Hoje, 11 de outubro, celebramos o Dia Nacional do Combate à Obesidade, que possui enorme importância considerando hoje a alta prevalência da obesidade e todas as consequências que ela pode trazer.

Quando e como surgiu esse dia?
O dia Nacional de Prevenção à Obesidade foi instituído em 23 de junho de 2008, pela lei nº 11.721. Segundo o artigo 1º o objetivo é conscientizar a população sobre a importância de prevenir a obesidade.
A conscientização é importantíssima, tanto para desfazer os estigmas e estereótipos preconceituosos a cerca da obesidade quanto para estimular os indivíduos obesos a buscarem formas de tratamento da obesidade prevenindo assim inúmeras comorbidades, como diabetes mellitus, doenças cardiovasculares, asma, esteatose hepática, e alguns tipos de câncer.
O que é a obesidade?
A obesidade, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é uma condição crônica gerada pelo acúmulo excessivo de gordura e que traz inúmeras repercussões à saúde. Por isso a importância em prevenir. A OMS considera ainda a obesidade como uma epidemia mundial decorrente do perfil alimentar e da atividade física.
Obesidade como epidemia mundial
A prevalência da obesidade vem aumentando ao longo dos anos. Desde 1975 as taxas triplicaram segundo a OMS e em crianças o cenário é ainda pior, nesses últimos anos o aumento foi de cinco vezes.
A projeção para 2025 é de 2,3 bilhões de adultos acima do peso ao redor do mundo e 700 milhões de indivíduos obesos.
No Brasil, segundo dados do Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), nos últimos 13 anos houve um aumento de 67,8%.
A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) fornece um “Mapa da Obesidade” com dados extraídos do Vigitel, mostrando a porcentagem de homens e mulheres obesos por estados. Você pode consultar no site https://abeso.org.br/obesidade-e-sindrome-metabolica/mapa-da-obesidade/.
Medidas de enfrentamento a obesidade no Brasil
O Brasil, ao longo dos últimos anos, instituiu diversas medidas para prevenção e controle da obesidade, por meio de políticas públicas.
A Política Nacional de Alimentação e nutrição (http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_alimentacao_nutricao.pdf) (PNAN, 1999), revisada em 2012 tem como propósito a melhoria das condições de alimentação, nutrição, e saúde da população brasileira, por meio da promoção de práticas alimentares saudáveis, vigilância alimentar e nutricional, e prevenção e cuidado integral aos agravos decorrentes da alimentação e da nutrição.
Além disso, em 2006 pela Lei 11.346, foi criado o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), é um sistema público que busca garantir o direito humano à alimentação adequada (DHAA) e à soberania alimentar. Esse sistema é composto pelo Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), pela Câmara governamental Intersecretarial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN) e pela Conferência de Segurança Alimentar e Nutricional.
E em 2011, foi criado o Plano de enfrentamento para doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), que conta com eixos como vigilância, informação, avaliação, monitoramento, promoção e prevenção da saúde e cuidado integral.
O plano possui dentre suas metas, a redução da prevalência de obesidade em crianças, adolescentes e adultos, aumentar a atividade física e consumo de frutas e hortaliças, entre outras metas.
Caracterizando a Obesidade
Para definir a obesidade, utiliza-se o Índice de Massa Corporal ( IMC). Para calcular o IMC é necessário o conhecimento do peso atual e da altura.

Cálculo:

Após realizar o cálculo, basta consultar a tabela com os valores de IMC.

Todo esse processo pode ser realizado em calculadoras de IMC, como a calculadora disponibilizada pela ABESO.
Por que ocorre a obesidade?
A obesidade é uma doença com patogênese multifatorial, englobando fatores genéticos, ambientais, estilo de vida e fatores emocionais.
Grande parte é por causa primária, cerca de 95%, e possui a etiologia desconhecida (o que se sabe é que ocorre a interação desses múltiplos fatores). Uma pequena porcentagem é por causa secundária que pode incluir doenças como síndrome de Cushing, hipotireoidismo, Síndrome dos Ovários Policísticos, entre outras.
