O sarampo, anteriormente considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) uma doença erradicada desde 2016, tem se apresentado um tema em alta nos últimos tempos em vista aos surtos de sarampos mais recentes, no decorrer do ano de 2018, principalmente na região Norte do país, nos estados do Amazonas e Roraima. Segundo a OMS, foram reportados nos últimos anos casos de sarampo em diversas partes do mundo, onde os continentes europeu e africano apresentaram o maior número de casos da doença. Se constitui uma importante causa de óbito infantil pelo mundo, principalmente em crianças menores de 5 anos.
Vamos entender melhor o que seria essa doença?
Trata-se de uma doença grave e altamente contagiosa, causada pelo vírus do gênero Morbillivirus da família Paramyxoviridae. A caracterização viral identificada nos surtos traz o genótipo D8 como principal causa, o mesmo circulante na Venezuela que enfrenta desde julho de 2017 surto de sarampo. Sua transmissão se dá por contato com secreções nasofaríngeas ou aerossóis que se mantêm em suspensão no ar por mais de 1 hora em ambientes fechados, com maior chance de transmissão dois dias antes e após o surgimento do rash.
Em vista dessa alta transmissibilidade, as estratégias de profilaxia através da vacinação são de extrema importância, sendo, portanto, incluída no calendário vacinal gratuito pelo Ministério da Saúde (MS) como tríplice viral aos 12 meses (1ª dose – D1), que inclui também imunização para Parotidite infecciosa (ou Caxumba) e Rubéola, e a tétrade viral aos 15 meses (2ª dose – D2), que inclui além dessas citadas anteriormente a vacinação para Varicela (ou catapora). Caso a criança não tenha sido vacinada no tempo previsto, é necessário realizar duas doses, se idade até 29 anos, ou se maior de 30 anos apenas uma dose.
Fonte: Calendário Nacional de Vacinação. Ministério da Saúde, 2018.
As ações com vacinação têm sido intensificadas nas regiões dos surtos, com um objetivo de uma cobertura vacinal, segundo recomendação da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), acima de 95% para ambas as doses. Em agosto de 2018 foi realizada a Campanha de Vacinação contra o Sarampo, prioritariamente em crianças de 1 a 5 anos, mesmo que já vacinadas com as duas doses. É importante ressaltar que a vacinação é contraindicada a gestantes, imunodeprimidos, menores de 6 meses e história de anafilaxia prévia à vacina.
Importante lembrar: essa é uma doença de notificação COMPULSÓRIA e IMEDIATA (até 24h)! Para isso é importante saber identificar os casos suspeitos.
Link da ficha de Notificação SINAN
As manifestações clínicas envolvem uma fase prodrômica com duração de poucos dias com febre, tosse intensa, coriza, conjuntivite intensa que pode cursar com fotofobia, e seu enantema patognomônico, as manchas de Koplik (máculas branco-azuladas com 1 mm de diâmetro e halo eritematoso, tipicamente em mucosa jugal, na altura dos pré-molares).
A fase exantemática segue com um exantema maculopapular morbiliforme, caracterizado por presença de lesões maculopapulares avermelhadas com regiões sãs de permeio, podendo confluir. Tem início no pescoço, em região retroauricular e face, acompanhando linha de implantação capilar, progredindo em sentido craniocaudal. Na fase de convalescença, o exantema muda para uma coloração acastanhada e apresenta uma descamação fina, descrita como furfurácia (com aspecto de farinha).
O diagnóstico laboratorial envolve a detecção sorológica do IgM no sangue em fase aguda de doença. Os títulos de IgM surgem entre 1 ou 2 dias do surgimento do exantema e permanecem elevados por até um mês, devido a isso, a primeira amostra de sangue deve ser coletada o mais precoce possível, dentro desse período. Os anticorpos específicos da classe IgG começam a aparecer logo após a fase aguda da doença, desde os primeiros dias e, geralmente, continuam sendo detectados muitos anos após a infecção. Atualmente, também é necessária a coleta de amostras biológicas (sangue total, urina e secreção nasofaríngea) para o isolamento viral a fim de conhecer o genótipo do vírus circulante, identificando possível importação viral e diferenciando o vírus selvagem do vírus vacinal.
Identifiquei e notifiquei, e agora, como tratar?
Já adianto que não há um tratamento específico. Em casos graves, deve-se proceder com a internação hospitalar com suporte adequado com hidratação, nutrição adequada, reposição eletrolítica, uso de antipiréticos e suporte ventilatório, se necessários. No entanto, a Academia Americana de Pediatria recomenda o uso de vitamina A para diminuição de morbimortalidade, visto que a hipovitaminose A constitui-se fator de risco para a doença grave.
E os contactantes?
Deve-se realizar a vacinação de bloqueio em até 72h após exposição de contactantes (intradomiciliares, creches, alojamento, sala de trabalho). Para os pacientes com contraindicação, já mencionados anteriormente, recomenda-se receberem a Imunoglobulina em até 6 dias após a exposição.
Você deve estar se perguntando, mas por que vacinaremos esse indivíduo, sendo que já foi exposto?
A justificativa é que a produção de anticorpos pela vacina ocorre em tempo menor que o período de incubação da doença, por isso deve ser administrada mais precocemente possível .