O dia-a-dia em um plantão de pronto-socorro ou unidade de referência para traumas não é algo para qualquer um. Mais complicado ainda se você estiver num país como o Brasil, que tem altos índices de acidentes automobilísticos. Não bastasse os acidentes com automóveis, convivemos ainda com algumas das cidades mais violentas do mundo, altas taxas de homicídios, violência doméstica, e tiroteios. De forma a padronizar o atendimento à vítimas de trauma e politraumatizados, foi proposta a estratégia de intervenção conhecida como ABCDE do trauma. Não dá pra ir pro plantão sem conhecê-la, então vem aprender de uma vez por todas o que significa essa sopa de letrinhas.
A (Airway)
A primeira etapa do atendimento consiste em avaliar se a via aérea do paciente está pérvia e estabilizar a coluna cervical. Nesse momento, você precisa avaliar se existe corpo estranho, sangue, queda da língua ou qualquer fratura que impeça a passagem do ar adequadamente pelas vias aéreas. Uma boa forma de avaliar isso, é através da emissão de sons pelo paciente que, quando presentes, demonstram vias aéreas pérvias. Após essa avaliação, é hora de colocar o colar cervical no seu paciente.
B (Breathing)
Só a perviabilidade das vias aéreas não garante a mecânica necessária para respiração. Agora você precisa avaliar a frequência respiratória, auscultar o pulmão do paciente, afastar possíveis lesões e ver se seu paciente realmente está respirando bem. Após isso, podemos passar pra próxima etapa.
C (Circulation)
Figurando no topo das causas de morte no trauma temos o choque hemorrágico. É aqui que devemos nos preocupar com ele, avaliando a circulação do paciente e impedindo que ele perca volemia. De forma prática, deve-se avaliar frequência cardíaca, pulso periférico, temperatura de extremidades e pressão arterial. Caso sinais de hipovolemia estejam presentes, é hora de buscar a origem de sangramento! Fique atento para taquicardia, pulsos finos, pressão arterial baixa, enchimento capilar lentificado e extremidades frias. Só após resolver isso podemos avançar para próxima etapa.
D (Disability)
Agora é a hora de avaliar o estado neurológico do paciente. Mas calma! Não é pra pegar seu martelinho de semiologia e fazer exames minuciosos de sensibilidade e reflexo patelar. Na emergência precisamos ser rápidos e uma boa forma de resumir esse estado neurológico é através da Escala de Coma de Glasgow. Muito utilizada em CTI’s, sua aplicabilidade original era exatamente no politraumatizado, avaliando resposta motora, resposta verbal e abertura ocular.
E (Exposure)
Só agora vamos nos preocupar com as outras lesões do paciente. Vamos despi-lo para encontrar eventuais novos sangramentos, luxações, fraturas ou escoriações. Essas lesões costumam ser menos responsáveis pela morte dos politraumatizados. É comum que haja hipotermia nesse processo então precisamos ficar atento à temperatura corporal do nosso paciente.
É importante ter em mente que o ABCDE tem que ser seguido em ordem e jamais pular etapas. É muito comum que lesões aparentemente chocantes desviem a atenção do médico e esqueçamos de alguma etapa no atendimento. Não se deixe levar por isso! Com essa bagagem aprendida no Jaleko, a mortalidade de politraumatizados tende a diminuir e você está pronto para atender em plantões de referência.