Fala galera, tudo bem? Continuando a falar sobre medicina perioperatória, o nosso assunto de hoje é algo que frequentemente pode gerar dúvidas na sua prática médica. Vai ser uma das primeiras coisas que o seu paciente vai te questionar no contexto da proximidade de uma cirurgia – o que fazer com os remédios que ele toma regularmente? Manter ou suspender? E se for suspender, quando fazer isso? E quando retorna com o uso?
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São várias perguntas, né? Mas calma, que agora nós vamos ver como manejar as principais classes de medicamentos no pré e pós-operatório, e você vai ficar craque em orientar e tirar as dúvidas dos seus pacientes.
Meu paciente vai operar. Quais exames pré-operatórios preciso pedir?
Meu paciente usa anti-hipertensivos:
Essa vai ser uma situação muito comum na sua prática, pelo fato da hipertensão arterial ter uma prevalência bem elevada na população: um paciente hipertenso, que toma a sua losartana, a sua hidroclorotiazida e o seu anlodipino, e vai operar depois de amanhã; e aí, como fazemos com essas drogas?
Bom, vamos por partes:
De maneira geral, os inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA) e os bloqueadores do receptor da angiotensina II (BRA), devem ter a dose da manhã da cirurgia suspensa atualmente, a fim de diminuir a chance de hipotensão no peri/pós-operatório. Isso significa que, se o nosso paciente ali de cima usa losartana 50 mg 2x ao dia, a última dose da medicação que ele vai tomar vai ser na noite da véspera da cirurgia.
E quando vamos reiniciar essas drogas? No pós-operatório, tão logo não haja hipotensão ou disfunção renal, já estamos autorizados a voltar com o esquema anti-hipertensivo habitual do nosso paciente.
A exceção dessa regra que acabamos de aprender são os pacientes com insuficiência cardíaca que não estejam hipotensos; nesses casos, os IECA e BRA NÃO DEVEM SER SUSPENSOS.
Outra classe de anti-hipertensivos que deve ser suspensa na manhã da cirurgia são os diuréticos; isso porque a sua administração aumenta a chance de hipovolemia levando à hipotensão, e também de hipocalemia (excetuando-se aqui os poupadores de potássio como a espironolactona) durante a cirurgia. Significa dizer que o nosso paciente citado acima também não deve tomar a dose da manhã de hidroclorotiazida no dia da cirurgia.
As demais classes de anti-hipertensivos (como os bloqueadores do canal de cálcio, os beta-bloqueadores, os agonistas-a2) de maneira geral devem ser mantidas no pré-operatório; logo, nosso paciente deveria manter o anlodipino do dia da cirurgia.
Meu paciente usa antibiabéticos orais ou injetáveis:
A metformina é um fármaco largamente utilizado no tratamento do diabetes mellitus. Ele aumenta o risco de insuficiência renal e acidose lática no contexto cirúrgico; por conta disso, deve ser suspenso 24 horas antes do procedimento cirúrgico. Só deve ser reiniciada após a função renal estar normalizada no pós-operatório.
Demais antidiabéticos orais e injetáveis (que não sejam insulina) de maneira geral devem ser suspensos na manhã da cirurgia. O seu uso deve ser retomado assim que reiniciada a dieta oral do seu paciente.
Por fim, para os pacientes em uso de insulina, o procedimento deve ser o seguinte:
Caso utilize insulina NPH, a dose da noite da véspera da cirurgia deve ser 2/3 do habitua. Na manhã da cirurgia, deve ser de ½ do habitual; e caso utilize insulina glargina, a dose da noite da véspera deve ser de 50 a 70% da dose costumeira.
Em todos os casos, o controle glicêmico no período perioperatório deve ser feito com glicemia capilar e correção conforme esquema de insulina regular, buscando níveis glicêmicos entre 140 e 200 mg/dL.
Como manejar outras drogas no pré-operatório:
Outros medicamentos, como estatinas e broncodilatadores em geral, devem ser mantidos no período perioperatório;
Drogas contendo estrógenos, como utilizadas na terapia de reposição hormonal, ou o tamoxifeno, que costuma ser utilizado no tratamento hormonal do câncer de mama, aumentam o risco de tromboembolismo; por conta disso, a recomendação é de suspender tais fármacos no mínimo 4 semanas antes do procedimento cirúrgico.
Com essas dicas, você já sabe manejar várias das drogas mais comuns no pré-operatório dos seus pacientes. Um grupo específico de medicamentos muito importantes não foi citado nesse post – os anticoagulantes e antiagregantes plaquetários; isso porque nós vamos vê-los no próximo post sozinhos, de tão importantes que esses medicamentos são, e de tantas dúvidas o manejo deles costuma causar. Bom pessoal, por hoje é isso que nós tínhamos pra comentar. Não vamos esquecer quando interromper aquele remédio do seu paciente na hora da cirurgia, né?
Fiquem ligados no próximo post, pra aprender também como fazer com aquela varfarina, ou o AAS do seu paciente com fibrilação atrial e que vai ter que operar. Até a próxima!
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