Continuando nosso papo sobre cuidados paliativos, este artigo vai servir como uma breve introdução e um guia prático dos principais objetivos nas últimas 48 horas de vida de um paciente. Descrevo como “breve” por se tratar de um assunto complexo e bastante extenso.
Leia também: Você já ouviu falar de sedação paliativa?
Quem nunca se sentiu ansioso perante uma família que esta acompanhando o fim de vida de um ente querido? Quem nunca se sentiu desconfortável em chegar a alguma unidade hospitalar e encontrar um paciente gemente por sensação álgica ou em “gasping”? É nisso que consistem os cuidados nas últimas 48 horas de vida: melhorar a abordagem multiprofissional e aliviar o sofrimento do doente e de seus familiares.
O que são as chamadas “últimas 48 horas de vida”? Na verdade, é a continuidade da evolução de sinais e sintomas associados a uma doença avançada e de caráter progressivo, apresentando disfunções orgânicas já irreversíveis, em um paciente com declínio funcional importante.
Nessa etapa dos cuidados paliativos, nosso principal objetivo é preservar a vida sem prolongar o sofrimento do paciente ou tornar qualquer tipo de tratamento algo mais doloroso do que a própria doença. Aqui, estamos focando em atender às necessidades do paciente, com alívio de sintomas físicos, psíquicos, emocionais, religiosos, além de diminuir a ansiedade final relacionada ao momento da morte.
Nada disso faz sentido se a abordagem ao acolhimento familiar não for realizada de forma adequada. Reconhecer o processo de morte é essencial para o planejamento dos cuidados e a abordagem do paciente e dos familiares.
Dicas da comunicação com o paciente e seus familiares
É sempre importante encorajar visitas e despedidas; informar e se antecipar com relação à possível evolução sintomática no processo da fase final de vida; orientar a programação do tratamento; respeitar a vontade e autonomia do paciente.
Quais tipos de sinais/sintomas eu posso encontrar nas últimas 48 horas de vida do meu paciente?
Podemos destacar uma gama de sinais/sintomas que enfrentaremos nesta ocasião, a depender de maneira individual da doença de base e das comorbidades do paciente: fraqueza e fadiga com diminuição das atividades sociais; diminuição da alimentação por via oral; imobilidade e maior dependência para atividades básicas; alteração do nível de consciência (delirium/sonolência); exacerbação de sintomas basais como dor, náuseas, vômitos, dispneia; constipação; alterações respiratórias (padrão de Cheynne Stokes, ronco da morte, “sororoca”, respiração atômica); pele fria, cianose, hipotensão, bradicardia, diminuição da perfusão; mioclonias e convulsões.
Nessa etapa da vida do paciente, é de suma importância a pesquisa ativa e o controle precoce dos sintomas (como os pacientes podem estar hipoativos nesse momento, as manifestações de desconforto podem ser escassas de sinais). A monitorização deve ser periódica. A informação e previsão do surgimento de sintomas ao paciente e familiares deve ser realizado.
Abaixo vamos listar algumas medidas que podem tratar ou aliviar os sintomas mais prevalentes nas últimas 48 horas de vida.
Anorexia e diminuição da ingesta oral
- Trata-se de condição bem tolerada pelo paciente (por diminuição do metabolismo), mas que causa certo desconforto aos acompanhantes e familiares;
- Alívio da boca seca com hidratação da cavidade oral com gaze molhada periodicamente;
- Deve-se considerar o uso de dieta de conforto;
- Explicação incansável à família sobre o processo natural de fase final de vida.
Delirium
- Primeiramente, fatores predisponentes devem ser excluídos: hipoxemia, distúrbios metabólicos (uremia, encefalopatia hepática), desidratação, infecções, entre outros;
- Correção de causas reversíveis;
- Atuar no ambiente: torná-lo mais calmo, iluminação adequada, evitar contenção;
- Neurolépticos no caso de delirium hiperativo.
Leia também: Como manejar a sedação e o Delirium na UTI
Convulsões e mioclonias
- Correção de causas potencialmente reversíveis;
- Considerar dexametasona, em casos de efeito de massa;
- Uso de anticonvulsivantes;
- Benzodiazepínico na presença de mioclonia ou convulsões persistentes.
