como a pressão sistólica. Essa tríade é composta por hipofonese de bulhas, hipotensão arterial e turgência jugular. Como principais etiologias do tamponamento cardíaco, podemos destacar os traumas cardíacos, pericardite, aneurismas e iatrogenia.
Quando o saco pericárdico se enche de líquido de uma maneira abrupta, a pressão de compressão do ventrículo se eleva, porque a veia cava passa a ser comprimida por esse líquido. Em consequência disso, o sangue não consegue chegar ao ventrículo, gerando aumento da pressão venosa central e promovendo o fenômeno da turgência jugular. A hipotensão arterial acontece pela diminuição do enchimento do ventrículo, ocasionado por aquela ausência de contratilidade adequada. Já a hipofonese de bulhas ocorre porque, com o líquido, o coração e a caixa torácica atingem uma distância mais elevada. Por isso que na ausculta os sons estão diminuídos.
Conclusão: Embora a tríade de Beck não tenha uma sensibilidade alta no diagnóstico de um tamponamento cardíaco, ela nos ajuda, na prática clínica, a suspeitar dessa condição. Porém, cabe lembrar e ficar atento que muitos pacientes com o tamponamento cardíaco podem não apresentar os sintomas da tríade clássica, por isso, a sua ausência não deve excluir o seu diagnóstico! E conhecer os grandes pesquisadores que estão por trás dessas descobertas nos faz entender a fisiopatologia dessas condições, além de facilitar o entendimento, porque dessa maneira somos capazes de reviver o que esses pesquisadores viveram há vários anos atrás e a luta que seguiram dentro da Medicina para chegar aonde chegaram.