Você já ouviu falar em alguma dessas expressões? Tennis elbow (“cotovelo de tenista” e golf elbow (“cotovelo de golfista”)? Essas expressões são comuns quando se fala em lesões esportivas, no caso, geradas pelo tênis e pelo golf, respectivamente.
Mas por que elas acontecem?
Tanto o tênis quanto o golf são esportes que utilizam muito os braços e a articulação do cotovelo. Se submetem à movimentos com pressão e que se repetem, e isso provoca lesões, que resultam nesses quadros de tennis elbow e golf elbow.
Acometem APENAS jogadores de tênis ou golf? NÃO! Acometem pessoas que, em geral, realizem movimentos repetidos envolvendo o pulso.
Mas, antes de falar da lesão em si, vamos falar da anatomia envolvida e que será afetada pela lesão.
Anatomia do cotovelo
A articulação do cotovelo é do tipo gínglimo, ou “articulação em dobradiça”.
É formada pela articulação entre úmero (tróclea) e ulna (incisura troclear), e pela articulação entre úmero (capítulo) e rádio (face superior da cabeça do rádio).
Essa articulação possui uma cápsula articular que a envolve. Essa cápsula é composta, externamente, por uma membrana fibrosa, e, internamente, a essa membrana fibrosa, há uma membrana sinovial.
Três ligamentos estão envolvidos na articulação: o ligamento colateral radial, que mais parece um leque; o ligamento anular do rádio, que circunda a cabeça do rádio, impedindo que essa saia da incisura radial da ulna; e o ligamento colateral ulnar.
O úmero, um dos ossos que compõe a articulação, possui alguns acidentes anatômicos importantes que você precisar saber. Em sua extremidade distal, além da tróclea e do capítulo, que eu já citei anteriormente, os epicôndilos são muito importantes e serão os locais acometidos nas lesões. O úmero possui um epicôndilo lateral e um epicôndilo medial, que são importantíssimos para fixação de músculos.
Epicôndilo lateral
O epicôndilo lateral é um local de fixação de vários músculos do compartimento posterior, como os extensores e o Músculo supinador. Os músculos extensores são:
- Músculo Extensor dos dedos: realiza extensão do primeiro ao quarto dedo
- Músculo Extensor do 5º dedo: realiza extensão do dedo mínimo
- Músculo Extensor ulnar do carpo: estende e aduz a mão na articulação radiocarpal
- Músculo Extensor radial curto do carpo: realiza extensão e abdução da mão na região radiocarpal
Todos esses músculos têm origem no epicôndilo lateral do úmero e são de suma importância para a movimentação do punho e dos dedos.
Epicôndilo medial
O epicôndilo medial também é um ponto de fixação muscular, mas para músculos flexores e pronador, pertencentes ao compartimento anterior.
Os músculos que têm origem no epicôndilo medial são:
- Músculo Flexor Radial do Carpo: Realiza flexão do punho e abdução da mão (desvio radial)
- Músculo Palmar Longo: realiza flexão do punho
- Músculo Flexor Ulnar do Carpo: flete o punho e faz adução da mão (desvio ulnar)
- Músculo Flexor Superficial dos dedos: Realiza flexão do punho e flexão das falanges média na articulação interfalângica proximal (do 2º ao 5º dedo)
- Músculo Pronador redondo: realiza pronação do antebraço e auxilia na flexão do cotovelo
Note que todos esses músculos têm como ação principal a movimentação (flexão) do punho.
Tennis elbow
O tênis é um esporte que tem como instrumento uma raquete e uma pequena bola. O objetivo do jogo é rebater a bola para a quadra adversária.
Note, na imagem acima, a posição do antebraço e principalmente a posição do punho. Esse movimento de rebater repetidamente, exerce, no antebraço e no punho, uma pressão. O principal movimento é o backhand. Os músculos que mais “trabalham” nesse movimento são os músculos extensores superficiais, em especial o músculo extensor radial curto do carpo e o músculo supinador, que já falamos hoje. “E você se lembra onde essa loja extensora se origina, qual o local de fixação proximal?” No epicôndilo lateral.
Ou seja, os músculos extensores superficiais são os mais utilizados no movimento que os tenistas fazem durante o jogo. Esses músculos possuem fixação proximal no epicôndilo lateral. Os movimentos são realizados repetidas vezes. Isso vai provocar um atrito no epicôndilo lateral. Esse atrito, com o tempo, provoca um processo inflamatório no periósteo, e alterações degenerativas, e, a partir daí, todos os sintomas surgirão. A doença é conhecida como epicondilite lateral ou “tennis elbow” ou “cotovelo de tenista”.
Agora você já sabe que tennis elbow refere-se a uma lesão no epicôndilo lateral.
Apenas tenistas apresentam essa doença? Não!! Trabalhadores que realizam movimentos repetitivos do punho e dos dedos estão sujeitos a desenvolverem a epicondilite lateral, como digitadores, carpinteiros, pedreiros e lavadeiras.
Sintomas
O primeiro sintoma é uma dor lateral no cotovelo, que é exacerbada na extensão do punho e dos dedos.
Como diagnosticar?
O diagnóstico para epicondilite lateral é relativamente simples, pois, pela anamnese e exame físico, você já consegue diagnosticar. Mas exames complementares podem ser solicitados para confirmação diagnóstica.
