O que é o transtorno de personalidade borderline?
O transtorno de personalidade borderline (TPB) apresenta- se, na maioria dos indivíduos acometidos, essencialmente como um padrão de comportamento caracterizado por instabilidade de afetos. É diagnosticado também por impulsividade nos relacionamentos interpessoais e por insegurança em relação à autoimagem. Em geral, no TPB , dentre as diversas características identificadas nos pacientes, são observados três aspectos que merecem destaque. São eles a desregulação grave da emoção, a forte impulsividade e a disfunção social-interpessoal. Assim, tais comportamentos podem se manifestar em uma grande variedade de situações e de contextos. Gerando frequentemente respostas afetivas consideradas desproporcionais quando comparadas à situação desencadeadora da reação.
Uma vez que pessoas com TPB tendem a experimentar episódios intensos de raiva, de depressão e de ansiedade, indivíduos diagnosticados como portadores de TPB foram historicamente considerados pacientes de “difícil manejo”. Nesse sentido, uma ideia pessimista acerca da relação médico- paciente prevaleceu, o que, de certa forma, pode ter comprometido os resultados dos tratamentos. No entanto, observa- se que essa visão vem mudando progressivamente nas últimas duas décadas, principalmente como resultado de evidências emergentes da eficácia e custo-efetividade de psicoterapias especializadas para indivíduos com TPB.
Afinal, quais são os sinais e os sintomas característicos do TPB?
Pessoas com transtorno de personalidade limítrofe podem experimentar alterações repentinas de humor e demostrar incerteza sobre como elas enxergam a si mesmas e sobre como compreender o seu próprio papel no mundo. Consequentemente, seus interesses e valores podem mudar rapidamente.
Nesse momento, vamos parar para refletir um pouco. Você deve estar se perguntando então se não pode ser considerado normal modificar certos interesses e valores. Para essa sua pergunta, a resposta é bem simples e direta. CLARO QUE PODE!!! De acordo com a maturidade, com as circunstâncias e com o estágio da vida, frequentemente podemos mudar de opinião e de perspectiva, e isso é extremamente natural. No entanto, no caso dos indivíduos com TPB, observa- se uma instabilidade muito maior do que a observada no resto da população, o que faz com que as mudanças sejam muito frequentes e ocorram de forma bastante rápida.
Além disso, pessoas com transtorno de personalidade limítrofe tendem a ver as coisas com uma visão extremista: ou determinado fator é considerado “incrivelmente bom” ou é considerado “MUITO ruim”. Somado a isso, as opiniões pessoais desses indivíduos acerca de outras pessoas também podem mudar rapidamente. Nesse caso, não causa espanto um indivíduo que é visto como um amigo um dia pode ser considerado um inimigo e até mesmo um “traidor” no dia seguinte. Dessa maneira, esses sentimentos inconstantes podem levar a relacionamentos intensos e bastante instáveis.
Entretanto …
Outros sinais ou sintomas comuns podem incluir esforços para evitar o abandono- seja ele real, seja ele imaginado- o que pode se manifestar como uma tendência a iniciar rapidamente relacionamentos íntimos, tanto físicos quanto meramente emocionais, bem como a estratégia de interromper a comunicação com alguém apenas por ter a expectativa de ser abandonado futuramente. Outra característica bastante presente consiste n estabelecimento de um padrão de relacionamentos intensos e extremamente instáveis com a família, com os amigos e com entes queridos, muitas vezes oscilando de extrema proximidade e amor a extrema antipatia ou raiva.
E não para por aí… Esses pacientes geralmente apresentam auto-imagem distorcida e instável, comportamentos impulsivos e muitas vezes perigosos, como atitudes envolvendo agressão física, sexo desprotegido, abuso de substâncias, direção imprudente e compulsão alimentar. Também são relatados comportamentos de auto-agressão, como o ato de cortar- se, bem como pensamentos recorrentes de comportamentos ou ameaças suicidas.
Além disso, associado ao humor intenso e altamente mutável, esses indivíduos experimentam com frequência sentimentos crônicos de vazio, e podem ter muita dificuldade para confiar no outro, o que às vezes é acompanhado por medo irracional em relação às intenções de outras pessoas. Vale lembrar, no entanto, que nem todos os que possuem transtorno de personalidade limítrofe experimentam todos os sintomas. Alguns indivíduos experimentam apenas poucos sintomas, enquanto outros têm muitos associados.
Veja também: “Conheça um pouco da história da psiquiatria”.
O que pode desencadear esses sintomas?
Os sintomas podem ser desencadeados por eventos aparentemente comuns. Por exemplo, o portador do transtorno de personalidade limítrofe pode sentir- se irritado e angustiado devido a pequenas separações de pessoas que são
por ele (a) consideradas próximas. Pode ser desencadeada pela viagem de algum amigo, por não ter conseguido atingir a um determinado objetivo, mesmo que sob a visão das outras pessoas tal objetivo não seja algo digno de tanta importância. A gravidade e frequência dos sintomas e quanto tempo eles duram varia dependendo do indivíduo e de sua doença.
Quais são os fatores de risco associados?
A causa do transtorno de personalidade limítrofe ainda não está clara, mas pesquisas sugerem que fatores genéticos, características relacionada à estrutura e à função do cérebro, bem como fatores ambientais, culturais e sociais desempenham um papel importante na gênese do transtorno, podendo aumentar o risco de desenvolvê- lo.
