Introdução:
Todos nós sabemos que os epônimos são as nomenclaturas muito utilizadas na área da saúde de maneira geral, principalmente dentro da área médica. Eles existem para fazer algum tipo de homenagem histórica a determinados médicos e alguns pesquisadores, justamente por terem descrito as doenças, técnicas de cirurgia ou até mesmo uma metodologia diagnóstica, assim como sinais e sintomas no exame físico de pacientes, algumas estruturas anatômicas como a que iremos estudar neste artigo, entre outros. O nosso objetivo com esse artigo é fazer com que você, ao terminar a sua leitura, conheça a história de Jean-François Calot e do triângulo que veio a receber o seu nome, além desse triangulo ser uma estrutura anatômica extremamente importante na abordagem cirúrgica de algumas doenças.
Triângulo de Calot:
O triângulo de Calot, também conhecido como triângulo hepatobiliar, nada mais é do que um espaço anatômico, que será delimitado por algumas estruturas. Dentre essas estruturas que compõe os seus limites, temos: o ducto hepático comum central, o ducto cístico lateral e a borda inferior do fígado. Sendo assim, o triangulo vai possuir três limites para a sua identificação: o limite superior é a borda inferior do fígado. O limite medial, por outro lado, é o ducto hepático comum, e o limite inferior é o ducto cístico. O reconhecimento dessa estrutura é muito importante, pois, com isso, o médico cirurgião que estiver operando determinado paciente é capaz de identificar as estruturas que delimitam esse triangulo no momento da cirurgia, principalmente na cirurgia de colecistectomia (retirada de vesícula biliar), independente da causa de sua retirada, aonde a ligadura da artéria cística se faz necessária.
O triângulo de Calot é formado em seu interior pela artéria cística, que consiste em um ramo da artéria hepática direita acessória. Sendo assim, durante o procedimento cirúrgico de colecistectomia, por exemplo, a dissecção correta dessa artéria é imprescindível para que os profissionais de saúde que estejam operando o doente façam o procedimento com mais eficácia, visando a diminuição do número de perfurações no órgão, assim como outras lesões iatrogênicas no ducto cístico. Além do triângulo de Calot ser formado pela artéria cística, ele também vai abrigar outras estruturas, como por exemplo a artéria hepática direita aberrante (que consiste em um ramo da artéria hepática direita) e os ductos hepáticos aberrantes, também conhecidos como ductos hepáticos acessórios.
Jean-François Calot:
Calot nasceu em 17 de maio de 1861, filho de dois fazendeiros renomados e de alto poder aquisitivo, que viviam na comuna de Arrens-Marsous (na França), Sr. Dominique Calot e Sra. Jeanne-Marie Mercere. Ele estudou Medicina em Saint-Pe de Bigorre, recebendo seu diploma de Bacharel na área médica no ano de 1880, porém foi somente na cidade de Rotschild aonde o descobridor do triângulo de Calot veio a trabalhar como cirurgião geral em um hospital, durante cerca de 51 anos ao longo de sua carreira na Medicina. Casou-se com Marie Bacqueville em 18 de outubro de 1894 e, como fruto desse amor, nasceram quatro lindas meninas.
O pesquisador que descobriu o triângulo de Calot também foi responsável pela escrita de diversos artigos dentro da área médica.
Dentre eles, podemos destacar artigos e alguns documentos sobre a escoliose, assim como outras doenças da ortopedia, como as doenças que acometem os quadris dos indivíduos. E esses artigos eram escritos para a leitura, não só dos profissionais da comunidade acadêmica, mas também para os clínicos gerais e para pacientes leigos que desejassem saber mais sobre a sua doença.
Jean-François Calot também obteve sucesso em sua carreira de autor, sendo responsável por escrever e publicar diversos livros. Dentre os principais, nós temos “O tratamento da ciática”, em 1900, “Os métodos de tratamento e clima ideal”, em 1914, e “ortopedia essencial para profissionais”, publicada em 1909.
Foi também durante a segunda guerra mundial que ele foi nomeado o médico-chefe de 3 hospitais militares, que eram de extrema importância na cidade de Berck. Após essa nomeação, Calot se tornou um especialista na área de trauma daquela região, defendendo inclusive a imobilização de fraturas ósseas o quanto antes. Além disso, ele oferecia o transporte dos moldes de gesso, os quais seriam utilizados nesses pacientes, em ambulâncias.
Contribuições para a Medicina:
Jean-François Calot se tornou reconhecido na área médica de sua região, porém foi em seus trabalhos acerca da abordagem terapêutica da tuberculose óssea em pacientes infantis em que ele se destacou, principalmente. Neste trabalho, Calot explicava as diversas opções de tratamento que existem atualmente, assim como descreve as novas abordagens para o tratamento desses indivíduos. Além desse trabalho sobre o tratamento da tuberculose óssea em crianças, ele também obteve destaque ao estudar a redução da curvatura angular da coluna na doença de Pott, também conhecida como a tuberculose vertebral.
O descritor do triângulo de Calot também se destacou na área médica por se dedicar ao estudo da ortopedia, mais especificamente na área de tratamentos e de cuidados intensivos com as feridas de guerra. Com toda essa experiência na bagagem, Calot foi capaz de fundar o Institut orthopédique de Berck, no ano de 1900.
Além de todas essas descobertas e contribuições para a saúde mundial, Jean-François também foi o médico responsável por descrever o triângulo de Calot, estrutura que é fundamental a ser encontrada durante as cirurgias do trato hepatobiliar, para uma melhor dissecção do órgão e de suas estruturas adjacentes. Jean-François, então, apresentou a sua tese do doutorado, em 1891, reconhecendo esse triângulo, primeiramente, como um triângulo isósceles, nome pelo o qual o triângulo de Calot ficou conhecido durante algum tempo após a sua descoberta.
Conclusão:
Embora a Medicina no Brasil e no mundo, atualmente, já esteja bastante avançada no que diz respeito a algumas técnicas cirúrgicas, nem sempre foi assim. Foi com as dezenas de anos estudados e o trabalho árduo de pesquisadores como Jean-Fraçois Calot que as técnicas cirúrgicas da colecistectomia, assim como nos diversos tratamentos para a doença de Pott, puderam ser aprimoradas ao longo de todos esses anos. Sem a descrição do triângulo de Calot, cirurgias como a colecistectomia seriam muito mais demoradas e com um potencial maior de complicações decorrentes do procedimento, devido ao fato do cirurgião não reconhecer (muitas vezes) a artéria cística na anatomia do paciente em questão. Por isso, conhecer a história desses pesquisadores nos faz refletir um pouco mais sobre como seria a Medicina sem essas descobertas e dar o devido valor a esses médicos, respeitando sua história e seus estudos.