Seguimos em mais um artigo da série “História da Medicina”. Nesta, vamos falar de uma descoberta revolucionária na época e que traz benefícios para a Medicina e para outras tantas ciências até os dias atuais, o Raio X (com o decorrer do tempo, o método evoluiu e assumiu uma abrangência universal na pesquisa diagnóstica).
À época as aplicações médias desta descoberta revolucionaram a medicina, pois foi considerada a visão interior dos pacientes.
Com certeza essa é uma das histórias mais contadas e conhecidas pelos alunos de medicina. Mas, e você? Conhece? Se sim, vamos recordar ou ver se tem algo nesse fato que você não saiba. Caso contrário, vamos descobrir como ocorreu isso tudo!
Porém, antes de iniciarmos a conversa, quero deixar uma indicação de uma videoaula sobre a Análise do Raio X do Tórax, que pertence à Plataforma do Jaleko.
COMO OCORREU A DESCOBERTA?
Para termos noção do clima que circundou essa descoberta, vamos falar da reação da esposa de quem descobriu o método, citando o autor Kendall Haven que escreveu da seguinte forma: “…gritou de terror e pensou que os raios eram precursores da morte.”.
“Em um mês, os Raios X de Wilhelm Roentgen eram o assunto do mundo. Os céticos os chamavam de raios da morte que destruiriam a raça humana. Os sonhadores ansiosos os chamavam de raios milagrosos que poderiam fazer os cegos verem novamente e verem … diagramas diretos no cérebro de um aluno.”.
No dia 8 de novembro de 1895, o físico alemão Wilhelm Conrad Roentgen estava fazendo experiências com um tubo de raios catódicos quando descobriu que uma tela fluorescente velha e descartada iluminou-se a mais de um metro de distância quando ele ligou o tubo, apesar deste estar coberto com um papelão grosso.
Com isso, Roentgen percebeu que o tubo era capaz de emitir alguma forma de raios invisíveis e em seguida descobriu que eles podiam penetrar em vários materiais como madeira, vidro, e até mesmo borracha.
Ainda impressionado com o fato, o físico decidiu colocar a própria mão no caminho dos raios invisíveis e verificou uma imagem sombreada dos seus ossos.
Após esse episódio, Roentgen iniciou uma série de experimentos (chegou a colocar vários objetos entre o tubo e a tela e observou que todos pareciam ficar transparentes) e a primeira radiografia foi considerada ter sido realizada no dia 22 de dezembro de 1895.
Neste dia, o cientista colocou a mão esquerda de sua esposa Anna Bertha Roentgen no chassi, com filme fotográfico, fazendo incidir a radiação oriunda do tubo por cerca de 15 minutos. Revelado o filme, lá estavam, para a confirmação das observações realizadas por ele, a figura da mão da sua esposa e seus ossos dentro das partes moles menos densas.
Em 28 de dezembro do mesmo ano, o físico entregou um relatório para a Sociedade Físico-Médica de Würzburg, Alemanha, descrevendo todas suas descobertas.
A REPERCUSSÃO IMEDIATADA DA DESCOBERTA:
A repercussão imediata após a descoberta do Raio X foi uma das maiores que temos conhecimento na História científica e médica até hoje.
As aplicações das radiações foram imediatamente reconhecidas pelo próprio Roentgen e, a partir disso, diversos pesquisadores espalhados pelo mundo começaram a repetir a experiência, na tentativa de descobrir possíveis novas aplicações, além de tentar compreender o fenômeno.
Inicialmente houve uma grande confusão entre os Raios X e os raios catódicos. Os próprios físicos se confundiam. Thomson descobriu, dois anos depois, que os raios catódicos eram elétrons. Existiam duas escolas de pensamento sobre a dinâmica do Raio X naquela época: a inglesa e a alemã.
A primeira, defendida por Thomson e Stokes, acreditava que os Raios X eram vibrações transversais no éter, assim como a luz. A segunda, do alemão Lenard, defendia que os raios eram vibrações longitudinais no éter. Após muitos e muitos experimentos, verificou-se que a escola inglesa estava certa.
