Klebsiella pneumoniae
A Klebsiella pneumoniae é uma bactéria gram-negativa que causa infecções em diversos sítios anatômicos, sobretudo pneumonia, infecção do trato urinário e infecção da corrente sanguínea. Devido ao uso excessivo de antibióticos, por longos períodos de internação hospitalar, enterobactérias resistentes a carbapenêmicos (as ERC), entre elas as cepas produtoras de enzimas carbapenemases (como a KPC), têm emergido e oferecido grande desafio, uma vez que são resistentes a quase todos os antibióticos disponíveis. Mas nem tudo está perdido! Ainda existem algumas opções de tratamento capazes de conter essa superbactéria, que tal conhecê-las?
Obs: Antes de conhecer nosso arsenal contra essas bactérias, é importante ter em mente algumas diferenças conceituais para não tomar puxão de orelha da CCIH do seu hospital: KPC não é o nome de uma superbactéria. A sigla, na verdade, refere-se a uma enzima produzida por algumas bactérias para degradar certos antibióticos. O mais correto seria usarmos a sigla ERC.
Perfil de resistência
As carbapenemases são um tipo de β-lactamase de amplo espectro, sendo capazes de inativar todos os β-lactâmicos, como penicilinas, cefalosporinas e, até os carbapenêmicos. Além disso, as ERC produtoras de KPC também são resistentes a outras classes de antimicrobianos, como as quinolonas, as sulfas e os aminoglicosídeos.
E agora, quem poderá nos defender?
São duas as principais drogas que ficam de fora do perfil de resistência das ERC produtoras de KPC, basicamente: a Polimixina B e a Tigeciclina.
A Polimixina B é um antibiótico de aplicação restrita apenas contra germes multirresistentes. No entanto, o seu uso isolado não é ideal, devido à sua toxicidade e à possibilidade da seleção de cepas resistentes às Polimixinas.
A Tigeciclina tem um enorme espectro de ação, tanto para gram-positivos quanto para gram-negativos, sensíveis ou resistentes, deixando de cobrir apenas poucas espécies. O problema do uso da Tigeciclina isoladamente é a falta de estudos que comprovem sua segurança em altas doses, com ocorrência de diversos efeitos colaterais, além da sua baixa concentração em fluidos, como sangue, líquor e urina, o que dificulta o tratamento da bacteremia, das infecções do trato urinário e do sistema nervoso central.
A união faz a força
Já que a monoterapia não é a melhor opção para tratar as cepas produtoras de KPCs, a combinação de antibióticos de classes diferentes é o mais recomendado.
Uma das combinações mais tradicionalmente usadas é a de Polimixina B com Meropenem. O Meropenem é a droga de escolha para tratamento de infecções por gram-negativos hospitalares com beta-lactamases de espectro expandido (ESBL), que oferecem resistência a outras classes de antibióticos. No entanto, ele é inativado pela carbapenemase KPC. A Polimixina associada ao Meropenem promove efeito “detergente” sobre a membrana celular da bactéria, aumentando sua permeabilidade, promovendo penetração e ação mais rápidas do Meropenem sobre seu sítio alvo antes que ele seja inativado pelas carbapenemases.
Uma outra alternativa é a associação de um β-lactâmico a um inibidor de β-lactamase capaz de inativar as carbapenemases. É o caso da associação da Ceftazidima, uma cefalosporina, com Avibactam, uma combinação recentemente aprovada para uso no Brasil, sendo a preferida caso o microrganismo seja suscetível e a droga esteja disponível.
Fazendo a nossa parte
Vale ressaltar que é melhor prevenir do que remediar, especialmente se os remédios disponíveis são tão poucos. Desse modo, a melhor forma de conter a disseminação de ERC é o zelo pelos padrões de biossegurança. A simples lavagem das mãos pode evitar a contaminação cruzada entre pacientes e o uso adequado dos equipamentos de proteção individual impede a transferência desses patógenos para o ambiente extra-hospitalar. Além disso, lembre-se sempre de contatar a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) de seu hospital para notificar o caso e receber as devidas orientações.
Veja também: “Uma bactéria causada por antibiótico e que pode ser tratada com fezes? É isso mesmo?”