As glândulas adrenais também conhecidas como suprarrenais, por estarem localizadas superiormente aos rins. Elas fazem parte do sistema endócrino e são importantíssimas, por realizarem produção e secreção de diversas substâncias importantes ao nosso organismo.
Histologicamente, essas glândulas apresentam duas regiões: o córtex e a medula. O córtex da glândula contém três regiões distintas: zona glomerulosa, zona fasciculada e zona reticulada.
Mas, para que essas glândulas secretem determinadas substâncias, elas precisam ser estimuladas. Esse estímulo é realizado por meio da ação de um hormônio: o ACTH.
ACTH: de onde vem?
O ACTH, Hormônio Corticotrófico ou Corticotrofina, é um dos hormônios que a adeno-hipófise produz. Um tipo celular presente na porção anterior da hipófise, as células corticotróficas, são as produtoras do hormônio.
Essa produção é regulada, é claro! E quem faz esse controle é o hipotálamo. Para que o ACTH seja produzido pela hipófise, a hipófise precisa receber estímulos também. Quem faz esse estímulo hipofisário é o hipotálamo.
Mas quem estimula o hipotálamo? Estímulos externos, como: luz solar, hipoglicemia e estresse (seja ele físico ou emocional).
A luz solar é um fator estimulante muito importante, pois, fisiologicamente, não havendo condições de estresse ou hipoglicemia, é ela quem dita a produção hormonal. Sendo assim, já é possível perceber que, fisiologicamente, a maior liberação hormonal se dará no período diurno.
Outro fator importante é a hipoglicemia (mas não é sempre que se tem uma situação de hipoglicemia, rsrs). Mas por que ela é importante? Esse estimulo está diretamente ligado às funções das substâncias produzidas pela adrenal, pois uma dessas substâncias tem caráter hiperglicemiante, como veremos a frente. Vamos com calma!!
E o estresse? O estresse talvez seja o estímulo mais conhecido para a secreção hormonal. Isso se dá devido também a ação de uma substância produzida pela suprarrenal, que realiza o controle do estresse.
Todos esses estímulos atuam no hipotálamo, e o hipotálamo, em resposta, produz o CRH, Hormônio Liberador de Corticotrofina. O próprio nome já diz qual é a função do CRH. Ele é levado por meio de capilares até a adeno-hipófise, onde estimula as células corticotróficas a produzirem o ACTH. Temos, então, o famoso eixo hipotálamo-hipofisário.
E depois que o ACTH é produzido? O que ele faz?
Ação do ACTH
O ACTH é secretado na corrente sanguínea e chega até a glândula suprarrenal, onde desempenha sua função.
Ele não atua em toda a suprarrenal, mas sim no córtex da suprarrenal, onde há receptores para ACTH. Atua, portanto, nas três zonas do córtex, porém apenas duas delas são dependentes do ACTH: a zona fasciculada e a zona reticulada.
Quando se liga em receptores presentes na zona reticulada, o ACTH estimula que as células ali presentes produzam DHEA (Deidroepiandrosterona) e Androstenediona. Os nomes são difíceis, mas não se assuste. Logo veremos a ação destes.
Já quando o ACTH se liga na zona fasciculada, ele estimula a produção de uma substância muito importante e conhecida, tenho certeza que você já ouviu falar, o Cortisol. Um glicocorticoide fundamental ao nosso organismo.
Lembrando que a zona glomerulosa também tem receptor para ACTH, e, portanto, este pode atuar nela, embora não seja o estímulo mais importante, pois a zona glomerulosa não é dependente do ACTH. Na zona glomerulosa, há a produção de aldosterona, um mineralocorticoide que atua nas células tubulares renais e está envolvido principalmente no controle de potássio.
Controle da secreção de ACTH
O controle da atividade do ACTH se dá pelo cortisol. O cortisol, em altas concentrações, é um inibidor do ACTH. Portanto, essa inibição ocorre principalmente no período da manhã, onde a secreção de cortisol é maior. Quando há baixas concentrações de cortisol, a hipófise é estimulada a liberar mais ACTH.