Nos dias de hoje, sabe-se que os Raios X pertencem ao espectro eletromagnético, assim como a luz visível, ondas de rádio, o ultravioleta, o infravermelho e as radiações gama. O que diferencia uma radiação da outra é, principalmente, o comprimento de onda.
NOTÍCIAS EXTRAVAGANTES DA ÉPOCA:
Tal era o mistério da recém descoberta que, na época, diversas notícias começaram a aparecer nas mais variadas partes do mundo:
– No jornal St. Louis Post-Dispatch, durante três dias seguidos, surgiram as seguintes notícias: um professor italiano inventou um método, ao olho humano, de visualizar os Raios X; Roentgen havia iluminado seu cérebro e visto sua pulsação; a descoberta do físico alemão poderia estabelecer novas teorias sobre a criação do mundo.
– Um jornal não conhecido alertava sobre o perigo da radiação, alegando que qualquer um armado com um tubo a vácuo poderia ter a visão completa do interior de uma residência.
– Os Raios X poderiam ressuscitar pessoas eletrocutadas.
O caráter sensacionalista após a descoberta foi tão intenso, que o New York Times alertou no dia 15 de março de 1896:
“Sempre que algo extraordinário é descoberto, uma multidão de escritores apodera-se do tema e, não conhecendo os princípios científicos envolvidos, mas levados pelas tendências sensacionalistas, fazem conjecturas que não apenas ultrapassam o entendimento que se tem do fenômeno, como também em muitos casos transcendem os limites das possibilidades. Este tem sido o destino dos Raios X de Roentgen.”.
A DESCOBERTA DO RAIO X FOI UM ACASO?
Na maioria dos relatos e das histórias contadas, a descoberta do Raio X é descrita como um acaso. No entanto, algumas vertentes defendem que não. Afirmam que o físico alemão, descobridor dessa revolução, vinha praticando estudos e observações até chegar a tal conclusão, sem ser totalmente acidental. Um relato de Roentgen que demonstra um grande poder de observação sobre a radiação é a seguinte: “Ela produzia luminescência em certos materiais fluorescentes, sensibilizava chapas fotográficas, mas em si era invisível ao olho humano, não parecia sofrer refração, nem reflexão, nem polarização. Não se tratava de luz (por ser invisível e atravessar grandes espessuras de madeira ou papel), não era igual aos raios catódicos (não sofria desvio com ímãs e tinha poder de penetração muito superior), nem aos raios ultravioleta ou infravermelho (pelo seu poder de penetração)“. Com base nessas observações, Roentgen chegou à conclusão de que se tratava de um novo tipo de raio invisível, com poder de penetração ainda desconhecido, capaz de atravessar materiais opacos à luz e a outras radiações conhecidas (raios catódicos, raios ultravioleta e infravermelho).
DE ONDE SURGIU O NOME “RAIO X”?
Como Roentgen considerava os raios muito enigmáticos, sem conhecer totalmente suas propriedades, decidiu chama-los de “Raios X”.
E NO BRASIL? QUANDO FOI REALIZADA A PRIMEIRA RADIOGRAFIA?
No nosso país, a primeira radiografia foi realizada em 1896. Até hoje é motivo de disputa a autoria entre alguns pesquisadores: Silva Ramos (São Paulo); Francisco Pereira Neves (Rio de Janeiro); Alfredo Brito (Bahia) e alguns físicos do Pará.
Os primeiros professores de Radiologia no Brasil foram Rafael de Barros, em São Paulo, em 1913, na Santa Casa de Misericórdia e Duque Estrada, primeiro professor de radiologia do Rio de Janeiro, em 1913, também na Santa Casa de Misericórdia do seu estado.
OUTROS PIONEIROS BRASILEIROS:
. Nicola Casal Caminha: professor da Faculdade Nacional de Medicina, é considerado o pai da Radiologia no Brasil por ter formado a maioria dos radiologistas brasileiros de sua época.
