O FUNCIONAMENTO DE UMA EMPRESA JÚNIOR DE MEDICINA
Depois de juntar todos os documentos para a fundação de uma EJ de medicina, a formação do time, a ajuda de professores coordenadores e o reconhecimento da IES, os membros da equipe devem se preparar para a captação, realização e validação de projetos, que idealmente são projetos de consultoria em gestão em saúde.
Contudo, para o bom funcionamento da empresa, é necessário fazer um planejamento de como será a estrutura física e interna, gestão da empresa e, principalmente, posicionamento frente ao mercado. Podemos resumir tudo isso como Planejamento Estratégico.
O Planejamento Estratégico da empresa pode ser feito baseado em algumas técnicas, já fundamentadas, como a Estratégia SWOT, que do inglês, cada sigla tem um significado:
Fatores internos:
- Strengths (forças): O que vocês têm de diferencial? Coisas que só vocês fazem, suas forças. O que cada membro da EJ tem que faz vocês serem únicos e torna os projetos mais fortes? E quanto aos orientadores?
- Weaknesses (fraquezas): Quais são os pontos de melhoria dos membros e da equipe como um todo? O que deve ser desenvolvido na empresa? O que tornam outras empresas concorrentes mais preparadas que vocês?
Fatores externos:
- Opportunities (oportunidades): O que existe de fator externo no mercado, ou na região onde estão, que são oportunidades de crescimento para a empresa? Vale colocar aqui informações sobre possíveis clientes (leads), perfil epidemiológico da população e padrão da saúde onde vivem.
- Threats (ameaças): O que pode ser uma ameaça para vocês? Concorrência, barreiras como governo, empresas privadas ou até mesmo dificuldades impostas pela própria Instituição de Ensino devem ser colocados aqui.
De acordo com a Federação de Empresas Juniores de Minas Gerais (FEJEMG), no Manual de Criação de uma Empresa Júnior, o primeiro passo após a criação da EJ é a formação de equipe e benchmarkings. Neste primeiro momento, é muito importante ter ao seu lado um grupo de pessoas de confiança e muito engajadas.
O processo seletivo deve ser bastante rigoroso e com muitos aspectos analisados.
MONTANDO A EQUIPE IDEAL PARA A EMPRESA JÚNIOR DE MEDICINA
Recomenda-se que, no início, este grupo seja formado por seis alunos da graduação, porque caso a EJ adote em sua estrutura o modelo clássico de seis diretorias (Presidência, Administrativo-Financeiro, Marketing, Recursos Humanos, Projetos e Qualidade), eles realizarão as tarefas em suas respectivas áreas, gerando sinergia e alinhamento entre o grupo.
Um outro modelo bem comum e eficiente é o de sete diretorias, com o acréscimo do Vice-Presidente, com bastante cuidado para as funções do Presidente e Vice-Presidente não se confundirem, o que é muito comum. Este modelo, com sete pessoas, é bastante adequado, porque o número ímpar evita que haja empates nas votações da diretoria.
Além disso, um membro extremamente importante na equipe é o professor orientador, representante da Instituição de Ensino Superior (IES) que orientará o grupo nas primeiras práticas executadas como Empresa Júnior de Medicina.
Além disso, por toda sua experiência de mercado e muitas vezes de gestão em saúde, ele pode orientar a realização dos projetos e revisar o resultado final.
Depois de formada a equipe, agora é hora de definirem, por consenso, o nome da Empresa Júnior, o foco de atuação, serviços oferecidos, estrutura, objetivos e processos internos que poderão ser implementados na empresa. Para isso, vocês devem buscar outras experiências com quem já fundou algo semelhante.
Atualmente, existem Empresas Juniores de Medicina em diversas regiões do Brasil, como a Medic Júnior Consultoria em Saúde, em Minas Gerais, a Córtex Júnior e a Mederi no Rio Grande do Sul e a Mediare no Amazonas.
Essa troca de experiência entre duas empresas, ou o estudo da concorrência, analisando suas particularidades, habilidades, atuação no mercado e práticas internas, é o que chamamos de benchmarking.
