Ao escolher uma profissão, geralmente, avaliamos nossos valores e princípios, a partir do autoconhecimento que possuímos, para, então, tomar uma decisão assertiva acerca das atividades que iremos exercer no ambiente de trabalho.
Este, por sua vez, é uma atividade que ocupa a maior parte do nosso tempo e do nosso convívio em sociedade.
Entretanto, por mais que o trabalho faça parte da natureza humana, como um conjunto de atividades que exercemos de forma produtiva para atingirmos um determinado fim, nem sempre ele possibilita a realização profissional.
Ao contrário disso, aquela profissão que foi escolhida com tanto cuidado, para ser percebida primariamente como prazerosa, muitas vezes acaba sendo vista e sentida como um fardo, um sacrifício desencadeador da insatisfação profissional.
E por que aquela atividade que antes te fazia sentir tanto prazer, hoje gera sofrimento? Por que aquela profissão que você tinha tanto orgulho, hoje é reconhecida por você como foco de adoecimento?
O seu adoecimento pode não estar relacionado ao trabalho em si e as atividades que exerce e que escolheu com tanto carinho, mas pela carga emocional a que é exposto a maior parte do tempo no ambiente laboral.
Saiba identificar se sua tensão emocional evoluiu para o distúrbio psíquico conhecido como Síndrome de Burnout.
Síndrome de Burnout, o que é?
A Síndrome de Burnout, também conhecida como estresse ocupacional, é um estado de exaustão mental, física e emocional, caracterizado por sentimentos de esgotamento profissional.
Embora o Burnout possa se manifestar em qualquer tipo de profissão, algumas áreas correm um risco maior, devido à natureza do trabalho a que são expostas.
São mais suscetíveis à Síndrome especialmente aquelas profissões em que as pessoas possuem um envolvimento interpessoal direto e intenso como, por exemplo, profissionais do segmento educacional, assistência social, agentes penitenciários, policiais e profissionais da área da saúde.
A etiologia da Síndrome de Burnout é essencialmente multifatorial, sendo desencadeada por um estresse emocional decorrente de condições de trabalho desgastantes, sensação de cansaço e desinteresse crônicos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu a Síndrome de Burnout na Classificação Internacional de doenças (CID-11), que entra em vigor em 2022, e descreveu a mesma como sendo “uma síndrome resultante de um estresse crônico no trabalho que não foi administrado com êxito”, isto é, o esgotamento deve ser relacionado, exclusivamente, ao contexto profissional, e não deve ser empregado para descrever experiências em outros âmbitos da vida.
O estresse crônico pode estar associado a diversos estímulos negativos no ambiente de trabalho como, por exemplo, a um estilo de liderança autoritária, a situações de risco, inadequação e pressão no ambiente de trabalho, a falta de reconhecimento, a sobrecarga e a jornadas de trabalho excessivas sem descanso.
Dados Históricos
Derivado do inglês “to burn out”, o termo Síndrome de Burnout, que significa queimar-se de dentro para fora, foi utilizado pela primeira vez pelo Psicanalista alemão Herbert J. Freudenberg, em 1974, ao observar que muitos voluntários com os quais trabalhava apresentavam um processo gradual de desgaste no humor, desmotivação e exaustão.
Freudenberg atuava em clínicas de atendimento gratuitas nos EUA e em comunidades terapêuticas, e associou esse quadro de esgotamento ao estado de exaustão e apatia apresentado por médicos, psicólogos e enfermeiros, que se sacrificavam pelos seus pacientes, sem muito reconhecimento.
Além desses sintomas, Freudenberg também incluiu no quadro sintomatológico, a fadiga, a irritabilidade, a inflexibilidade e a falta de estímulo.
Definição atual
Hoje, a definição mais utilizada para Burnout é a proposta por Christina Maslach, que agrupou a Síndrome em três dimensões: esgotamento emocional, sensação de insatisfação profissional e despersonalização.
O esgotamento emocional revela-se por meio da falta de entusiasmo pelo trabalho, que antes era reconhecido como fonte de prazer, além de sensações de derrotismo e desamparo. A exposição frequente e prolongada a um estímulo altamente estressante e com grande carga tensional é considerada a principal causa do esgotamento emocional.
A insatisfação profissional é caracterizada por uma sensação de incapacidade produtiva, sentimentos de incompetência e baixa autoestima, que pode levar o profissional a se eximir de suas responsabilidades no trabalho.
A despersonalização é marcada por uma atitude de distanciamento emocional com pacientes e colegas, tratando-os com indiferença, muitas vezes com cinismo e desprovidos de afetividade e humanidade.
Por que os médicos são muito afetados?
Hoje, considera-se que um dos maiores índices de profissionais acometidos por essa Síndrome se instala sobre os profissionais da saúde, entre eles, os médicos. Por quê?
Diariamente, grande parte dos médicos são expostos a estímulos negativos que podem agravar ou provocar a síndrome como, por exemplo, conviver com a dor e sofrimento de seus pacientes; lidar com a falta de estrutura e mesmo ausência de material básico para atendimento; se expor a riscos biológicos, físicos e químicos; tomar decisões importantes como suspender o tratamento e iniciar à sedação terminal de pacientes graves; lidar com situações conflituosas com as famílias de pacientes, que muitas vezes são hostis e manifestam o desagrado em relação ao atendimento que foi prestado; lidar com a evolução negativa do quadro clinico de seu paciente, gerando uma sensação de impotência ao médico e aguentar a sobrecarga no trabalho e jornadas excessivas sem descanso.