José Maria Cabello Campos: fundador e primeiro presidente do Colégio Brasileiro de Radiologia.
Walter Bonfim Pontes: idealizador e fundador do primeiro Curso de Técnicos do Brasil.
Henrique Toledo Dodsworth: considerado o primeiro a incorporar a Radiologia à Clínica Médica. Autor da seguinte frase: “Os Raios X não erram. Quem erra é o médico que não sabe interpretar.”.
OS DANOS DO RAIO X:
Oficialmente, só em 1896 começaram a surgir os primeiros alertas sobre os perigos do Raio X. Em março daquele ano, houve uma observação para o público sobre o perigo desses raios para os olhos.
Muitos pesquisadores foram acometidos com úlceras, abscessos e graves queimaduras, que não cicatrizavam, ao trabalharem com Raios X sem a mínima proteção pessoal.
No final do século XIX e início do XX, os aparelhos de Raio X emitiam doses absurdas de radiação e sem controle algum. Nessa época, vieram os primeiros relatos da necessidade de algum tipo de radioproteção.
Francis Williams, Chester L. Leonard e Emil Grubbe sugeriram, dentre outras medidas, o uso de couro e de chumbo como elementos protetores do tubo de radiação e do paciente.
Em 1926, o biólogo americano Hermann Muller demonstrou de maneira clara e quantitativa que os Raios X poderiam criar mutações celulares, chamando a atenção para os perigos potenciais da superexposição a esses raios.
NECESSIDADE DE PROTEÇÃO:
Com o passar dos anos, os relatos de casos acumulavam e alertavam cada vez mais a comunidade médica e não médica, sobre as consequências biológicas da radiação.
Em 1902, houve a primeira tentativa de se estabelecer um nível limite de exposição. Em 1915, a British Roentgen Society adotou uma resolução sobre a proteção no uso dos Raios X.
Após cinco anos, a American Roentgen Ray Society estabeleceu uma comissão que determinaria as medidas de proteção. Em 1921 (um ano depois), a British X-ray and Radium Protection Committee apresentou suas primeiras regras de protecao radiológica, culminando em 1925 com a proposta de um limite de exposição para a pele.
Após muitos congressos e reuniões para o estudo e definição dos níveis seguros, somente em 1934 o ICRP (International Comissiono on Radiological Protection) propôs uma dose diária tolerável de radiação (fixada em 0,1 R por dia 2 anos depois).
Em 1956, a radiação ocupacional foi limitada em 5 R por ano. Em 1975, foram adotadas as unidades relacionadas à radiação e à radioatividade.
O QUE É A UNIDADE “R”?
Aproximadamente em 1928, foi adotado o Roentgen como unidade de exposição radioativa, equivalente a uma desintegração por segundo.
DIA DO RADIOLOGISTA (NO BRASIL):
O dia do Radiologista foi instituído como o dia 8 de novembro, como homenagem ao dia em que os Raios X foram oficialmente descobertos por Wilhelm Conrad Roentgen.
DEFINIÇÃO DE RAIO X:
A definição mais técnica para esse tipo de irradiação é: “São radiações eletromagnéticas com frequência além do ultravioleta e com comprimentos de onda entre 0,1 a 100 Å.
DIAS ATUAIS:
Tal descoberta foi tão revolucionária que até hoje a utilizamos e também foi permitido um grande avanço tecnológico e desenvolvimento de outras utilidades e exames diagnósticos a partir do Raio X. Por exemplo, as técnicas de angiografia, cineangiocoronariografia são todas utilizando, de alguma forma, o Raio X.
A radioterapia utilizada para o tratamento de neoplasias também empregam essa radiação. A tomografia computadorizada, por exemplo, método tão utilizado para auxílio no diagnóstico médico usa um processamento de computador para combinar muitas imagens de Raio X a fim de gerar imagens transversas e visualizações tridimensionais.
O que um “acidente” não pode significar para a humanidade, não é mesmo?