E falando sobre a obesidade primária que corresponde a grande maioria, a fisiopatologia basicamente consiste em uma energia consumida maior que a energia gasta. Diariamente, consumimos alimentos que contêm diferentes quantidades de energia, e realizamos nossas atividades que utilizam essa energia.
Porém, quando o uso é menor do que o consumo, há um acúmulo da energia na forma de tecido adiposo. Normalmente, temos o tecido adiposo em nosso organismo revestindo as vísceras e presente também em nosso tecido subcutâneo.
Quando há o excesso de tecido adiposo, o acúmulo pode ocorrer nesses locais, e principalmente o acúmulo de gordura visceral pode ser muito maléfico.

E por que alguns consomem mais energia do que outros?
No hipotálamo existem alguns centros que realizam o controle do apetite e da saciedade, e são estimulados por neurotransmissores e hormônios produzidos pelo trato gastrointestinal, pâncreas e tecido adiposo.
Algumas substâncias que participam desse controle são conhecidas. A leptina é uma dessas substâncias, e é produzida pelos adipócitos frente ao excesso de alimentação e ganho de peso. A ação da leptina é inibir o apetite e ativar a saciedade.
Essas ações se dão, pois, a leptina bloqueia a liberação do neuropeptídeo Y e estimula a secreção do alfa-MSH (que promove a saciedade).
Outra substância envolvida é o Neuropeptídeo Y, o principal orexígeno, que estimula o apetite no sistema nervoso central. Também são produzidas substâncias anorexígenas (que inibem o apetite ou estimulam a saciedade) como serotonina, noradrenalina, alfa-MSH, CRH, TRH e fator de transcrição regulado por cocaína e anfetamina.
Perifericamente, no estômago e duodeno, uma substância importante é produzida, a grelina, que estimula o apetite. Por outro lado, após a refeição, são produzidas algumas substâncias no trato gastrointestinal como a colecistoquinina, peptídeo YY, peptídeo glucagon like tipo 1, entre outros, que inibem o apetite.
Assim, sabe-se que, essas substâncias estão envolvidas no processo.
E por que alguns gastam menos energia do que outros?
Você já deve ter ouvido falar em “metabolismo basal”, é comum até ouvirmos “meu metabolismo é acelerado” ou “meu metabolismo é lento”.
Dentro do nosso gasto diário, 70% é consumido pelo metabolismo basal. O que é o metabolismo basal? É o gasto que ocorre em um indivíduo deitado, acordado e em jejum. Ou seja, 70% é consumido com o funcionamento do nosso organismo em geral, em momentos que não estamos fazendo “nada”.
E qual a diferença do metabolismo basal entre as pessoas? Sabe-se que há uma grande faixa de variação do metabolismo basal entre as pessoas, sendo que ele pode variar entre 1.200-3.000 kcal/dia.
Outros 10% da energia consumida, se dá após uma alimentação, onde ocorre a termogênese dos alimentos consumidos.
E os outros 20%? São gastos em atividades físicas realizadas, ou seja, se você não realiza nenhuma atividade física, se é sedentário, esses 20% se acumulam diariamente, e como já conversamos, o acúmulo é em forma de tecido adiposo.
Influência de condições mentais na gênese da obesidade
Algumas doenças mentais podem ter como consequência a obesidade.
Além disso, alguns medicamentos utilizados no tratamento de distúrbios mentais podem ter como efeitos colaterais o aumento do peso.
O World Obesity Day traz as “raízes da obesidade”. Leia mais em https://www.worldobesityday.org/.
Complicações da Obesidade
Você certamente sabe que, a obesidade não é “simplesmente” algo estético, ela é uma doença e que pode ter várias complicações, além de ser fator de risco para inúmeras doenças.
A obesidade é o principal fator de risco para o desenvolvimento de diabetes mellitus tipo II, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes.
