Introdução
O uso de antidepressivos, principalmente de inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) tem se tornado cada vez mais frequente. Devido ao fato de serem relativamente seguros e eficazes, seus uso expandiu-se de depressão para ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, transtornos alimentares e muitas outras condições psiquiátricas.
No entanto, como bem sabemos, nenhum tratamento é isento de riscos. Isso fez com que nos últimos anos os efeitos colaterais dessas drogas tenham começado a receber mais atenção. Não só os fabricantes de medicamentos foram instruídos a acrescentar alertas sobre os “perigos” envolvidos, como também os profissionais de saúde começaram a se preocupar mais com os efeitos colaterais associados ao uso de ISRSs. Vamos falar um pouco sobre esses possíveis efeitos?
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Sintomas Físicos
Alguns pacientes que usam ISRSs podem desenvolver insônia, erupções cutâneas, dores de cabeça, dores articulares e musculares, dores de estômago, náuseas ou diarreia. Esses problemas geralmente são temporários e leves. No entanto, um problema potencialmente grave é o comprometimento da hemostasia, podendo a coagulação ser prejudicada devido à diminuição da concentração do neurotransmissor serotonina nas plaquetas.
Por isso, esses pacientes em geral possuem risco aumentado de sangramento gástrico ou uterino, além de serem mais propensos a necessitar de transfusões sanguíneas durante ou após uma eventual cirurgia. Tal risco torna- se ainda maior caso o paciente faça uso de outras mediações que também dificultem a hemostasia, como os AINEs. Se os pacientes usarem ISRSs e AINEs ao mesmo tempo, o risco mais do que dobra! Ou seja, devemos ter em mente que a combinação das duas classes fármacos deve ser pensada com cautela.
Movimentos Involuntários
Os movimentos involuntários incluem tiques, espasmos musculares, discinesia, parkinsonismo e acatisia, os quais podem ser acompanhados por ansiedade severa. Embora raros, esses sintomas são mais prováveis em idosos e em pacientes que usam fluoxetina e citalopram, os quais possuem meia- vida mais longa.
Os tratamentos incluem medicações como diazepam, propranolol e drogas antiparkinsonianas. A troca para outro antidepressivo também pode ajudar e por vezes torna- se necessária.
Efeito Sexual
Para muitos pacientes, os ISRSs diminuem o interesse sexual, o desempenho e até mesmo a satisfação. Nos homens, os ISRSs podem retardar ou inibir a ejaculação e, nas mulheres, atrasar ou impedir o orgasmo. Eles também podem impedir a lubrificação da vagina, a ereção do pênis e o ingurgitamento do clitóris. Caso possível, diminuir a dose administrada pode ajudar. Outra solução é adicionar ou substituir pela bupropiona, que funciona por um mecanismo diferente e geralmente não causa efeitos colaterais sexuais.
Interações Medicamentosas
Se um ISRS é administrado juntamente com outra droga que aumenta a atividade da serotonina, pode desencadear uma síndrome serotoninérgica. Em particular, os ISRSs não devem ser misturados com inibidores da monoamina oxidase, como a fenelzina (Nardil) e a clomipramina (Anafranil).
Idosos
Os ISRSs são mais seguros do que os antidepressivos tricíclicos para pessoas idosas, pelo menor número e pela menor gravidade de efeitos colaterais. Por essa razão, as pessoas mais velhas se saem melhor com drogas rapidamente metabolizadas, como a sertralina.
Sintomas de Descontinuação
Os sintomas que podem ocorrer ao interromper um ISRSs incluem perda de coordenação, fadiga, visão turva, insônia, sonhos vívidos, dentre outros. Menos frequentemente, pode haver náusea ou diarreia, sintomas semelhantes aos da gripe, irritabilidade, ansiedade e crises de choro. Esses sintomas são geralmente (mas nem sempre) leves e breves, com pico na primeira semana. Embora nenhuma dessas drogas deva ser interrompida abruptamente, a paroxetina tende a produzir os sintomas de descontinuação mais intensos.
Suicídio
O risco de os antidepressivos incitarem ações violentas ou autodestrutivas é objeto de controvérsia. Pensamentos suicidas em pacientes tomando ISRSs foram relatados pela primeira vez em 1990, logo após a introdução das drogas.
Uma análise de ensaios clínicos em pacientes com menos de 18 anos descobriu que os ISRSs aumentavam o risco de pensamentos suicidas quando comparados a um placebo. Muitos estudos se seguiram e, embora os resultados variem, há uma tendência consistente.
Em outubro de 2004, o FDA emitiu um Aviso de Caixa Preta para médicos e farmacêuticos – sua mais forte medida disponível para a retirada de um medicamento do mercado. A advertência é colocada nos folhetos informativos de todos os antidepressivos de uso comum. Menciona o risco de pensamentos suicidas, hostilidade e agitação em crianças e adultos, citando especificamente análises estatísticas de ensaios clínicos. O FDA também emitiu um aviso público para pais, médicos e farmacêuticos.
Se liga!
Vale mencionar que sentimentos e pensamentos autodestrutivos em pacientes que tomam ISRSs podem ser uma resposta à ansiedade ou à acatisia. Além disso, por vezes, uma pessoa com depressão bipolar recebe um antidepressivo.
Um resultado ruim pode ser evitado pelo acompanhamento regular e monitoramento rigoroso. Os pacientes devem ser avisados de que há uma pequena chance de se sentirem pior por um tempo. Devem deixar seus médicos cientes imediatamente caso comecem a se sentir pior ou desenvolvam novos sintomas, especialmente após a mudança da medicação ou da dose.
O outro lado
O significado prático das descobertas sobre o pensamento suicida ainda é incerto. A taxa de suicídio de pessoas com depressão maior é de 15%, e a depressão também pode ser letal de outras maneiras. Somado a isso, a taxa de suicídio nos EUA, por exemplo, diminuiu quase 15%, enquanto o uso de ISRS nessa faixa etária aumentou quase 70%.
Alguns sempre pensam que as drogas são usadas em demasia, outras que não são usadas o suficiente. Decisões sobre ISRSs envolvem consciência profissional, bem como interesses econômicos, incluindo a preocupação com o aumento dos custos dos cuidados de saúde. Também há outros questionamentos, como se a popularidade atual do tratamento medicamentoso significa que a psicoterapia está sendo negligenciada.
Conclusão
Diante disso, o ideal é que, assim como qualquer remédio, os antidepressivos sejam prescritos apenas para os pacientes que realmente possuem indicação clínica, a fim de que se evite o uso excessivo e/ou desnecessário. Enquanto isso, aguardamos por novos estudos e por mais detalhes sobre o assunto.
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