Definições
A adolescência é uma fase de transição e transformação que muitos já passaram ou passarão.
Define-se por faixa etária e é um evento diferente de Puberdade, a qual se refere a um crescimento somático, como um todo, com seus sinais tanto nas mulheres quanto nos homens.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), ocorre dos 10 aos 19 anos – da mesma maneira, pela SOPERJ (Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro).
No entanto, conforme o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA, Lei nº 8069/90), a faixa que a define é de 12 aos 18 anos – e é essa que vale no território brasileiro.
Diante de um adolescente, como e o que você médico (a), deve proceder, considerar e respeitar?
Vem com a gente!
Princípios Éticos
Antes de qualquer avaliação médica, sempre temos que lembrar que o profissional deve ter Isenção de Juízo de Valores e os princípios éticos considerados e respeitados: autonomia, privacidade, confidencialidade e sigilo.
O que seriam eles?
- Autonomia: princípio da “prima facie” (expressão latina que significa “à primeira vista”, que se pode constatar de imediato, sem a necessidade de examinar melhor, algo claro e evidente). Refere-se à capacidade de uma pessoa para decidir fazer ou buscar aquilo que julgue ser o melhor para si mesma. Poder de decisão, sem depender de outro indivíduo para isso. Artigo 17 – ECA, 2000.
- Privacidade: é o direito que o adolescente possui, independente da idade, de ser atendido sozinho em um espaço privado para consulta. Ter disponível: sala de espera, horário especial e sala de exames. Vale ressaltar que, apesar de não ter obrigatoriedade, é recomendada a presença de um acompanhante (a qual o adolescente se sinta à vontade e confie ou de outro profissional de saúde) durante a etapa do exame físico, sobretudo se o paciente for menor de 18 anos. Todavia, o princípio da autonomia deve ser respeitado.
- Confidencialidade e Sigilo: as informações obtidas durante a consulta não podem ser repassadas aos pais ou responsáveis sem a permissão explícita do adolescente, salvo quando há risco de vida ou relevante para o próprio ou para terceiros. Conforme o Código de Ética Médica, 2010 / Artigo 74 – é vedado ao médico (a): “revelar sigilo profissional relacionado a paciente menor de idade, inclusive a seus pais ou representantes legais, desde que o menor tenha capacidade de discernimento, salvo quando a não revelação possa acarretar dano ao paciente”.
– Quebra de sigilo: ideação suicida, abuso sexual, gravidez confirmada, uso de álcool/drogas – conforme DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders ou Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais). Além dessas situações, só a suspeita de maus tratos já é suficiente para Notificação Compulsória junto ao Serviço Social, que acionará o Conselho Tutelar da região. Em consultórios particulares, a notificação é feita diretamente ao Conselho.
Primeira consulta
A primeira consulta com um adolescente se desenvolve em 3 etapas: i) envolve o indivíduo e seus familiares; ii) somente o paciente; iii) novamente, a pessoa e a família (ou responsáveis).
Pontualmente, podemos caracterizá-las com os seguintes objetivos e ações:
- 1ª etapa:
– Esclarecimentos sobre as consultas médicas;
– Esclarecimentos sobre os princípios éticos;
– Explicação e elucidação da importância da entrevista com o adolescente (estímulo à autonomia, não é um afastamento da família);
– Anamnese para entender os pontos que constroem a personalidade e história médica do paciente.
- 2ª etapa:
– Conclusão da anamnese;
– Abordagem sistemática (identificar situações de risco para evita-las e/ou amenizá-las);
– Exame físico (com a presença ou não de um acompanhante ou profissional de saúde).
- 3ª etapa:
– Solicitação e esclarecimentos de exames, quando necessários;
– Marcação do retorno.
Ressaltando que o local da consulta é de extrema importância.
Ele deve permitir a privacidade adequada para o adolescente, bem como ter ambiente e materiais específicos.
