Introdução
É natural sentir medo durante e depois de uma situação traumática, não é mesmo? Praticamente todos os indivíduos tendem a experimentar uma série variada de reações após um evento adverso. No entanto, em geral as pessoas conseguem se recuperar dos sintomas iniciais naturalmente, o que tende a ocorrer com o avançar do tempo. Nesse contexto surge o que denominamos de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Nesse caso os impactos são extremamente relevantes no dia a dia de diversas pessoas e, portanto, merecem a nossa atenção.
Vamos entender um pouco mais sobre esse transtorno?
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Quais são os sinais e sintomas apresentados pelos indivíduos acometidos por TEPT?
Nem todas as pessoas que vivenciaram um evento traumático desenvolvem TEPT. Além disso, nem todo mundo com TEPT passou necessariamente por um evento perigoso. Isso porque algumas experiências também podem ser causas de transtorno de estresse pós- traumático. A morte súbita e inesperada de um ente querido, por exemplo, pode ser um ponto de partida.
Dentre os pacientes que desenvolvem TEPT, de maneira geral, verifica- se que os sintomas têm início precoce, dentro de cerca de três meses após o incidente traumático. No entanto, isso não impede que, em alguns casos, os sintomas tenham início apenas após um longo período, a se contabilizar a partir da data do evento desencadeador.
Nesse cenário, para que os sintomas apresentados possam ser verdadeiramente considerados pertencentes a um quadro de transtorno de estresse pós-traumático, eles devem ter duração maior que um mês; somado a isso, precisam também ser graves o suficiente para interferir nos relacionamentos ou na rotina de trabalho.
Disgnóstico de TEPT
O transtorno de estresse pós traumático surgiu como diagnóstico pela primeira vez na terceira edição da “Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders”(DSM3). No entanto, foram realizadas mudanças substanciais nos critérios para TEPT no DSM-5. Nessa edição mais recente, o TEPT foi removido do capítulo “Transtornos de ansiedade” e transferido para um novo capítulo chamado “Transtornos Relacionados ao Trauma e ao Estresse”.
Somado a isso, no DSM-5, um critério adicional de “alterações negativas em cognições e humor” foi adicionado. Este critério inclui sintomas, tais como crenças e expectativas negativas persistentes sobre si mesmo, culpa persistente distorcida de si ou dos outros, sintomas dissociativos e afeto restrito. Nesse contexto, observa- se que, embora a definição exata de TEPT tenha variado nas diferentes edições, quatro características centrais presentes no transtorno de estresse pós-traumático permaneceram estáveis:
- experimentar ou testemunhar um evento estressante;
- re-experimentar sintomas do evento que incluem pesadelos e (ou) flashbacks;
- esforçar- se para evitar situações, lugares e pessoas que remetam a lembranças sobre o evento traumático (sintomas de evitação);
- presença de sintomas de hiperexcitação, como irritabilidade, problemas de concentração e distúrbios do sono (sintomas de excitação e reatividade)
Sendo assim, como prosseguir com o disgnóstico
Essa é uma parte extremamente importante! No momento do diagnóstico, precisamos estar atentos ao fato de que nem tudo deve ser considerado transtorno de estresse pós-traumático. Deve- se levar em consideração que, muitas vezes, ter alguns desses sintomas previstos no DSM5 após um determinado evento pode ser simplesmente uma reação natural e autolimitada. Além disso, algumas pessoas que passaram por eventos traumáticos desenvolvem sintomas muito graves, mas que não são sustentados por muito tempo e desaparecem ao longo de algumas semanas. Nesse caso, temos um diagnóstico diferencial de TEPT, que é o transtorno de estresse agudo, ou TEA.
Dessa maneira, deve ser salientado que, no que concerne ao transtorno de estresse pós- traumático, esse requer a presença de sintomas com duração superior a um mês e que afetem seriamente o comportamento do indivíduo. Além disso, vale ressaltar que esses sintomas não podem ser atribuídos ao uso de substâncias, a doenças ou a qualquer outro fator que não seja o evento em si.
