A Doença de Chagas (também conhecida como Tripanossomíase Americana) é uma doença infecciosa causa pelo protozoário Trypanosoma cruzi. Tem como marca poder ser manifestar de forma aguda (sendo sintomática ou não nesta fase) e uma fase crônica, que se apresenta nas seguintes formas: indeterminada, cardíaca, digestiva ou cardiodigestiva.
A prevenção da doença está diretamente ligada com a forma de transmissão da mesma. A principal forma de transmissão ainda é, nos países mais acometidos, pela picada do inseto “barbeiro” (no Brasil, os dados mais atuais referem que esse mecanismo de transmissão foi interrompido desde 2006). Com isso, a principal forma de prevenção se dá pela tentativa de evitar a picada do mesmo (inseticidas aplicados por equipe especializada, repelentes, uso de roupas de mangas longas, utilização de mosquiteiros, telas metálicas, etc.)
É uma doença que pode ser considerada endêmica em algumas regiões do Brasil e no continente americano. Há alguns casos da doença em países não endêmicos por outros mecanismos de migração e pela migração intensa de latino-americanos pra outros continentes.
Desde 2006, o Brasil recebeu a certificação internacional da interrupção da transmissão vetorial pelo Triatoma infestans. No entanto, a estimativa é que haja, pelo menos, 12 milhões de portadores da doença crônica nas Américas e no Brasil cerca de um milhão de pessoas infectadas. Apesar desses dados, o risco de transmissão vetorial da Doença de Chagas ainda existe por alguns fatores: existência de espécies autóctones de triatomíneos com elevado potencial de colonização; presença de reservatórios de T. cruzi e da aproximação cada vez mais frequente das populações humanas a esses ambientes; persistência de focos residuais de T. infestans ainda existentes em alguns municípios dos estados da Bahia e Rio Grande do Sul.
Recentemente, no final do mês de Maio deste ano, Pernambuco registrou o maior surto de fase aguda de Doença de Chagas da sua história, totalizando mais de 20 casos confirmados. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, as pessoas que foram contaminadas participaram de um retiro religioso na Semana Santa, no município de Ibimirim, sertão pernambucano. No entanto, ainda não há evidências sobre a definição da forma de transmissão da doença nesses casos.
O objetivo deste artigo é exatamente tentar abordar todas as formas de transmissão conhecidas desta doença. Então, vamos lá!
COMO A DOENÇA DE CHAGAS É TRANSMITIDA?
As principais formas de transmissão da Doença de Chagas são:
– Vetorial: contato com as fezes de triatomíneos (“barbeiro”; “chupão”; “procotó”; “bicudo”) infectados após sua picada/repasto (na verdade, a infecção mais descrita é a entrada das fezes do inseto no orifício criado pela picada após coçadura do indivíduo picado). Essa forma de transmissão possui um período de incubação de 4 a 15 dias.
Só explicando um pouco melhor esta forma de transmissão (a mais tradicional – não mais no Brasil): assim que o “barbeiro” termina de se alimentar (após a picada da vítima) ele defeca, eliminando os protozoários e colocando-os em contato com a ferida aberta na pele da vítima.
– Oral: ingestão de alimentos contaminados com triatomíneos infectados. Nessa forma de transmissão, o T. cruzi infecta principalmente células da boca e do estômago. Período de incubação: 3 a 22 dias.
Há diversos relatos, no Brasil, de infecções ocasionadas por este meio de transmissão. Casos após ingerir caldo de cana com a cana de açúcar infestada de triatomíneos infectados; ingestão de açaí moído com insetos também infectados; entre outras.
– Vertical: pela passagem de parasitos de mulheres infectadas com T. cruzi para o feto durante a gravidez ou parto.
– Transfusão de sangue ou transplante de órgãos de doadores infectados. Incubação: > 30-40 dias.
– Acidental: contato da pele ferida ou de mucosas com material contaminado durante manipulação em laboratório, por exemplo. Período de incubação: até 20 dias, aproximadamente.
Há outros possíveis meios de infecção? Sim! Há hipóteses de que a transmissão também possa ocorrer por via sexual (mulher infectada no período menstrual transmitindo para o homem; homem infectado transmitindo para mulher através do sêmen). Outra situação hipotética é o compartilhamento de seringas entre usuários de drogas injetáveis.
QUAIS SERIAM ALGUMAS DICAS E FORMAS PARA PREVENÇÃO DA INFECÇÃO?
– No caso de encontrar um triatomíneo em casa: não esmagar, apertar, bater ou danificar o inseto; proteger a mão com uma luva ou saco plástico; capturar o inseto e colocá-lo em recipiente que possa acondicionar sem risco de fuga; identificar o recipiente com a data, cômodo onde foi capturado, endereço e nome do responsável pela captura; levar até um centro de referência para avaliação do inseto, se possível;
– Em relação à transmissão oral: intensificar as ações de vigilância sanitária e inspeção em todas as etapas da cadeia de produção de alimentos susceptíveis à contaminação; instalar fonte de iluminação distante dos equipamentos de processamento do alimento para evitar a contaminação acidental por vetores atraídos pela luz; realizar constantemente ações de capacitação para manipuladores de alimentos; resfriamento ou congelamento de alimentos não previne a transmissão oral, mas sim o cozimento acima de 45ºC, pasteurização e liofilização;
– Combate aos vetores: uso de inseticidas por equipe técnica capacitada; uso de mosquiteiros e telas para proteger janelas e áreas por onde o inseto possa entrar no domicílio; uso de medidas de proteção individual (camisas de manga longa, repelentes, calças, etc).