Introdução:
No final da década de 50, com a descoberta e a utilização na medicina dos antidepressivos, houve um avanço considerável no tratamento e no entendimento dos transtornos depressíveis. Há não muito tempo, por volta de 1952, um hospital psiquiátrico francês foi um dos primeiros a utilizar medicações para tratar pacientes com distúrbios mentais.
O termo antidepressivo veio da observação de melhora do humor em pacientes em uso de algumas medicações em teste para outras condições de saúde, no período logo após a Segunda Guerra Mundial. A partir daí a depressão, assim como a hipertensão e a diabetes, passou a ser passível de tratamento medicamentoso.
Como discutido anteriormente no artigo “Antidepressivos só são usados para tratar depressão?”, existem várias opções de medicações antidepressivas, as quais podem ser usadas para diferentes tipos de enfermidades, tanto psiquiátricas quanto não psiquiátricas, mas todas essas substâncias com respostas clínicas semelhantes. Aí vem um questionamento: como o médico escolhe qual o melhor antidepressivo para cada paciente?
Vamos, então, elencar e discutir os principais critérios utilizados para a escolha do antidepressivo de maneira individualizada:
Preço:
O perfil socioeconômico deve ser sempre levado em consideração. Um paciente que recebe um salário mínimo, por exemplo, e tem gastos fixos mensais com água, luz, alimentação, educação e transporte pode ter muita dificuldade (financeira) em manter um tratamento de 06 a 12 meses (ou mais) com custo mensal acima de R$ 200,00 reais (tem tratamentos mensais que podem custar mais de R$ 1.000,000 reais!).
- Efeitos colaterais:
Um paciente que tenha dificuldade para dormir pode se beneficiar com uma medicação que tenha sonolência como principal efeito colateral, sendo indicada, então, sua tomada no período noturno, enquanto que um paciente que apresente “falta de energia” durante o dia, pode tomar, no turno da manhã, um antidepressivo que tenha efeito “energético”, dando mais disposição para enfrentar as atividades do dia-a-dia.
- Segurança, comorbidades e grupos “especiais” de pacientes:
Pacientes que possuam alguma arritmia cardíaca devem evitar medicações que possam contribuir para disfunção da condução elétrica do coração, enquanto que pacientes com “problemas” no fígado ou no rim devem evitar antidepressivos que, para ser eliminados do corpo ou para funcionarem adequadamente, necessitem desses órgãos “trabalhando” de maneira eficaz. Ademais, gestantes e mães amamentando devem ter atenção com os possíveis riscos para seus filhos.
- Grupos de sintomas:
Um paciente pode apresentar vários tipos de sintomas em um único transtorno psiquiátrico ou, ainda, mais de um paciente, com condições de saúde distintas, podem apresentar um mesmo grupo de sintomas (o que chamamos de síndromes). Assim uma mesma medicação pode ser usada para tratar doenças diferentes, mas que se apresentem com o mesmo conjunto de sintomas. Podemos citar como principais síndromes psiquiátricas: depressiva, ansiosa, psicótica ou obsessiva.
- Maior Eficácia Comprovada:
“Ah, aquele médico só usa fluoxetina porque ele acha a melhor medicação.” Algumas pessoas pensam que o médico usa do “achismo” para a decisão medicamentosa. Todavia, é muito importante a medicina baseada em evidências para a criação de uma base mais firme de escolha terapêutica. E, para tanto, são necessários vários estudos clínicos rigorosos envolvendo dezenas até milhares de pacientes e múltiplas instituições de saúde e de ensino para a validação do uso específico de cada medicação, inclusive dos antidepressivos.
- Tolerância do paciente:
“O efeito de uma medicação varia de pessoa para pessoa!” Quem nunca ouviu isso? E é verdade. Algumas podem sentir muita azia, dor no estomago, aumento ou redução do apetite, enjoo ou até mesmo diarreia com o mesmo remédio que um familiar usa e não apresenta qualquer sintoma desagradável associado.
Neste contexto, antidepressivos que tenham associação com ganho de peso de maneira mais significativa, seria de difícil tolerabilidade para um paciente que já está “lutando” para emagrecer, devem, assim, evita-los como primeira opção terapêutica.
- Histórico familiar:
Quando um familiar (pais ou irmão, principalmente) tem histórico de uso de algum antidepressivo com boa resposta no tratamento, há maior probabilidade de o paciente também se beneficiar com o uso da mesma medicação ou de outra do mesmo “grupo”. O inverso também é verdadeiro. Caso um familiar tenha apresentando algum mal estar importante ou uma resposta terapêutica insuficiente, tal classe medicamentosa tenderá a não ser prescrita.
- Posologia / Número de tomadas ao dia:
Se você pudesse escolher entre duas medicações que tivessem o mesmo resultado, sendo que a medicação “A” precisasse ser tomada quatro vezes ao dia enquanto que a medicação “B” pudesse ser usada em dose única diária, qual das duas você escolheria? Acho que nem precisa responder, não é?
- Experiência e intuição do médico:
É isso mesmo que você leu. Com os anos de experiência, vendo vários e vários casos de pacientes enfermos, com síndromes psiquiátricas e não psiquiátricas, com os mais diversos grupos de sintomas e com efeitos clínicos e colaterais distintos, o médico vai percebendo e/ou intuindo de maneira mais clara qual o melhor grupo de medicações para cada “perfil” de paciente.
Conclusão:
Com todos os critérios acima expostos fica clara a complexidade que é a escolha de um antidepressivo. Fatores como preço, posologia, efeitos colaterais, riscos cardiovasculares, idade e tolerância do paciente devem sempre ser levados em consideração para tal tomada de decisão médica.
Assim, a procura por um profissional médico deve ser sempre instigada, visando à minimização da automedicação, da prorrogação do adequado diagnóstico clínico e de suas consequências maléficas para o paciente e, por conseguinte, para sua família.
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