Atenção! O nome comercial da EJ deve ser pesquisado (“busca prévia”) junto ao Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas da cidade da empresa, pois, se o nome escolhido já existir ou for semelhante a outros, pode gerar problemas ao registrar o Estatuto Social. Também não se deve utilizar a marca da IES no nome fantasia ou razão social da EJ, podendo acarretar em processo civil ou penalidades para os representantes. (Fonte: Concentro – Federação de Empresas Juniores do Distrito Federal).
MONTANDO A INFRAESTRUTURA DA EMPRESA JÚNIOR DE MEDICINA
A grande maioria das Empresas Juniores de Medicina do Brasil não tem sede própria, muitas vezes devido a resistência da IES em apoiar a iniciativa, por medo da mudança no modelo de ensino que os estudantes de medicina estão liderando, ou simplesmente por falta de interesse, pelo tradicionalismo de médicos e médicas que hoje ocupam os cargos de gestores em grande parte das Universidades brasileiras.
A estrutura inicial pode ser cedida pela IES, dentro da própria faculdade, quando existe o apoio, como em muitas Empresas Juniores de Engenharia e Administração, que existem no Brasil.
A infraestrutura necessária irá funcionar como uma sede de trabalho da EJ e ela deverá ser equipada com pelo menos o básico para funcionamento, com materiais permanentes e de consumo, como, por exemplo, um computador com acesso à internet, telefone, mesas, cadeiras, entre outros. Tudo isso poderão conseguir aos poucos através da realização dos projetos.
Atenção! A IES não é obrigada a ceder o espaço físico para funcionamento da EJ, bem como não tem a obrigação de aceitar a ideia de fundação e custeá-la.
Por isso, é extremamente importante, neste primeiro momento, saber vender a sua ideia com clareza e convicção dos objetivos e benefícios que a EJ irá proporcionar aos alunos e consequentemente a instituição, como: desenvolvimento dos alunos, aplicação prática do conteúdo teórico, publicidade à IES, melhoria da pontuação no ranking do MEC, entre outros (Fonte: FEJEMG – Federação de Empresas Juniores de Minas Gerais).
Apesar de ser muito importante,, a falta da estrutura física não impossibilita a criação, muito menos a atuação da Empresa Júnior.
No Brasil, somente a Medicina Júnior, da USP, possui sede física dentro da Faculdade de Medicina da USP.
MONTANDO O PLANO DE NEGÓCIOS E DECIDINDO O PRODUTO DA EMPRESA JÚNIOR DE MEDICINA
O planejamento estratégico que montou utilizando a Matriz SWOT é determinante para a fundação da empresa e a análise da equipe e do mercado.
Contudo, para a escolha do produto, deve-se realizar um plano de negócios, analisando o que o seu cliente quer, como você pode ofertar o que ele quer e por quanto.
Um Plano de Negócios é um documento que descreve quais os objetivos de um negócio e quais os passos devem ser dados para que esses objetivos sejam alcançados diminuindo riscos e incertezas.
O Plano conterá etapas, prazos, planilhas de custos, receita, etc. Porém, antes de realizar o plano, é ideal utilizar-se de um modelo de negócios, que descreve a lógica de criação do negócio, ou seja, mostra que o raciocínio e a interconexão das partes fazem sentido. (Fonte: SEBRAE)
O modelo de Plano de Negócios mais utilizado no Movimento Empresa Júnior é o CANVAS. O CANVAS é uma ferramenta de gerenciamento estratégico que permite desenvolver e esboçar modelos de negócios novos e existentes.
É um mapa visual pré-formatado contendo nove blocos do modelo de negócios. Segue abaixo as descrições de tais blocos (Fonte: Brasil Júnior)
CONSTRUINDO A REDE DE EMPRESAS JUNIORES
Com a empresa estruturada internamente, fundada e com os projetos bem definidos, pronta para captar novos clientes, é hora de buscar as parcerias. Mesmo com a formação empreendedora proporcionada pelo Movimento Empresa Júnior, o estudante de medicina possui uma carga-horária gigantesca de conteúdo médico e é natural que não consiga aprender em tempo hábil todas as ferramentas necessárias para a realização do projeto integralmente.
