Introdução:
O pericárdio é um saco composto por duas camadas: pericárdio visceral e pericárdio parietal, que são separadas por uma quantidade pequena de líquido ultrafiltrado plasmático (15-50ml).
A pericardite é a inflamação do pericárdio que pode ocorrer de forma isolada ou associada a alguma doença sistêmica.
A pericardite, é dividida didaticamente em aguda, subaguda e crônica de acordo com duração da doença. Quadros com duração menor que 6 semanas são agudos, e com mais de 6 meses são crônicos. Entre 6 semanas e 6 meses, são considerados subagudos.
Nesta sessão, falaremos sobre a pericardite aguda.
Pericardite Aguda:
Na maioria dos pacientes, a causa de pericardite aguda é idiopática. A exata incidência e prevalência do quadro é desconhecida, uma vez que muitos dos casos são subdiagnosticados.
Etiologias:
Idiopática: Causa mais comum de Pericardite.
Viral: Virus mais relacionados: Coxsackie A e B, Echovírus, Influenza. Em geral, o quadro clínico é leve e autolimitado.
Bacteriana ou Piogênica: Quadro grave com febre alta, calafrios e prostração intensa. Em geral, a infecção se dá por contiguidade: Pneumonia, Empiema Pleural, Mediastinite.
Pericardite epistenocárdica: ocorre de 1 a 5 dias após IAM transmural.
Urêmica: Derrame sanguinolento. Costuma responder satisfatoriamente à diálise. Casos refratários podem ser tratados com AINE, corticoide ou pericardiectomia.
Desordens Reumatológicas:
– Artrite Reumatoide: Geralmente afeta pacientes com doença avançada e nódulos subcutâneos. Líquido pericárdico com glicose muito baixa e Fator Reumatoide Positivo.
– Febre Reumática: Curso autolimitado. Achado patológico de “pão com manteiga”.
– Lúpus Eritematoso Sistêmico: Relacionado à atividade de doença.
Quadro Clínico:
Dor torácica: é o sintoma mais frequente. Tem início súbito, é retroesternal, contínua, do tipo pleurítica, que melhora na posição sentada e inclinada para frente (posição genupeitoral) ou abraçado ao travesseiro e piora em decúbito dorsal.
Dispneia: Devido à dor pleurítica, pode ocorrer hipoventilação, causando sensação de dispneia.
Atrito Pericárdico: É altamente específico para pericardite aguda. Ruído mais intenso na borda esternal esquerda quando o paciente senta com tronco inclinado para frente, de tom áspero, presente tanto na sístole quanto na diástole.
Exames complementares:
ECG: O processo inflamatório pode se estender ao epicárdio gerando alterações eletrocardiográficas que podem ocorrer em até 60% dos casos, que são: elevação difusa do segmento ST, com concavidade voltada para cima, geralmente poupando V1 e aVR, e infradesnível do segmento PR.
Estágios de anormalidades do ECG na pericardite aguda:
1. Elevação difusa do ST com infra de PR;
2. Normalização dos segmentos ST e PR;
3. Inversão difusa da onda T;
4. ECG pode torna-se normal ou manter a inversão da onda T indefinidamente.
Como fazer para diferenciar o Supra de ST do IAM do Supra de ST da Pericardite Aguda?
– O Supra de ST da pericardite costuma possuir concavidade voltada para cima, diferentemente do IAM.
– O Supra de ST da pericardite afeta diversas derivações em paredes diferentes, sendo difuso no ECG. Já no IAM, o supra de ST afeta derivações contíguas, referentes à parede miocárdica afetada.
– Na pericardite pode haver o Infra de PR, que não ocorre no IAM.
– O supra de ST da pericardite não evolui com formação de onda Q de necrose.
Exames laboratoriais:
– Elevação dos marcadores de inflamação, como PCR, VHS e presença de leucócitose.
– Pode haver elevação dos marcadores de necrose miocárdica devido à possibilidade de lesão miocárdica por contiguidade ao processo inflamatório, quadro que denominamos como miopericardite.
Radiografia de tórax: é normal na maioria dos casos. Pode apresentar cardiomegalia quando houver acúmulo de, pelo menos, 200ml de líquido pericárdico
Ecocardiograma transtorácico: é normal na maioria dos casos. A presença de derrame pericárdico ajuda a estabelecer o diagnóstico. Avalia a presença de tamponamento cardíaco. Um ECO normal não exclui o diagnóstico de pericardite aguda.
Tratamento:
Viral e Idiopática: O tratamento em ambos os casos é realizado com AINEs (Ibuprofeno*) ou AAS em dose elevada (mais utilizados em pericardite pós IAM), associados ou não à colchicina (terapêutica coadjuvante no alivio da dor e na prevenção de recorrência do quadro).
Piogênica: Pericardiocentese com drenagem e antibioticoterapia.
Doenças reumatológicas: Corticóide.
Urêmica: Diálise e corticoide.
Pós – IAM: AAS em dose elevada.
O tamponamento cardíaco é a complicação aguda mais temida da pericardite aguda, saiba mais sobre esse quadro emergencial em Direto ao Ponto: Tamponamento Cardíaco.