O que é?
O médico infectologista é aquele que atua frente a doenças causadas por patógenos, como vírus, bactérias, protozoários, príons, fungos e animais, procurando entender a complexa relação entre o hospedeiro e o parasita, sua atividade de doença, mecanismo de resistência e nível de gravidade.
Devido ao contexto atual de pandemia pela Covid-19, diversos médicos infectologistas têm trabalhado arduamente, seja na busca por novos tratamentos, atuando nos hospitais ou de forma informativa através de entrevistas em veículos de imprensa, a fim de esclarecer as dúvidas e acalmar a população que sofre um bombardeio diário de fake News.
Mas não podemos esquecer sua grande importância na saúde pública brasileira, principalmente no cenário de retorno de doenças já erradicadas, como o sarampo, aumento de infecções sexualmente transmissíveis, como HIV e sífilis, além das diversas arboviroses que se espalharam pelo país.
Dia do Infectologista
Por isso, em comemoração pelo seu dia, instituído pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), em 11 de abril, por ser a data de nascimento de Emílio Ribas, um renomado e ilustre médico no campo das doenças infecciosas e pioneiro no estudo da cura de infectologias no país, nós do Jaleko decidimos levar você conosco para conhecer um pouco mais sobre essa especialidade.
Mas quem foi Emílio Ribas?
Dr. Emílio Ribas foi um importante médico sanitarista brasileiro, formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1887, que conseguiu provar que a transmissão da febre amarela ocorria através da picada do Aedes Aegypti, pois acreditava-se que a transmissão era feita entre pessoas. Emílio, a fim de corroborar com sua suspeita, com coragem, deixou que o mosquito contaminado o picasse.
Mas também, prestou grande colaboração ao Instituto Butantan, desenvolvendo atividades para erradicar as epidemias que assolavam o Estado de São Paulo ao mesmo passo que Osvaldo Cruz promoveu a Campanha contra a febre amarela no Rio de janeiro.
Emílio Ribas ainda colaborou para a criação do Sanatório de Campos do Jordão, para o tratamento da Tuberculose. Faleceu em São Paulo, no dia 19 de fevereiro de 1925, deixando vários trabalhos sobre a febre amarela, febre tifoide e hanseníase.
Como é a residência em infectologia?
Caso o médico, após terminar a graduação, decida atuar no âmbito das doenças infecto-parasitárias (DIP), deve saber que os programas de residência médica em Infectologia credenciados na Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) são de acesso direto, não sendo exigidos pré-requisitos e possuem duração de 3 anos. Atualmente estão disponíveis 52 Programas de Residência Médica credenciados pela CNRM no país.
Existem requisitos mínimos para o programa de residência em infectologia, sendo um deles, a carga horaria mínima de 2880 horas anuais. De forma que 80 a 90% da carga horária do programa seja de âmbito prático nos serviços e 10 a 20% seja teórico-prático complementar, distribuído entre sessões anátomo-clínicas, discussão de artigos científicos, sessões clínico-radiológicas e clínico-laboratoriais, além de cursos, palestras e seminários, principalmente aqueles voltados ao controle das infecções hospitalares.
Vale ressaltar que o primeiro ano de Residência, é voltada para o treinamento nas especialidades clínicas, composta por Unidades de Internação, atendimento ambulatorial, urgência e emergência, e estágios ocupacionais.
Já no segundo ano, é acrescida a prática ambulatorial a alternância entre atendimentos nos leitos hospitalares e períodos interconsultas.
E por fim, no R3 tem atuação na área de racionalização e controle de antimicrobianos, consultoria à assistência de pacientes, atendimento em ambulatórios especializados: DST/Aids, Hepatites virais, Tuberculose, endemias regionais, e a pacientes imunocomprometidos.
Além disso, também há rodízios nas áreas de controle e prevenção de infecções hospitalares e estágios opcionais de Imunização, Imunologia Clínica, Microbiologia Clínica e Micologia Clínica.
Há alguns anos a infectologia já foi considerada uma área médica de grande procura e prestígio, uma vez que vivíamos em meio a diversas doenças infecciosas, ainda desconhecidas, sem informações quanto ao seu diagnóstico e tratamento, como na década de 80, com o surgimento da AIDS.
Contudo, atualmente em contrapartida, vemos uma grande redução na procura pelas residências em infectologia. Fazendo um comparativo nas especialidades de acesso direto nas residências da Unicamp, Usp e Unifesp, vemos a relação candidato-vaga na infectologia de 7,67; ;8,0; 12,0, respectivamente em 2019/2020.
Porém, para Neurocirurgia, a especialidade de acesso direto mais concorrida, nessas faculdades anteriormente citadas, em média de 39,64 na relação candidato vaga no mesmo ano.
Quais as áreas de atuação?
É certo que a infectologia é uma das áreas mais amplas e abrangentes da medicina, uma vez que opera, seja no ambiente hospitalar ou em seus consultórios, no manejo clínico e terapêutico, na prevenção primária e secundária e no acompanhamento de infecções crônicas.
