Dominando em 5 minutos: Sedação vs Analgesia
“Doutor, o paciente está agitado, não vai sedar mais?”
Quantas vezes já não ouvimos isso? Pois é, infelizmente grande parte dos profissionais de saúde não sabe diferenciar um paciente que precisa de sedação daquele que precisa de analgesia.
Que tal acabar com essa dúvida de uma vez por todas?
Podemos definir de forma bem direta os dois conceitos:
– Sedação: o objetivo é reduzir o nível de consciência;
– Analgesia: o objetivo é reduzir a dor;
Mas qual é a importância de saber a diferença?
Além da questão teórica, há obviamente uma implicação prática.
Imagine que você está avaliando um paciente na emergência. Ele se queixa de dor abdominal intensa, e está começando a ficar agitado. Se o seu tratamento se basear na administração de uma medicação sedativa, a dor não será tratada, e ele vai ficar, muito provavelmente, mais agitado.
Por outro lado, imagine que você quer realizar um procedimento como uma drenagem de tórax. Seu paciente é extremamente ansioso. Mesmo realizando a anestesia local, a ansiedade não vai passar. O que ele precisa é de um ansiolítico, ou uma sedação leve para ficar mais “tranquilo”, e não de analgésicos.
Eu me lembro de um caso interessante, no último ano de faculdade, quando era estagiário em um CTI no Rio de Janeiro. Um paciente havia chegado há duas horas no setor, vítima de politrauma. Estava intubado, com Midazolam em infusão venosa contínua, mas não parava de se mexer. Extremamente agitado, mal acoplado à ventilação mecânica, hipertenso e taquicárdico, me deu trabalho por muito tempo. Tentei aumentar a dose de Midazolam, já que o provável problema era agitação por falta de sedação (estava intubado, eu sabia que paciente com tubo orotraqueal tinha que ser bem sedado), mas o quadro só piorava.
Após um bom tempo sem conseguir revolver, chegou o plantonista da noite. Ele leu o prontuário, viu os exames, se encaminhou para a farmácia do CTI, saiu de lá com uma seringa, e injetou aqueles 5 ml de líquido cristalino pelo acesso venoso profundo do paciente. Em 5 minutos não havia mais agitação alguma, sinais vitais controlados e o ventilador mecânico voltou a exercer sua função sem nenhum tipo de resistência. Corri para a farmácia, eu precisava saber o que aquele plantonista tinha injetado no paciente. Que sedativo milagroso era esse que resolveu todos os problemas? Para minha surpresa, não era um sedativo, era Fentanil, um analgésico. O paciente estava com dor, tanto pela presença do tubo na traquéia, quanto por múltiplas fraturas de costela.
Ora, o que podemos tirar dessa breve história? Não adianta saber tudo sobre medicações ou técnicas de sedação, se você não for capaz de realizar o diagnóstico correto, e traçar a conduta adequada.
A diferenciação é fundamental para poder escolher o tratamento.
Os principais sedativos utilizados na nossa prática clínica são os Benzodiazepínicos (Midazolam, Diazepam, Clonazepam, etc), Dexmedetomidine e o Propofol. Mas existem outros disponíveis no mercado. Quando se fala em Analgesia, podemos dividir as medicações em dois grandes grupos: os analgésicos comuns (AINE, AAS, Paracetamol, Dipirona, etc), e os opióides (Morfina, Meperidina, Fentanil, Codeína, Metadona, etc). A Cetamina é um fármaco de exceção, pois faz parte dos dois grupos, sendo esse o motivo do crescimento do seu uso principalmente em pacientes críticos.
Deu para entender a importância? Que bom, agora pegue essa informação, divulgue, e aplique na sua prática diária!
Você acabou de dominar mais um assunto em 5 minutos!
Quer um exemplo importante de como empregar uma anestesia em uma situação clínica? Clique no nosso post: Sabe sedar adequadamente o paciente durante uma cardioversão elétrica?
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