Anamnese: a história do paciente, e principalmente, investigar qual a profissão. Sintomas de dor na região lateral do cotovelo que pode irradiar para o antebraço. Esse quadro doloroso pode se exacerbar com a extensão do punho.
Exame Físico: no exame físico, alguns testes podem ser realizados para chegar ao diagnóstico. Testes muito simples, em que você não necessita de nenhum equipamento, basta saber realizar o teste.
Teste de Cozen: flete o cotovelo a 90º e pede que o paciente faça extensão do punho contra resistência. Se houver dor no epicôndilo lateral o teste é positivo.
Teste de Mills: Com o cotovelo estendido, pede o paciente para estender o punho contra a resistência (imposta pelo examinador). Havendo dor no epicôndilo lateral, o teste é positivo.
Teste da extensão do 3º dedo: a extensão do 3º dedo contra a resistência provoca dor no epicôndilo lateral.
Exames Complementares:
Alguns exames complementares podem ser utilizados, sendo os mais utilizados a Ressonância magnética, que é o padrão ouro, a Tomografia computadorizada e a Ultrassonografia.
Como tratar?
Há duas formar para tratar: o Tratamento Clínico e o Tratamento Cirúrgico. Inicia-se o tratamento clínico, por não ser invasivo, sendo recomendado o repouso e a fisioterapia. Utiliza-se também analgésicos, principalmente, para controle dos sintomas de dor, e podem ser utilizados os AINES (Anti-inflamatórios não estereoidais).
Mas nem sempre o tratamento clínico atinge os resultados esperados, e então realiza-se o tratamento cirúrgico. O tratamento cirúrgico pode ser por artroscópio, em uma cirurgia minimamente invasiva, pois o aparelho permite examinar e realizar o tratamento dos danos presentes na articulação. Também pode ser realizado por cirurgia aberta. O objetivo do tratamento cirúrgico é retirar a inserção da musculatura do epicôndilo lateral e aumentar o fluxo sanguíneo, para que a cicatrização aconteça.
Golf elbow
A expressão “cotovelo de golfista” também existe, e se trata de uma outra doença.
O golf é um esporte em que os jogadores, por meio de tacos, devem arremessar a bola, para que ela entre em uma série de buracos, utilizando o menor número de tacadas possíveis.
Como vemos na imagem, há uma grande movimentação do braço para que seja feito o arremesso. Nesse esporte, ao contrário do anterior (tênis), os músculos mais utilizados são os músculos flexores localizados no antebraço. Como já falei anteriormente na anatomia do cotovelo, esses músculos flexores possuem fixação proximal no epicôndilo medial.
A prática do golf, ou profissões que exigem um aperto forte da mão, como pintor, profissões que usem chave de fenda ou martelos, ou varredores, podem provocar uma pressão maior nessa musculatura flexora e, com a repetição, podem provocar lesão do epicôndilo medial, levando à epicondilite medial, também conhecida como “golf elbow” ou “cotovelo de golfista”.
Sintoma
O sintoma da epicondilite medial é a dor na região medial do cotovelo.
Como diagnosticar?
Anamnese: Na anamnese, além de toda a história, você deve se atentar a algumas informações, como a profissão, se pratica algum esporte (no caso o golf), e perguntar quando ele sente dor, qual a localização (no caso será na região medial no cotovelo), e se há alguma movimentação que exacerba essa dor.
Exame Físico: O exame físico do cotovelo é importantíssimo para o diagnóstico. Você pode realizar o teste provocativo, que consiste em pedir que o paciente flexione o pulso contra resistência. Se houver dor na região medial do cotovelo, o teste é positivo.
Exames complementares: Os exames utilizados para confirmação diagnóstica na epicondilite medial são os mesmos realizados na epicondilite lateral. Os mais utilizados são: Ressonância magnética, que é o padrão ouro, a Tomografia computadorizada e a Ultrassonografia.
Como tratar?
O tratamento de golf elbow também é semelhante ao tratamento de tennis elbow.
Inicia-se com o tratamento clínico (conservador) que consiste em repouso (evitando realizar os movimentos que desencadeiam a dor), alongamentos (de 40 em 40 minutos, aproximadamente, realiza alongamento do antebraço, punho e dedos).
A fisioterapia também é realizada, para limitar os danos e prevenir que ocorra avanço da doença.
E para tratamento da dor, pode utilizar-se analgésicos e AINES.
“Mas e se esse tratamento não resolver?” Se o tratamento conservador não resolver, é necessário realizar o tratamento cirúrgico.
E assim temos a simples diferença entre tennis elbow e golf elbow: o local de lesão e, consequentemente, o local da dor.
Doença | Local da lesão | Sintoma |
Tennis elbow (Epicondilite Lateral) | Epicôndilo Lateral | Dor na região lateral do cotovelo |
Golf elbow (Epicondilite Medial) | Epicôndilo Medial | Dor na região medial do cotovelo |
Agora,você já pode identificar e diferenciar essas lesões sem dificuldade, lembrando que o diagnóstico é simples. Preste bastante atenção nas informações que o paciente diz, essa vai ser a sua grande pista. Com o exame físico, você percebe o sinal da dor com simples movimentações, e assim você identifica o quadro de epicondilite, seja ela lateral ou medial.
Bons estudos! Abraços!