Além disso, também é função do infectologista a atuação em prol da vigilância epidemiológica, controle de zoonoses e arboviroses, imunização, controle de infecção hospitalar (CCIH).
Com isso, podemos ver claramente a sua importância, mas também vemos grande falta de médicos especialistas em DIP, visto que boa parte das doenças infecciosas são atendidas pela atenção primária.
Então, quando devemos encaminhar um infectologista?
Apesar de outras áreas médicas também estarem capacitadas para tratar algumas infecções, chega uma hora que devemos encaminhar o paciente para o infectologista. Mas quando?
Existem algumas situações que existe uma alta prioridade para esse encaminhamento ao infectologista quando comparados com outras condições clínicas, em especial quando estamos diante de um paciente com:
- Neurossífilis;
- Tuberculose extrapulmonar;
- HIV com imunossupressão grave ou moderada e/ou CD4 menor que 350 cel/mm3;
- Toxoplasmose aguda/reativada em pacientes imunossuprimidos;
- Entre outras.
Lembrando que, é grande o número de pacientes que chegam por meio de encaminhamentos com atraso, já apresentando complicações, falha ou falta terapêutica.
Me explica como funciona na prática?
Vamos lá! Como já vimos ao decorrer do artigo, existem diversas áreas nas quais o infectologista transita, então selecionamos algumas para conhecer melhor.
CCIAH – Comissões de Controle de Infecções Hospitalares
Quando ouvimos a pergunta “Qual bactéria predominante nas infecções hospitalares do hospital?”, já sabemos que devemos procurar a comissões de controle de infecções hospitalares, a famosa CCIH, pois é dela a função de tentar reduzir o risco de uma infecção hospitalar, principalmente no ambiente de Terapia Intensiva (UTI).
Até porque, as infecções hospitalares são uma das principais causas de mortalidade em pacientes internados.
E de acordo com a Organização Pan-americana de Saúde, é geralmente provocada pela própria flora bacteriana humana, que se desequilibra devido a infecção em si, pelos procedimentos invasivos (soros, catéteres e cirurgias) e pelo contato com a flora daquele ambiente hospitalar.
Por isso, é dever da CCIH realizar a vigilância epidemiológica de cada hospital.
Para manter uma constante fiscalização, a ANISA em 2012 publicou a Portaria nº 1.218/2012 que instituiu a Comissão Nacional de Prevenção e Controle de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde – CNCIRAS, com o objetivo de reduzir, em âmbito nacional, a incidência de IRAS e resistência microbiana.
Além disso, a ANVISA mantém um cadastramento nacional, para que seja possível a consolidação de uma Rede de comunicação entre os controladores de infecção de todo país, conseguindo a partir deste cadastramento implementar de ações de prevenção e controle de infecção e resistência microbiana.
HIV
Estima-se pelo Ministério da Saúde (MS) que em 2019, mais de 850 mil pessoas no Brasil são portadoras de HIV. É gritante a prevalência da AIDS não só no Brasil, mas também no mundo, onde há cerca de 38 milhões de pessoas vivendo com HIV e apenas cerca de 24,5 milhões tem acesso a terapia antirretroviral.
O que é preocupante, uma vez que sabemos que ultimamente o número de infecções só tem aumentado, principalmente entre os mais jovens.
E devido a essa enorme prevalência do HIV no mundo, existe uma dedicação por parte dos infectologistas ao estudo e tratamento clínico desses pacientes.
Além das diversas complicações, muitas delas também infecciosas, como a Pneumocistose, uma pneumonia de caráter oportunista causada pelo fungo unicelular Pneumocystis jirovecii nos pacientes portadores do vírus.
Medicina tropical e do viajante
A medicina de viagem é uma área nova da infectologia, iniciada na década de 80, fomentada pelo crescente deslocamento humano favorecido pela proliferação dos meios de transportes e do intercâmbio entre países.
Levando a necessidade de promover ações preventivas a agravos à saúde de forma individual e o controle da disseminação internacional de doenças.
Em âmbito mundial, a FIOCRUZ é referência em pesquisa e tratamento de doenças infecciosas, especialmente as tropicais
Ao mesmo passo que a medicina tropical, atua e regiões tropicais e subtropicais com grande prevalência de malária, febre amarela, raiva, dengue e outras arboviroes, criptococose, esporotricose, tuberculose, leptospirose, leishmaniose, sarampo, Doença de chagas, hantavirose, ebola e diversas outras.
É impossível não citar Covid-19 ao falar de medicina de Tropical e de Viagem, doença causada por umas das cepas do coronavírus que atualmente vem infectando centena de milhares de pessoas por todo mundo.
O que nos faz mais uma vez destacar a extrema importância da infectologia dentro da medicina.
Com isso, nós do Jaleko gostaríamos de homenagear essa especialidade tão importante, principalmente neste contexto atual de pandemia mundial, que luta bravamente contra um inimigo tão forte, porém invisível aos nossos olhos.