Sabemos que o Diabetes Mellitus II (DM II) é uma doença marcada por altos níveis de glicemia e níveis normais ou elevados de insulina, porém há uma resistência insulínica, e assim a insulina não consegue realizar seu papel de estimular a captação e utilização da glicose.
Essa resistência à insulina pode provocar outra complicação que é a acantose nigricans uma alteração cutânea com hiperceratose (excesso de queratina) e hiperpigmentação.
Outra complicação é a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), a obesidade é um importante fator de risco para HAS, segundo a 7ª diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Uma vez que a obesidade é causada por excesso de tecido adiposo (formado por triglicerídeos), indivíduos obesos possuem uma dislipidemia, com hipertrigliceridemia, aumento de LDL e redução de HDL.
A obesidade, juntamente a diversos fatores, é um importante fator de risco para doenças ateroscleróticas, principalmente a doença arterial coronariana, podendo levar a quadros crônicos como angina estável, ou quadros agudos como infarto agudo do miocárdio.
Outra doença que pode ser consequência da obesidade é a apneia do sono, doença caracterizada pela obstrução parcial ou total das vias respiratórias, provocando paradas repetidas e temporárias da respiração durante o sono. A obesidade pode levar a apneia do sono devido ao excesso de tecido mole sobre a garganta, levando a um menor espaço para passagem de ar.
A obesidade também contribui para o desenvolvimento de cânceres. No homem, alguns cânceres como câncer de próstata e câncer de estômago, podem ser complicações da obesidade, pois se sabe que muitas das doenças, incluindo doenças malignas, são uma união de fatores ambientais e fatores genéticos.
Já nas mulheres, os cânceres mais relacionados à obesidade são câncer de mama, endométrio e ovário.
Tratamento da Obesidade
O tratamento da obesidade é baseado em: dieta, atividade física, terapia medicamentosa, terapia comportamental e cirurgia.
O objetivo do tratamento é reduzir o risco de desenvolver as complicações da obesidade, como as listadas anteriormente.
Dieta hipocalórica
A dieta utilizada no tratamento da obesidade é uma dieta hipocalórica de modo a consumir menos calorias do que é utilizado, invertendo a “balança”.
Sendo o balanço calórico negativo, as calorias consumidas ao longo do dia não são suficientes para as atividades realizadas, e assim o organismo começa a usar a reserva já existente e assim promove a lipólise, e utilização da gordura como fonte de energia.
É importantíssimo que o paciente seja orientado quanto à educação alimentar aprendendo sobre as calorias contidas nos alimentos, disciplina nos horários de alimentação, concentrar-se no momento das refeições, evitar repetições, entre outras regras.
Atividade Física Regular
O exercício físico deve ser realizado juntamente a dieta hipocalórica. A atividade física auxilia na perda de peso por levar ao consumo de determinada energia, mas a atividade física é essencial na manutenção da perda de peso após a dieta.
O exercício indicado é o aeróbico, como caminhadas, ciclismo, natação, dança, entre outros. Deve-se realizar tal exercício por 150min/semana (quando a intensidade da atividade for moderada) e 75 min/semana (quando a intensidade é intensa).
Medicamentos
Nem sempre é necessário o uso de medicamentos. É um tratamento adjuvante.
Segundo a ABESO, a terapia medicamentosa pode ser realizada quando houver falha em perder peso com o tratamento não farmacológico (dieta hipocalórica + exercício físico), e o paciente tenha o IMC maior que 30 kg/ ou IMC maior que 25 kg/ na presença de comorbidades (HAS, DM II, dislipidemia, apneia do sono, osteoartrose, gota, entre outras).
No Brasil, segundo as Diretrizes Brasileiras de Obesidade de 2016, existem 3 medicamentos aprovados para o tratamento farmacológico da obesidade, a sibutramina, o orlistate e a liraglutida 3,0 mg.
A sibutramina é um bloqueador da recaptação de noradrenalina e de serotonina e promove a redução do apetite.
O orlistate é um análogo da lipstatina inibidor de lipases gastrointestinais e faz com que cerca de um terço dos triglicerídeos ingeridos não sejam digeridos e assim não sejam absorvidos, sendo eliminados nas fezes.
