Dia 15 de Outubro é a data escolhida para homenagear o Neurologista, profissional que estuda, diagnostica e trata as doenças relacionadas com o sistema nervoso central, bem como aquelas que envolvem o sistema nervoso periférico. Se dedica ao tratamento clínico, tendo durante a sua formação um conjunto de conhecimentos e experiências no que diz respeito aos medicamentos, as interações farmacológicas e a ação deles sobre cada indivíduo.
Atualmente, a residência de neurologia possui acesso direto, ao contrário de antigamente, em que era necessário fazer clínica médica como pré-requisito. Possui duração de três anos, sendo que o primeiro é mais voltado para a clínica médica como um todo, e os outros dois são mais focados na neurologia em si, com anamnese e exames mais direcionados.
Durante a residência médica existem conteúdos teóricos programáticos abordados que são essenciais na formação do neurologista, são eles: neuroanatomia, propedêutica neurológica, fisiopatologia do sistema nervoso, cefaleia e dor, urgências, doenças infecciosas do sistema nervoso, noções de neurologia infantil, epilepsia, doenças vasculares do sistema nervoso, neuroimagem, eletroencefalografia, eletroneuromiografia, neuroimunologia, potenciais evocados, neuroncologia, doenças genéticas, transtornos neuroendócrinos, demências, doenças neuromusculares e transtornos tanto do sono quanto do movimento.
O profissional pode escolher ainda por subespecializar em determinada área para atuar dentro da neurologia, como: dor e medicina do sono, neuroradiologia intervencionista, exames complementares como eletroneuromiografia e Doppler transcraniano, dentre outras.
A rotina é bem variada e depende do tipo de atuação e local de trabalho. O médico pode optar por trabalhar em ambulatórios – em hospitais públicos, particulares ou até mesmo em consultório -, em hospitais auxiliando os pacientes internados ou em plantões em unidades neurointensivas e emergência. É interessante observar também que existem outras especialidades, como a psiquiatria, neurocirurgia, reumatologia, cardiologia, geriatria, otorrinolaringologia e oftalmologia que estão frequentemente associadas com a prática do neurologista, além de outros profissionais da saúde, como os fisioterapeutas, fonoaudiólogos.
A neurologia clínica tem como base o diagnóstico sindrômico do paciente, associado ao tipo de função alterada e a estrutura anatômica relacionada. Os sinais e sintomas neurológicos são variados e envolvem acometimentos psíquicos – como alteração da memória, da consciência e da linguagem -, distúrbios motores – como déficit de força, paralisia de membros, distúrbios da coordenação e equilíbrio -, acometimento da sensibilidade – anestesia e parestesia –, bem como modificações da função dos nervos cranianos e distúrbios relacionados com hipotálamo e hipófise.
Dentre as diversas doenças que a neurologia engloba, existem algumas que são mais frequentes. Vamos abordar brevemente as que estão mais presentes no dia a dia.
1. Acidente Vascular Encefálico (AVE)
É a doença que mais mata no Brasil, considerado a principal causa de incapacidade mundial. Atinge com mais frequência indivíduos mais idosos – geralmente acima de 60 anos -, mas pode ocorrer em qualquer faixa etária, inclusive em crianças. De acordo com a World Stroke Organization, a previsão é de que uma a cada seis pessoas no mundo desenvolva um AVE ao longo da vida.
Anteriormente chamado de AVC (Acidente Vascular Cerebral), o Acidente Vascular Encefálico (AVE), de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), caracteriza-se pelo desenvolvimento rápido de sinais clínicos de distúrbios focais e/ou globais da função cerebral, com sintomas de duração igual ou superior a 24 horas, de origem vascular, que provoca alterações tanto do plano cognitivo, como sensorial e motor, dependendo da área lesionada.
Sinais como parestesia de membros superiores e inferiores, bem como da face são frequentemente vistos em pacientes que desenvolvem o AVE. Confusão mental, alteração cognitiva, dislalia, alteração da marcha, distúrbios auditivos, cefaleia e rebaixamento da consciência são outros comemorativos que podem estar associados.
É classificado de uma forma geral em dois tipos: o AVE isquêmico e o AVE hemorrágico. O primeiro, responsável por cerca de 80% dos AVEs, ocorre por uma redução do fluxo sanguíneo de uma ou várias regiões do encéfalo, em virtude da falha dos mecanismos compensatórios, como a vasodilatação microcirculatória, que mantêm a viabilidade do tecido cerebral acometido. Os eventos mais envolvidos são a trombose de grandes e pequenas artérias, e a embolia de origem cardíaca.