Além disso, temos que falar sobre um dado muito importante: devemos sempre ter em mente que o transtorno de estresse pós- traumático comumente é acompanhado por outros transtornos- como depressão, abuso de substâncias, transtornos de ansiedade- e que isso contribui também para que o curso da doença em indivíduos com o disgnóstico de TEPT apresente- se de formas variadas. Observa- se que algumas pessoas conseguem se recuperar em cerca de alguns meses, enquanto outras têm sintomas que se estendem por muito mais tempo; inclusive, em alguns casos a condição torna- se crônica e de difícil manejo.
E as crianças? Elas reagem da mesma maneira que os adultos?
Crianças e adolescentes podem ter reações extremas ao trauma, mas os seus sintomas podem não ser os mesmos que os dos adultos. Crianças muito jovens podem apresentar diversos sintomas, dentre os quais podemos mencionar urinar na cama mesmo que já tenha aprendido a utilizar adequadamente o banheiro, esquecer como ou se mostrar incapaz de falar, reproduzir “encenando” momentos do evento assustador durante o tempo livre, ser anormalmente “pegajoso” com algum parente ou conhecido, dentre outros.
Já crianças mais velhas e adolescentes tendem a ser mais propensos a apresentar sintomas semelhantes aos observados em adultos. Eles também podem desenvolver comportamentos disruptivos, desrespeitosos e até mesmo destrutivos.
Quais são os fatores de risco para o desenvolvimento de TEPT?
Na realidade, qualquer um pode ser acometido pelo transtorno de estresse pós-traumático e em qualquer idade, pois o TEPT não é uma doença restrita a determinada faixa etária, nem a um determinado sexo. Dessa forma, as possíveis vítimas são simplesmente qualquer pessoa, o que inclui desde veteranos de guerra, crianças e indivíduos que passaram por uma agressão física ou sexual, até vítimas de acidentes automobilísticos, de desastres naturais ou de muitos outros eventos sérios.
Apesar disso, há evidências de que as mulheres são mais propensas a desenvolver transtorno de estresse pós- traumático do que os homens, bem como achados sugerem que características genéticas possam tornar algumas pessoas mais propensas a desenvolver TEPT do que outras. Será?
Por que algumas pessoas desenvolvem TEPT e outras pessoas não?
Muitos fatores desempenham um papel em saber se uma pessoa irá desenvolver transtorno de estresse pós-traumático. Abaixo, mencionamos alguns fatores de risco para TEPT validados empiramente, os quais foram divididos em fatores de risco pré- trauma, fatores de risco associados ao trauma e fatores de risco pós- trauma.
Fatores de risco pré- trauma: sexo feminino, QI abaixo da média, exposição prévia ao trauma, transtorno mental prévio, fatores relacionados à personalidade, fatores genéticosFatores de risco relacionados ao trauma: trauma que causa sensação de medo da morte, trauma envolvendo agressão, severidade do trauma, presença de lesão físicaFatores de risco pós- trauma: elevação significativa da freqüência cardíaca, baixo apoio social, gravidade da dor, necessidade de permanência em unidade de terapia intensiva, presença de lesão cerebral traumática, dissociação peritraumática, transtorno de estresse agudo, casos em que o trauma gera deficiências no indivíduo.
Opções terapêuticas
Os principais tratamentos para pessoas acometidas pelo transtorno de estresse pós- traumático consistem na administração de medicamentos, na psicoterapia ou na associação dos dois. Uma vez que todo mundo é diferente e portanto pode adotar reações diferentes diante de uma mesma situação, parece ser natural que o transtorno do estresse pós-traumático afete as pessoas de forma desigual, não é mesmo?