E liraglutida, um agonista do GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon – 1). Uma das funções do GLP-1 é promover a saciedade.
A liraglutida aumenta a meia vida do GLP-1 de 1-2 minutos para 13 horas, e, além disso, quando utilizada na dose de 3,0 mg, atua no hipotálamo em neurônios envolvidos no balanço energético, como em centros de prazer e recompensa, e interfere também na velocidade de esvaziamento gástrico.
Atua diretamente em neurônios que sintetizam pró-opiomelanocortina (POMC) e transcrito regulado por cocaína e anfetamina (CART) e indiretamente inibe a neurotransmissão nos neurônios que expressam neuropeptídeo Y (NPY).
Terapia Cognitivo – Comportamental
A terapia comportamental também traz resultados importantes no tratamento da obesidade. É uma técnica terapêutica que auxilia no tratamento, e que analisa e modifica os transtornos comportamentais associados ao estilo de vida do indivíduo. Busca-se, portanto, modificar hábitos prejudiciais.
Alguns exemplos de estratégias comportamentais que podem ser utilizadas são automonitoramento, controle de estímulos, resolução de problemas, reestruturação cognitiva, suporte social e entrevista motivacional.
No automonitoramento basicamente o paciente registra as ingestões alimentares, os episódios de compulsão alimentar e o que desencadeou tais episódios.
O controle de estímulos é utilizado para o manejo de situações que desencadeiam os transtornos comportamentais, seja por excesso na ingestão alimentar ou por sedentarismo.
A resolução de problemas visa identificar os problemas relacionados ao excesso de peso, e assim buscar solução para tais problemas.
A reestruturação cognitiva busca modificar as crenças e alteração do pensamento dos pacientes, como pensamentos incapacitantes, ou “tudo ou nada”.
O suporte social também é importante, tanto por amigos e familiares quanto por uma rede de profissionais.
E por fim, a entrevista motivacional que busca motivar a mudança dos hábitos, mas com técnicas especificas onde a pessoa considera sua situação atual e busca uma solução para si mesmo.
Tratamento cirúrgico
Sendo a obesidade uma condição que pode culminar em diversas complicações, e por isso pacientes com obesidade grave com IMC acima de 45 kg/ por terem uma redução da expectativa de vida e um grande aumento da mortalidade principalmente por doenças cardiovasculares. Assim, em determinadas situações a cirurgia bariátrica pode ser indicada.
As indicações para a cirurgia bariátrica são: idade de 18 a 65 anos, IMC maior que 40 kg/ ou 35 kg/ com uma ou mais comorbidades graves, além de ter documentado que os pacientes não conseguiram perder peso ou manter a perda de peso, realizando todas as medidas que conversamos anteriormente, há pelo menos dois anos.
Prevenção da Obesidade
A obesidade pode ser prevenida controlando alguns dos fatores envolvidos em sua gênese, principalmente o estilo de vida.
Para prevenção da obesidade é importante que o indivíduo tenha bons hábitos alimentares, evitando alimentos industrializados e ricos em gordura, açucares, refrigerantes e frituras.
Alguns alimentos que o consumo deve ser estimulado são carnes magras, massas integrais, vegetais, frutas.
Outro fator importante no momento da prevenção é a prática regular de atividade física, especialmente exercícios aeróbicos, como caminhadas, corridas, ciclismo, dança, entre outros.
E uma questão muito importante, que vem ganhando cada vez mais importância, é a prevenção da obesidade em crianças, pois, se a criança é obesa a chance dela continuar obesa na vida adulta é grande. Sendo assim, prevenir a obesidade na infância é crucial para a qualidade de vida da criança, e futuro adulto.
Vemos, portanto, o quanto a obesidade pode interferir nas condições de vida, e até mesmo na expectativa de vida dos indivíduos, e isso prova a importância de ser prevenida e quando já existente, deve ser adequadamente tratada.
Cuide-se!! Previna-se!