É importante lembrar do Ataque Isquêmico Transitório (AIT), definido como um déficit neurológico de instalação súbita, que dura em média menos de uma hora – podendo durar mais tempo -, no qual o indivíduo recupera completamente o déficit em até 24 horas, sem que ocorra dano definitivo do tecido cerebral e sem evidências de infarto agudo nos exames de neuroimagem, pois há efeitos compensatórios, diferentemente do que ocorre no AVE isquêmico.
Já o AVE hemorrágico, representa cerca de 15 a 20% dos casos e é o mais letal. Ocorre por ruptura espontânea de um vaso que leva ao sangramento intraparenquimatoso, intraventricular ou subaracnóideo, dependendo do local para qual o sangue extravasou.
O manejo adequado dos fatores de risco diminui a probabilidade de o indivíduo ter um AVE. Dentre os fatores, podemos citar de uma forma geral: idade e sexo – idosos e sexo masculino estão mais propensos a ter AVE-, história de doença vascular prévia, doenças cardíacas, tabagismo, hipertensão arterial sistêmica, Diabetes, sedentarismo, dislipidemia, álcool e drogas, anticoncepcional. Cada tipo de AVE possui uma conduta específica.
2. Cefaleia
A Cefaleia está entre as queixas mais comuns. Existem vários tipos, como a enxaqueca, a cefaleia tensional, cefaleia em salvas, cefaleia secundária, dentre outras. A enxaqueca é caracterizada por ataques recorrentes, geralmente unilateral, com característica pulsátil, e pode estar associada à êmese, náuseas, fotofobia e fonofobia. Existem alguns fatores que desencadeiam as crises de enxaqueca, como estresse, privação de sono, menstruação, estímulos visuais, alterações climáticas, jejum e vinho.
Já a Cefaleia tensional, é a mais prevalente na população em geral, e possui uma apresentação mais frequentemente bilateral, de intensidade leve a moderada e não latejante, sem outras características associadas. Em contrapartida, a cefaleia em salvas – incluída no grupo das cefaleias autonômicas trigeminais – é descrita como unilateral, com ataques de dor orbital, supraorbital ou temporal acompanhada de eventos autonômicos. Os eventos geralmente são ipsilaterais à dor e se expressam como lacrimejamento, ptose, miose, rinorreia, sudorese facial, congestão nasal e edema periorbital. Pode ter duração de 15 minutos a 2 horas.
A cefaleia secundária, como o próprio nome sugere, possui uma causa subjacente associada, como febre, pico hipertensivo e sinusite. Cada tipo de cefaleia está associado a uma conduta diferente.
3. Epilepsia
De acordo com a Sociedade Brasileira de Neurologia, a epilepsia é definida como uma síndrome neurológica composta por um conjunto de sinais e sintomas determinados por desorganizações das descargas elétricas cerebrais, sendo que as crises geradas possuem determinadas características de acordo com a área afetada.
As descargas neuronais podem ser localizadas – quando compreendem um dos hemisférios cerebrais e chamamos de crise parcial -, ou difusas – quando atingem os dois hemisférios e recebe o nome de crise generalizada. É importante ressaltar que crises com uma duração superior a 5 minutos são consideradas emergências neurológicas e precisam de atendimento médico imediato.
As crises parciais podem ser simples ou complexas. Quando estamos diante de uma crise parcial simples, o nível de consciência geralmente não é alterado, ao contrário das crises complexas, que cursa com alteração no nível de consciência, sem que a pessoa consiga interagir com o meio. As crises parciais possuem alguns eventos associados, como parestesia, abalos musculares, desconforto gástrico e medo.
As crises tônico-clônicas envolvem todos os hemisférios, cursa com inconsciência e com contrações musculares involuntárias, bruscas, respiração ofegante, mordedura de língua e, muitas vezes, perda do controle esfincteriano com liberação de urina.
Dentre as causas que levam à epilepsia, podemos citar: lesões traumáticas cerebrais, ingesta alcoólica excessiva, consumo de drogas, infecção do Sistema Nervoso Central, tumores, AVE, dentre outras.
O tratamento é feito de forma individualizada, respeitando as particularidades de cada indivíduo.
Acima foram citadas doenças de grande prevalência no cotidiano do neurologista, mas ainda existem outras diversas patologias que fazem parte dessa especialidade da medicina, como os transtornos da memória e do intelecto, doença de Parkinson, doença de Alzheimer, doenças desmielinizantes, Esclerose Lateral Amiotrófica, neuropatias periféricas, miopatias, Meningites e encefalites, dentre outras.
De fato, é uma área da medicina que é possível empregar muito bem a arte do diagnóstico. A partir do diagnóstico sindrômico, com o auxílio da neuroanatomia e neurofisiologia, é possível chegar – na maioria das vezes – a um diagnóstico topográfico e etiológico. Um verdadeiro raciocínio clínico!