Atualmente, existem mais de 10 Empresas Juniores de Medicina fundadas ou Iniciativas de Empresas Juniores de Medicina, em praticamente todas as regiões do Brasil, e uma gama enorme de EJs da área da saúde, com muito material e experiências para compartilhar.
Essa troca de experiências, ou benchmarking, da rede de EJs de Medicina, é extremamente importante para a consolidação da inovação do ensino da Medicina no Brasil.
Tem algum projeto ou ideia de projeto e não sabe como colocá-lo em prática na Empresa Júnior?
Algumas soluções de estudo e aperfeiçoamento já existem, como:
- MBA Júnior de Gestão em Saúde
Hoje, já existem “mini-especializações”, em forma de MBA Júnior, para alunos de Medicina aprenderem um pouco mais sobre gestão e as ferramentas utilizadas, como a negociação, estruturação de Unidades de Saúde e os fluxos de gestão do paciente e dos modelos de assistência.
O aluno pode usar seu tempo extra para a realização desses cursos, bem como a participação em Ligas Acadêmicas de Gestão.
Mas deve-se ter cuidado. Como falado logo acima, o estudante de Medicina tem uma carga-horária muito grande.
A sobrecarga de funções ou projetos pode acarretar uma sobrecarga física e mental, que já é comum nos estudantes de medicina, podendo causar quadros de ansiedade e depressão.
Dessa forma, preze primeiro pela sua saúde mental. A faculdade é só o primeiro passo para sua carreira como médico e como gestor, se for sua escolha. Você não é obrigado a saber tudo para a realização de seus projetos.
Por esse motivo, apresento a segunda solução:
- Eventos na área de Gestão em Saúde e Empreendedorismo
Anualmente, dezenas de eventos com foco em Gestão Hospitalar, ou até mesmo mais amplos, como Gestão em Saúde e Empreendedorismo acontecem, principalmente, na região Sudeste.
Esses eventos são predominantemente frequentados por médicos com maior tempo de carreira ou administradores da saúde, mas a mudança do padrão de ensino da medicina e até mesmo do padrão de saúde da população brasileira, com maior introdução da inovação e tecnologia, estão levando cada vez mais jovens para esses eventos.
Alguns eventos são muito interessantes, como:
- Congresso Internacional de Gestão em Saúde, da ABRAMED;
- Simpósio em Saúde, do Hospital Albert Einsten;
- Congresso Brasileiro de Gestão Hospitalar Privada;
- Congresso Brasileiro de Administração Hospitalar e Gestão em Saúde;
- Seminário Economia da Saúde, da Fundação Getúlio Vargas;
- Hackmed, da Faculdade de Medicina da USP com o MIT;
- Congresso Brasileiro de Health Business & Innovation, organizado por membros da Gestmed, Empresa Júnior de Medicina da UFG – Goiânia.
Além disso, o Encontro Brasileiro de Empresas Juniores reúne, anualmente, mais de 5 mil empresários juniores, para discutirem temas importantes de empreendedorismo e gestão, além de ser uma incrível oportunidade de benchmarking com empresas juniores de diversos estados brasileiros.
Participe de eventos que fomentem o espírito empreendedor, EMEJ, ENEJ, JEWC, eventos do MEJ organizados por Empresas Juniores de outras regiões e estados, enfim, conecte-se à tão famosa Rede Colaborativa.
- Parceria com outras Empresas Juniores
As parcerias têm a finalidade de aperfeiçoar ainda mais o seu plano de negócios e alavancar ainda mais a prospecção de clientes, apoiando a execução de eventos e projetos da EJ direta ou indiretamente.
As parcerias podem feitas com empresas diversas, reguladoras como CRC, CRA, CREA, SEBRAE ou até mesmo com a Instituição de Ensino e Empresas Juniores de outras áreas.
O importante é que tal parceria seja estratégica, rendendo bons resultados tanto para a EJ quanto para o parceiro.
É muito comum a união entre duas ou mais EJs e essa união resulta em grandes cases de sucesso, até mesmo apresentados nos Encontros Nacionais de Empresas Juniores, ENEJs, que acontecem anualmente.
EJs de Medicina podem firmar parcerias com EJs de engenharia de produção, administração, economia, direito, enfermagem, educação física e até mesmo psicologia.