“Ronco da morte”
- É um dos sintomas que mais incomodam os acompanhantes e a família;
- Evitar repetidas aspirações de vias aéreas superiores para evitar desconforto;
- Posição adequada do paciente no leito (decúbito lateral);
- Evitar hiper-hidratação;
- Prevenir e tratar com medicamentos como escopolamina, hioscina.
Com isso, damos uma amenizada naquela ansiedade que temos e uma orientação sobre como conduzir o cuidado do nosso paciente nas últimas 48 horas de vida.
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Muito esclarecedor está matéria
Que bom que te ajudamos, Maria Cândida! Continue acompanhando nossos artigos.
Excelente.estou vivenciando está situação …
Muito esclarecedor e confortante.Estou vivendo esta fase e tinha muitas dúvidas.
Desejamos toda força e apoio do mundo nesse momento, Alexandra! S2 Pode contar com a gente para o que der e vier. <3
Excelente.Passei por todas essas etapas nos últimos 5 dias de vida sem muita informação. CA de prostata e cirrose descompensada seguida de sepse.
Eu fiquei admimirada como a médica sabia cada passo q ia acontecer. Estertor pele fria inconsciência 5 horas antes das maoes ficarem roxss e vindo a respiração mandibular 3 horas antes. Ela disse q por volta das 12h ele ia descansar e 12:04 veio a última expiração. Nunca tinha visto nada igual.Ele não teve dorcom a morfina e estava inconsciente com midazolan há dois dias. Sem saber q estava morrendo.!Dormiu. Isso fora acordado com a médica por mim 15 dias antes. Adeus amor.
Preciso conversa sobre cuidadis paliativos
Conta para a gente o que você quer saber, Rogeslia!
Tenho minha mãe em estado terminal no hospital foi muito útil a matéria
Muito boa a matéria!
É uma satisfação enorme ter a certeza de que você gostou do nosso artigo, Gabriel! (:
Tenho minha mãe em estado terminal no hospital foi muito útil a matéria
O Jaleko está muito sentido e comovido com a sua história, Sandra! Realmente, não deve ser fácil lidar com essa situação. Desejamos muita força para você e, principalmente, toda saúde do mundo para a sua mãe. Por fim, gostaríamos também de agradecer por ter chegado até aqui e lido o nosso artigo. Nós produzimos esse Blog justamente com esse intuito: de ajudar a quem mais precisa. Fica com Deus, minha amiga!
Estamos cuidando de minha mãe em casa, com homecare 12hrs. Minhas noites não tem sido fáceis, fico em vigília, não consigo dormir.
Há 5 anos tratamos CA de endométrio com esterectomia total e recidiva para vagina.
Angustiante eu diria, pois, queremos o fim, mesmo não querendo que fosse o fim.
Gostei muito do artigo, lendo parece que acontece rápido, porém, a vivência sempre nos traz novidades.
Obrigada 🙏🏻
Poxa, Meire… Realmente, é muito triste tudo isso! De fato, trata-se de uma situação bem complicada. Super entendemos a dor que você está passando ao cuidar da sua mãe nesse estado. Vamos ficar aqui na torcida pela ampla recuperação dela (:
Perdi meu pai ontem. Estava com 88 anos. Acamado há 2 meses. Já não sabia mais engolir. Usava sonda nasoenteral. Esse ronco da morte é angustiante. A equipe do SAMU estava lá quando ele partiu. Saturação estava em 46. Pontas dos dedos roxas. Olhos parados. Corpo que estava atrofiado, duro, depois de uma diarréia, amoleceu por completo.
Espero em Deus que ele não tenha sofrido.
Eliane, toda a equipe do Jaleko está bastante triste com o falecimento do seu pai… De fato, é uma das piores sensações da vida! Pode ter certeza de que ele teve uma passagem tranquila. Ficam as boas memórias e as lembranças que vocês viveram juntos… Ele está eternizado em seu coração, assim como você estará para sempre no dele! Conta com a gente para tudo.