Por isso, muitas vezes uma estratégia de tratamento que funciona muito bem para uma pessoa não funciona bem em outra. Nesse sentido, é extremamente importante que qualquer pessoa com quadro de TEPT seja tratada por um profissional com experiência em nesse tipo de transtorno..
Vale lembrar também que, caso alguém com TEPT esteja passando por um trauma contínuo- como estar em um relacionamento abusivo- ambos os problemas precisam ser resolvidos. Nesse sentido, alguns problemas comuns que podem estar possivelmente em andamento e que precisam ser investigados são transtorno do pânico, depressão, abuso de substâncias e ideação suicida.
Medicamentos
Os medicamentos mais estudados para o tratamento do TEPT incluem os antidepressivos. Esses remédios podem ajudar a controlar os sintomas relacionados ao transtorno. Exemplos desse sinais são: a tristeza, a preocupação excessiva, a raiva e até mesmo a sensação de dor no interior (“dor de dentro”).
No entanto, não apenas os antidepressivos, mas também outros tipos de medicamentos podem ser úteis para sintomas específicos de TEPT. Por exemplo, embora não seja ainda muito utilizado, uma pesquisa mostrou que o Prazosin pode ser útil em problemas de sono, particularmente pesadelos, os quais são comumente experimentados por pessoas com TEPT.
Psicoterapia
A psicoterapia envolve conversar com um profissional de saúde mental para tratar uma doença mental em questão. Nos casos de transtorno de estresse pós- traumático, a psicoterapia pode ocorrer individualmente ou em grupo.
Muitos tipos de psicoterapia podem ajudar pessoas com TEPT. Alguns tipos têm como alvo os sintomas do TEPT diretamente, enquanto outras terapias concentram- se em problemas sociais, familiares ou relacionados ao trabalho. Nesse contexto, pode- se optar por um tipo de terapia ou até mesmo combinar diferentes terapias. Isto vai depender das necessidades de cada pessoa. Uma forma útil de terapia é chamada de terapia cognitivo- comportamental, ou TCC. Especificamente, a terapia cognitivo- comportamental pode incluir:
Terapia de exposição: essa terapia auxilia as pessoas a enfrentar e controlar seu medo. Ele gradualmente expõe os indivíduos ao trauma que eles experimentaram de uma maneira segura. O terapeuta usa essas ferramentas para ajudar as pessoas com TEPT a lidar com seus sentimentos.
Reestruturação cognitiva: essa estratégia ajuda as pessoas a entender as lembranças ruins. Às vezes as pessoas se lembram do evento de forma diferente do que aconteceu; podem inclusive sentir culpa ou vergonha por algo que não é culpa deles. Nesse tipo de estratégia, o terapeuta ajuda as pessoas com TEPT a ver o que aconteceu de maneira realista.
E não para por aí. Existem diversas outras opções que podem ajudar. Porém, independentemente da terapia, é importante que o tratamento auxilie no desenvolvimento de habilidades para gerenciar os sintomas.
E nesse contexto do tratamento: será que o próprio indivíduo pode “se ajudar”?
É claro que sim! Pode ser muito difícil dar o primeiro passo para “se ajudar”. É importante que o indivíduo perceba que, embora possa levar algum tempo, o tratamento oferece grandes chances de melhora. Para ajudar si mesmo, é importante que o paciente converse de abertamente com o médico sobre as opções de tratamento; após a escolha, ele pode atualizar o médico ou psicoterapeuta sobre o que tem percebido de positivo e negativo acerca do tratamento.
Além disso, alguns comportamentos e atitudes podem auxiliar. Tentar, por exemplo, se envolver em atividades físicas para redução do estresse; definir metas realistas para si mesmo; dividir as tarefas grandes em tarefas menores; tentar passar menos tempo isolado e mais tempo com outras pessoas; além de tentar confiar em um amigo ou parente com quem possa contar. Somado a isso, pode ser benéfico ao buscar identificar situações, lugares e pessoas reconfortantes.
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