Funções das substâncias produzidas pela glândula adrenal
Androgênios
Os androgênios, produzidos pela zona reticulada, o DHEA (Deidroepiandrosterona) e a Androstenediona, possuem efeitos em ambos os sexos, feminino e masculino, porém sua maior atuação e importância se dá no sexo feminino. O DHEA, no sexo masculino, tem pouca importância, por ser um esteroide fraco, e, além disso, o homem produz níveis elevados de testosterona que realizam efeitos muito maiores. Ou seja, em casos de ausência do DHEA no sexo masculino, tal ausência seria pouco notada.
Já no sexo feminino, a situação é diferente. A mulher possui altas concentrações de estrogênio e progesterona, que são hormônios femininos. O estrogênio, principalmente, é responsável pelas características sexuais femininas, e, por estar em altos níveis no organismo, predominam sobre os efeitos do DHEA. Porém, na mulher, o DHEA é uma fonte importantíssima de androgênio que a mulher tem. Mas por que a mulher precisa ter fonte de hormônio masculino? O DHEA, na mulher, possui importantes funções, estando relacionado à libido e à disposição dos pelos axilares e pubianos.
Cortisol
O cortisol é também um hormônio, produzido pela glândula adrenal, especificamente no córtex adrenal, na zona fasciculada. Essa zona é dependente do ACTH, ou seja, na ausência do ACTH, não há produção do cortisol. O cortisol é um hormônio importantíssimo no organismo diariamente.
Como dito anteriormente, os estímulos para a liberação do cortisol são: a luz solar, a hipoglicemia, e o estresse.
As ações do hormônio são indispensáveis, como veremos a seguir.
O cortisol atua no metabolismo glicídico, estimulando a produção de glicose, a partir de aminoácidos, pelas células hepáticas, em um processo conhecido como gliconeogênese. Lembra que um dos estímulos para a liberação desse hormônio é a hipoglicemia? A gliconeogênese, como você pode imaginar, aumenta a glicemia, e, assim, evita que o organismo e, principalmente, o Sistema Nervoso Central sofra com baixos níveis de glicose. Além de estimular a produção de glicose, o cortisol ainda promove uma resistência à insulina periférica, para que, assim, haja uma maior quantidade de cortisol para o Sistema Nervoso Central, enquanto o restante do organismo utiliza outras fontes de energia.
Estimula também o catabolismo proteico, causando a degradação de proteínas estruturais. Uma das razões para tal atividade hormonal é que, a partir da quebra das proteínas, produz-se a glicose. Esse catabolismo de proteínas ocorre nos ossos, músculo esquelético e tecido celular subcutâneo. Em situações fisiológicas, tudo isso é regulado, a fim de não prejudicar o organismo como um todo.
Participa também do metabolismo lipídico. Como? Nos tecidos periféricos, o cortisol estimula a alteração do uso de glicose para o uso de gordura, na produção de energia. Veja como tudo está interligado, com essa alteração, “sobra” mais glicose para o Sistema Nervoso Central. Essa quebra de gorduras, para geração de energia, acaba gerando os cetoácidos. Além disso, há lipólise nos membros inferiores e superiores. O contrário acontece na região central do corpo, onde há lipogênese, ou seja, formação de tecido adiposo, podendo ocasionar em obesidade central. Tudo isso altera a distribuição lipídica.
O cortisol está relacionado com o metabolismo do cálcio. Porém, isso não ocorre fisiologicamente, mas sim quando há altas concentrações de cortisol. Sua ação é reduzir a calcemia. Como? Reduzindo a absorção intestinal de cálcio e aumentando a excreção renal do mesmo. Com isso, reduz-se as concentrações de cálcio no sangue. Para normalizar a calcemia, quem entra em ação são as paratireoides, que produzem o PTH (paratormônio), que, então, faz esse controle a partir da desmineralização óssea.
No Sistema nervoso central, o cortisol também atua, tendo um efeito euforizante e antidepressivo.
No sistema cardiovascular, ele aumenta a atividade adrenérgica. Também tem efeito mineralocorticoide, aumentando a retenção de Na e água. Com isso, aumenta a pressão arterial, uma vez que aumenta o tônus simpático e o volume circulante. Possui efeito aterogênico e trombogênico, aumentando assim o risco cardiovascular.