Dessa forma, profissionais da saúde são submetidos a desgastes emocionais e frustrações constantes, e na tentativa de manter-se forte frente às famílias, a equipe e a tamanha pressão que o trabalho impõe, muitas vezes silenciam seu próprio sofrimento e negam seus conflitos internos.
E então, a estrutura psíquica do sujeito passa a não conter os seus sentimentos, e estes passam a gerar sintomas, que podem evoluir para o quadro de Síndrome de Burnout.
Estudos mostram ainda que alunos de Medicina correm mais risco de manifestar a Síndrome do que estudantes de outros cursos, isso porque o estudante de Medicina, além de ter que aguentar a pressão pela responsabilidade de ser um futuro médico, ainda lida com uma jornada de estudos incansáveis.
Dessa maneira, é importante que haja uma sensibilização e conscientização específica no decurso da especialização desse profissional, para que possibilite que o mesmo saiba gerenciar melhor seu estresse diário e saiba quando procurar ajuda.
Como identificar a síndrome de Burnout
A Psicóloga e Coordenadora da “International Stress Management Association” (Isma) no Brasil, Ana Maria Rossi, identificou que 72% dos brasileiros têm alguma sequela da Síndrome, sendo que 32% ainda sofrem de Burnout.
A Síndrome pode ser facilmente confundida, já que a sintomatologia é muito semelhante a da depressão.
Entretanto, o Burnout, diferente da depressão, é um transtorno psíquico que se desenvolve gradualmente em decorrência da exposição prolongada a fatores estressantes no ambiente de trabalho.
Portanto, é importante estar atento aos três pilares que caracterizam o Burnout e o diferencia de outras condições:
- Ceticismo: descrença diante das dificuldades e pensamentos negativos constantes. Além disso, o ceticismo leva a despersonalização, que pode fazer com que o médico se torne insensível, e trate seu paciente com desdenho e falta de empatia.
- Exaustão: sensação de desgaste e cansaço excessivo constante, não ter mais condições de desempenho físico ou mental, e sensação de que está indo além de seus limites.
- Ineficácia: sensação de estar sendo subutilizado, não reconhecido, desqualificado, incompetente ou improdutivo.
Mas não se esqueçam, Psicólogos e Psiquiatras são os especialistas mais indicados para identificar o problema e indicar o tratamento adequado.
Principais sintomas da Síndrome de Burnout
- Cansaço excessivo físico e mental;
- Distúrbios do sono;
- Dores musculares e de cabeça;
- Isolamento e Irritabilidade;
- Alterações de humor;
- Sentimentos de apatia e desesperança;
- Alterações de memória;
- Dificuldade de concentração;
- Falta de apetite;
- Depressão;
- Perda de iniciativa,
- Baixa autoestima e pessimismo.
Sugestões para manter a saúde mental mais equilibrada
- Mantenha a atividade física em dia: hoje, é comprovado que a atividade física tem grande relação com aspectos cognitivos, além da liberação de endorfina que é responsável pela sensação de bem-estar.
- Jornada de trabalho equilibrada: manter uma rotina de trabalho, sem jornadas excessivas, ajuda você a melhorar a qualidade de vida e, consequentemente, sua saúde mental.
- Pequenas pausas durante o trabalho: hoje, é comprovado que não conseguimos manter o foco em excelência por um longo período de tempo, realizando as mesmas atividades. Fazer pausas durante o trabalho para escutar uma música, tomar um café ou simplesmente relaxar, faz com que você volte para suas atividades com mais energia.
- Se reúna com amigos fora do ambiente de trabalho: Ter uma vida independente a da vida profissional e manter uma relação interpessoal agradável aumentam nossa resposta de satisfação pela vida.
- Mantenha hábitos saudáveis de sono: Nós temos quatro níveis de sono: N1, N2, N3, e o sono REM. É importante que o sono faça o ciclo completo, caso contrário, nossa velocidade de processamento, atenção, memória, entre outros aspectos cognitivos, podem ser prejudicados.
- Mantenha-se alimentado durante todo o dia: O sistema atencional requer uma grande quantidade de energia, então, trabalhar em jejum é uma péssima ideia para quem busca concentração no trabalho.
- Invista em técnicas de relaxamento como Ioga, Meditação, Mindfulness: é comprovado que pessoas que praticam esses exercícios têm mais foco, mais atenção e calma para lidar com momentos de estresse. Além, é claro, de ajudar na administração da ansiedade.
- Invista tempo no seu hobby favorito: Fazer algo que gostamos e que não esteja associado ao trabalho ajuda a alimentar o prazer pela vida.
- Participe de uma causa, esporte, ou um grupo comunitário: Fazer algo que seja significativo e gratificante para você te ajudará a olhar a vida de uma maneira mais positiva.
- Seja presente na vida de seus familiares e amigos: somos, por natureza, seres sociais, e, manter uma relação próxima agradável, corrobora para a formação da nossa personalidade, autoconhecimento e até mesmo para a nossa autoestima.