Explorando alguns pontos
- Anamnese: como em qualquer conhecimento da história clínica, a anamnese deve ser desenvolvida com os seguintes pontos: identificação do adolescente (nome, data de nascimento/idade, endereço, escolaridade, religião, filiação, etnia de assimilação), queixa principal, HDA (história da doença atual – sinais e sintomas observados, quando iniciaram, como evoluíram, sistemas envolvidos, medicações e tratamentos utilizados), HPP (história patológica pregressa – doenças da infância, infecto-contagiosas, respiratórias, alérgicas, acientes, cirurgias, transfusões), HGest (História gestacional – complicações da gestação, idade gestacional do parto, comorbidades maternas, tipo de parto, apgar), HFIS (História fisiológica –menarca, pubarca, sexarca), HAlim (História alimentar – alimentação quali e quantitativamente satisfatória ou não, tipos de alimentos consumidos, quantidade de vezes – avaliação de alterações e transtornos alimentares: sobrepeso, obesidade, bulimia, anorexia) e HVac (História Vacinal – carteira de vacinação e orientações sobre vacinas específicas, como contra HPV e rubéola).
- Abordagem sistemática: nessa fase, abordamos os seguintes pontos: educação, lazer, esportes, família, trabalho, religiosidade, drogas, sexualidade e suicídio.
Ao longo dessa etapa, devemos analisar se as situações relatadas são compatíveis com o desenvolvimento psicossocial do adolescente.
Avaliando cada tópico na tentativa de identificar fatores e/ou comportamentos e/ou situações de risco, tais como bullying e abusos.
Para tal, o momento do exame físico pode ser aproveitado para exploração de certas informações.
– Esportes: a prática de exercícios físicos deve ser destacada, por pelo menos 5 vezes na semana, durante 30 min. Lembrar que a malhação no período de estirão não é recomendada, pois acelera os fechamentos das epífises, interrompendo o processo de crescimento natural.
– Trabalho: o adolescente desempenha alguma atividade laboral? Os riscos, benefícios e necessidades devem ser ponderados em conjunto.
– Sexualidade: abordar assuntos comuns nessa faixa etária, tais como: masturbação, parcerias passageiras (o famoso “ficar”), se já iniciou ou não atividades sexuais e parceiros envolvidos, namoros, utilização de métodos contraceptivos, gravidez não planejada, ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) e abuso sexual.
– Drogas: uso de drogas lícitas e ilícitas, compostos psicoativos – inclusive álcool. Deve ser avaliada conforme classificação DSM-IV, que se baseia na frequência da utilização e suas consequências. Descreve as seguintes classificações:
- Experimentador: fez uso até 5 vezes na vida.
- Usuário recreativo: fez uso mais de 5 vezes na vida ou menos de 6 vezes no último mês. Não busca a droga, é considerado apenas um abusador.
Tanto o experimentador, quanto o usuário recreativo, não justificam a quebra de sigilo da consulta.
- Usuário habitual ou funcional: fez uso mais de 6 vezes no último mês, mas as alterações comportamentais são sutis e não percebidas.
- Usuário dependente ou disfuncional: fez uso mais de 6 vezes no último mês e as mudanças comportamentais são bruscas e percebidas. É o que definimos como Dependente químico.
Na identificação desses dois tipos de usuários (habitual e dependente), a quebra do sigilo é justificável, uma vez que tal comportamento pode acarretar danos ao próprio paciente e ao seu convívio familiar.
- Exame Físico: são avaliados a pele, acuidade visual, dados antropométricos (estatura/idade), esqueleto axial (alinhamento das escápulas, coluna vertebral, altura das cristas ilíacas, pregas glúteas) e marcos específicos para o sexo (feminino: mamas, Tanner – estadiamento da maturação sexual, auto-exame; masculino: pênis, testículos (rastreamento), Tanner, auto-exame), modificações perceptíveis, como miopia e alongamento da arcada dentária – devido ao crescimento do crânio no sentido sagital.
Agora, você já sabe como realizar a consulta com o adolescente 😉
Bons estudos e até o próximo artigo!