Você já parou para pensar de onde surgiram as ambulâncias e como elas foram criadas? Mais um dos itens que utilizamos até hoje na prática médica, mas que muitas das vezes não nos demos conta da sua importância nem imaginamos a vida anterior a isso.
A palavra em si é proveniente da palavra latina ambulare, que significa “andar ou mover-se”. Afirma-se que o termo “ambulância” foi criado pelos Reis católicos da Espanha, Fernando e Isabel, no final do século XV.
Por volta de 1487, Isabel I, da Espanha, autoriza a construção de vagões com camas especiais com toldos para transportar soldados feridos para tendas onde eles receberiam os cuidados específicos. Não se sabe ao certo. O fato é que há menções a certos tipos de “ambulâncias” desde os tempos bíblicos.
O conceito, como o que temos hoje, tem suas raízes na antiguidade, sendo utilizados macas, redes, carruagens e carrinhos para o transporte. Naquela época, diversos transportes eram utilizados. Nessas épocas, a ambulância tinha apenas o objetivo de transportar o doente até o local de atendimento. Isso mudaria posteriormente.
SÉCULO XVIII, FRANÇA, A MUDANÇA DE RUMO:
Muitos acreditam que foi no final do século XVIII, na França, que a ambulância foi de fato criada e evoluiu de forma rápida. O médico francês Ryan Bell escreveu em 1792: “A guerra e a carnificina inspiraram o melhor da humanidade a amenizar o pior…”.
Dominique Jean Larrey (1766-1842), cirurgião napoleônico, considerado “Pai da Medicina Militar”, identificou em 1792 a necessidade de resgatar os soldados feridos durante as grandes guerras com maior rapidez, projetando unidades de transporte de feridos batizadas como “ambulâncias voadoras” (isso porque eram leves e velozes). Esse foi o primeiro serviço de ambulância reconhecidamente moderno.
Larrey desenvolveu a ambulância em duas formas: a primeira, era um veículo leve coberto de duas rodas com espaço para dois pacientes; a outra forma era um veículo mais pesado, de quatro rodas, capaz de levar duas a quatro pessoas, puxado por quatro cavalos e projetada para andar em terrenos mais acidentados.
Na época, esses veículos transportavam água, comida, ataduras, e outros equipamentos. Foram utilizadas pela primeira vez durante a invasão de Napoleão à Itália, entre 1796 e 1797.
UM POUCO SOBRE DOMINIQUE JEAN LARREY:
Médico de Napoleão Bonaparte, tinha a fama de ser um cirurgião extremamente eficiente.
Há histórias que, em uma pequena batalha, foi capaz de amputar 200 braços e pernas e soldados sem ajuda de outros profissionais.
Em conjunto com o médico chefe do exército francês da época, Pierre François Percy, ele criou e estabeleceu a equipe de motoristas de ambulâncias. Cada divisão era equipada com 12 ambulâncias.
ANTES DO AVANÇO FRANCÊS:
Anteriormente a esse avanço francês, os soldados eram retirados do campo de batalha através de charretes sem equipamento algum, permitindo o aumento dos ferimentos dos miliares.
Por exemplo, durante a Guerra Civil Americana, mesmo após o grande passo de Larrey na França, as ambulâncias eram ainda raras e frequentemente conduzidas por civis bêbados e ladrões.
O primeiro serviço de ambulância reconhecido para hospitais do EUA foi implementado em 1865, no Hospital Comercial em Cincinnati, Ohio.
Eram puxadas por cavalos e transportavam equipamentos como talas, morfina, conhaque e medicamentos gástricos.
HISTÓRIA DAS AMBULÂNCIAS NO BRASIL:
O surgimento dos serviços de emergência pré-hospitalar no Brasil foi influenciado diretamente pelos modelos americano e francês, sendo assim também com o uso de automóveis ambulância.
A chegada dos automóveis no Rio de Janeiro, trazidos por José do Patrocínio, em 1895, propiciou a mudança do cenário existente até então e permitiu a tentativa da utilização dessa novidade em vias públicas.
Em 1893, o Senado da jovem República Brasileira aprovou a Lei que pretendia estabelecer o socorro médico de urgência em vias públicas, com o objetivo de assegurar o atendimento das vítimas de trauma, acidentes e de males súbitos.
A primeira ambulância no Rio de Janeiro, um modelo adaptado do existente em Paris na época, ocorreu em 1904 na gestão do prefeito Pereira Passos, quando ele encomendou ambulâncias da Europa para iniciar os serviços de transportes dos pacientes. Isso marcou o início dos atendimentos móveis de urgência.
O uso das ambulâncias não alcançou os resultados esperados junto à população durante a gestão de Pereira Passos, sendo mais uma das ações que não eram bem vistas por maior parte da população (mesma época da Revolta da Vacina e das rebeliões contras as reformas sanitárias implementadas pela autoridade).
Na ocasião, espetáculos dramatúrgicos foram realizados no Campo de Sant’ana, na área central do Rio, com o objetivo de conscientizar e convencer a população a respeito da importância do uso das ambulâncias.
Por volta das décadas de 1960 e 1970 o atendimento domiciliar de urgência foi inaugurado no Brasil, principalmente com os serviços privados. Em 1987, em Santa Catarina, o primeiro serviço de atendimento pré-hospitalar, sem médico, é implementado através do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar.
Em 2003, o Ministério da Saúde publicou a Política Nacional de Atendimento Pré-Hospitalar, resultando consequentemente na criação do serviço médico de assistência móvel de urgência (SAMU).
DIAS DE HOJE:
Atualmente, os sistemas de ambulâncias pelo mundo são extremamente sofisticados e desenvolvidos. O termo ambulância se refere a uma ampla gama de veículos, contando com diversos serviços tecnológicos. Alguns hospitais fornecem o tempo estimado de chegada do serviço de ambulância ao ponto que requisitou a mesma.
Os veículos militares utilizados nas guerras atuais são blindados e contam com uma diversidade absurda de equipamentos.