DO QUE SE TRATA?
A Leptospirose é uma doença infecciosa aguda, uma zoonose causada por espiroquetas do gênero Leptospira, que geralmente são encontradas em água e solos contaminados por urina de ratos infectados.
Ok! E qual a sua importância? Além de ser endêmica em regiões de clima tropical como nosso país e Ásia, a doença possui um espectro conhecido como síndrome de Weil com grande capacidade de complicações e óbito.
EPIDEMIOLOGIA:
As espiroquetas têm nos roedores, como ratos, seus principais reservatórios (embora cães, equinos, bovinos e suínos também possam ter tal função). Com isso, a principal forma de transmissão da doença se dá com o contato da pele exposta, mucosas e conjuntivas com coleções de águas contaminadas (principalmente urina desses animais) através do deambular em enchentes, natação recreacional e/ou acidental (por isso, sempre é um tema de grande preocupação em episódios de enchentes e chuvas fortes). Outra forma de transmissão da doença ocorre pelo contato com o fluido de animais e mordeduras (profissionais que atuam manipulando-os), além de alguns casos de transmissão transplacentária.
Nesta altura da leitura, vale a pena ressaltar que a Leptospirose é uma doença de notificação compulsória no Brasil!
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS:
O período de incubação consiste em 5 a 14 dias, dando início, posteriormente, ao que é chamado de leptospiremia, quando espiroquetas atingem a contente sanguínea, dando início a um quadro caracterizado por sinais/sintomas inespecíficos súbitos, como febre, cefaleia, hiperemia conjunctival, mialgia (principalmente na região das panturrilhas), assim como em outros quadros virais (90% dos casos).
No entanto, existe a forma grave da doença, conhecida como síndrome de Weil, um espectro de doença íctero hemorrágica, que se inicia de forma similar ao quadro mais leve, evoluindo com injúria renal aguda (glomerulonefrite leve e nefrite intersticial), fenômenos hemorrágicos e insuficiência respiratória aguda.
A injúria renal aguda (IRA) que ocorre na síndrome de Weil é multifatorial, sendo caracterizada como uma nefrite intersticial (como citado acima), podendo evoluir com necrose tubular aguda (secundária a desidratação por extravasamento de volume para o terceiro espaço, hiperbilirrubinemia e rabdomiólise). É importante lembrar que o acometimento renal da leptospirose é marcado por uma IRA não oligúrica e com desenvolvimento de hipocalemia (lesão do túbulo proximal).
A insuficiência respiratória aguda da forma grave, principal causa de óbito, é consequência de uma pneumonite hemorrágica em associação com fenômenos imunes que afetam a membrana basal alveolar.
DIAGNÓSTICO:
Além da epidemiologia compatível e a apresentação clínica do paciente, alguns achados laboratoriais inespecífico podem estar presentes: anemia leve; leucocitose com desvio à esquerda, neutrofilia, aumento das transaminases (até 200 UI/L). Os níveis de bilirrubina e de marcadores de colestase também costumam estar aumentados. Ureia, creatinina, amilase e CPK se alteram, de acordo com o espectro da doença. O coagulograma estará modificado nas formas hemorrágicas. O líquor (LCR) com pleocitose, proteína entre 50-100 mg/mL e glicose normal é encontrado na meningite asséptica.
Já o diagnóstico específico deve ser buscado através da cultura (coletada do sangue, urina, LCR) em meios específicos, imunohistoquímica, PCR ou anticorpos IgM por método Elisa (estes são detectados a partir do quarto dia de doença).
Entre a gama dos diagnósticos diferenciais estão infecções de vias aéreas superiores, dengue, viroses inespecíficas no quadro mais leve. Na forma mais grave, outras hipóteses são sepse bacteriana, forma hemorrágica das arboviroses (dengue, febre amarela), hantavirose, malária, hepatites virais graves.
E O TRATAMENTO?
Nos quadros leves, basicamente consiste no suporte clínico, repouso, uso de sintomáticos em regime ambulatorial. O uso de antibióticos possui Classe 2B de recomendação (doxiciclina 100 mg, via oral, de 12/12 horas, como primeira escolha; opção: amoxicilina 500 mg, via oral, de 8/8 horas).
Os pacientes mais graves devem ser internados em unidade de terapia intensiva, sendo realizadas reposição volêmica, de eletrólitos, acompanhamento respiratório e da função renal, podendo evoluir para necessidade de intubação orotraqueal e terapia renal substitutiva, respectivamente. O tratamento antibiótico é recomendado (Classe 1B), com Penicilina G cristalina (1.000.000 UI, EV, de 4/4 horas), Ampicilina (1 g, EV, de 6/6 horas) ou Ceftriaxone (1 g, EV, de 12/12 horas).
PROFILAXIA:
Existe a profilaxia realizada após exposição (exemplo: deambular em enchentes, nadar em água possivelmente contaminada) realizada com doxiciclina 100 mg, via oral, de 12/12 horas por 5-7 dias. Aquelas pessoas que estarão expostas constantemente a fluidos de animais com potencial de contmainação ou trabalhando em área de risco deverão receber 200 mg de doxiciclina, uma vez por semana, enquanto estiverem expostas.
A vacina animal é capaz de prevenir a doença nestes, mas não elimina a leptospirúria dos animais contaminados, não evitando a transmissão a humanos. Já a vacina humana, demonstrou-se sorotipo específica, com baixa imunidade, capaz de provocar efeitos colaterais e autoimunidade (ex.: uveíte), não sendo indicada.
Um tópico importante na prevenção da doença é focar esforços em medidas coletivas como o controle de ratos em áreas infestadas, melhorar saneamento básico, obras de estrutura para diminuir a ocorrência de enchentes.
Agora você se encontra pronto para suspeitar, diagnosticar e tratar possíveis casos de Leptospirose!!!