No Sistema digestório, reduz o muco gástrico e aumenta a secreção de HCl (ácido clorídrico). Isso ocorre, pois o cortisol inibe a fosfolipase A2 e, assim, bloqueia toda a cascata do ácido aracdônico, inclusive a produção de prostaglandinas, que são importantes na fisiologia gástrica. Por isso, em situações de estresse levando às altas concentrações de cortisol, podem ocorrer as conhecidas úlceras de estresse, pois o estresse é um importante estímulo para a liberação de cortisol. E com essa ação do cortisol de reduzir a proteção gerada pelo muco e aumentar o ácido, formam-se as úlceras.
Em relação as células sanguíneas, o cortisol reduz as células brancas, ou seja, os leucócitos, e, assim, provoca uma redução da imunidade. Já as células vermelhas (hemácias e plaquetas) são elevadas pela ação do cortisol, e essa é a razão para o efeito trombogênico, há maior número de plaquetas que, então, se agregam para formar trombos.
Como vimos, são ações importantes, mas que, se de forma desregulada, prejudicam muito o organismo. E quando podem estar desequilibradas?
Distúrbios da adrenal
Podem ocorrer duas situações que provocam um desequilíbrio no organismo, devido à falta ou ao excesso de hormônio no organismo, seja pelos androgênios ou pelo cortisol. Esses desequilíbrios podem ocorrer por secreções inadequadas de ACTH, mas também podem ser desencadeados por alterações na própria glândula adrenal.
Nos casos em que há hiperprodução de andrógenos, em especial na infância, ocorre a síndrome adrenogenital, que se apresenta tanto no sexo feminino quanto no sexo masculino. Ela recebe esse nome pois é uma síndrome provocada por excesso do andrógenos, e que se manifesta principalmente nos órgãos sexuais. O menino, por exemplo, pode ter uma pseudopuberdade precoce, ou seja, o que se desenvolveria na puberdade (como o aumento do pênis), ele desenvolve na infância. Já no sexo feminino, o excesso dos andrógenos provoca a conhecida virilização e assim a menina desenvolve características masculinas como engrossamento da voz, hirsutismo (a mulher desenvolve pelos em regiões que homens possuem pelos, como por exemplo, desenvolvimento de barba), redução da mama, aumento de massa muscular, aumento do clitóris, e pode desenvolver genitália masculina.
Nos casos de aumento excessivo de cortisol, tem-se a Síndrome de Cushing. O aumento do cortisol pode ocorrer tanto por aumento da produção do ACTH pela hipófise, que é o mais comum, mas também pode ocorrer secreção ectópica de ACTH, ou seja, tumores hipersecretantes de cortisol em outras regiões, como no pulmão. E ainda, pode haver a Síndrome de Cushing, devido à iatrogenia, ou seja, uso de corticoide prolongadamente levando à doenças. E quais os principais sinais dessa síndrome? Os sinais clássicos são obesidade centrípeta, estrias violáceas (devido ao excesso de degradação proteica, especialmente o colágeno, no tecido celular subcutâneo), hirsutismo, acantose nigricans (manchas escuras nas “dobras” do corpo causadas pela resistência à insulina), e facies cushingoide (ou face de lua cheia).
A ausência de cortisol também provoca uma doença, a Síndrome de Addison. Pode ocorrer por baixas concentrações de ACTH (afeta as zonas dependentes de ACTH – fasciculada e reticulada, tendo deficiência de andrógenos e cortisol), mas também pode ocorrer por insuficiência da própria glândula adrenal (todas as zonas corticais apresentam deficiência, reduzindo andrógenos, cortisol e aldosterona). O indivíduo com Síndrome de Addison, por deficiência da adrenal, apresenta hiperpigmentação de gengiva, mucosa oral, axila, aréola e mamilo, pois há alta secreção de MSH (Hormônio melanotrófico). Apresenta também anorexia, fraqueza, diarreia e dor abdominal. Os indivíduos com Síndrome de Addison, devido à redução de ACTH, podem fazer reposição hormonal de cortisol, e, assim, evitam os sintomas.
Seu jeito de escrever permite uma leitura tranquila. Não sou da área e os artigos científicos sobre esse assunto são cheios de jargões. Foi ótimo ter encontrado esse espaço de conhecimento. Obrigada.