História familiar: acredita- se que as pessoas que têm um parente próximo, como pais ou irmãos com o transtorno, podem estar em maior risco de desenvolver TPB.
Alterações cerebrais: estudos mostram que pessoas com TPB podem ter alterações estruturais e funcionais no cérebro, especialmente nas áreas que controlam impulsos e regulação emocional. No entanto, ainda não está claro se essas mudanças são fatores de risco para o transtorno, ou causadas pelo transtorno.
Fatores Ambientais, Culturais e Sociais: muitas pessoas com TPB relatam ter vivenciado eventos traumáticos, como episódios de abuso, de abandono ou de outras adversidades durante a infância. Outros podem ter sido expostos a relacionamentos instáveis e a conflitos hostis.
Atenção!
É importante notarmos que, embora esses fatores possam aumentar o risco de uma pessoa de ser acometida pelo TPB, isso não significa que a pessoa desenvolverá transtorno de personalidade limítrofe caso presencie alguma dessas situações. Da mesma forma, pode haver pessoas sem esses fatores de risco que desenvolverão transtorno de personalidade limítrofe ao longo da vida.
Afinal, como deve ser feito o tratamento?
Como dito anteriormente, o TPB tem sido historicamente visto como um transtorno “difícil de tratar”. Por outro lado, com o tratamento mais recente baseado em evidências, muitas pessoas com o distúrbio têm progressivamente experimentado menos sintomas, ou ao menos sintomas de menor gravidade, o que veio acompanhado de uma notável melhoria da qualidade de vida nesses indivíduos.
É importante que as pessoas com transtorno de personalidade limítrofe recebam tratamento especializado, de um profissional adequadamente treinado, para que seja possível estabelecer uma boa relação com o paciente. Além disso, o tempo que os sintomas levam para melhorar é bastante variável e sofre a influência de múltiplos fatores. Dessa maneira, é importante que as pessoas com TPB e seus familiares tenham certa paciência, persistência, e não parem de aderir ao tratamento.
Quais são as opções terapêuticas?
1. Psicoterapia
A psicoterapia é o tratamento de primeira linha para pessoas com TPB. Um terapeuta pode fornecer tratamento individual- envolvendo apenas o terapeuta e o paciente- ou o tratamento em um ambiente de grupo. As sessões em grupo conduzidas por terapeutas podem ajudar a ensinar às pessoas com TPB como interagir com os outros e como efetivamente se expressar.
A própria natureza do transtorno de personalidade limítrofe pode tornar difícil para as pessoas com o transtorno manter um vínculo confortável e confiante com seu terapeuta. No entanto, para que haja um bom resultado, é importante que as pessoas em terapia consigam estabelecer e manter uma boa relação com o terapeuta e que confiem nele.
Dentre os exemplos de psicoterapias usadas para tratar TPB, temos a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e a Terapia Comportamental Dialética (TCD). A terapia cognitivo- comportamental pode ajudar as pessoas com TPB a identificar e mudar certas crenças e comportamentos básicos que fundamentam percepções imprecisas de si mesmos e dos outros, bem como pode auxiliar nos problemas envolvendo a interação com os outros. Somado a isso, a TCC pode ajudar a reduzir uma série de sintomas de humor e ansiedade e reduzir o número de comportamentos de auto-agressão.
Já a TCD usa conceitos de atenção plena e de aceitação. Incentiva o estar ciente e atento à situação atual e ao estado emocional. A TCD também ensina habilidades que podem ajudar no controle das emoções intensas, na redução de comportamentos autodestrutivos e na melhora dos relacionamentos.
2. Estratégia farmacológica
Como os benefícios não são claros, os medicamentos geralmente não são usados como tratamento primário para o transtorno de personalidade limítrofe. No entanto, em alguns casos, um psiquiatra pode recomendar medicamentos para tratar sintomas específicos, como as mudanças de humor.
Outros elementos do cuidado
Algumas pessoas com transtorno de personalidade limítrofe apresentam sintomas graves e necessitam de cuidados intensivos incluindo, muitas vezes, a necessidade de internação hospitalar. Outros podem usar alguns tratamentos ambulatoriais e nunca precisarem de hospitalização ou de atendimento de emergência.
E os cuidadores? E a família? Como eles ficam nessa história?
Pessoal, esse é um tópico muito importante! Muitas vezes pensamos apenas no indivíduo acometido pelo transtorno e esquecemos das pessoas que estão ao redor dele, as quais sofrem e enfrentam muitos problemas devido à situação. Por isso, é preciso que se preste auxílio a essas pessoas também!
Ter um parente ou ente querido com o distúrbio pode ser difícil e causar problemas também para os membros da família ou cuidadores, como por exemplo quadros de depressão e de estresse extremo. Além disso, essas pessoas próximas, quando não orientadas podem, mesmo sem intenção, agir de maneira a piorar os sintomas de seus entes queridos. Nesse sentido, famílias e cuidadores de pessoas com TPB podem se beneficiar bastante da terapia.
Algumas terapias de transtorno de personalidade borderline incluem membros da família, cuidadores ou entes queridos em sessões de tratamento. Como benefícios, essas terapias ajudam o parente ou ente querido a desenvolver habilidades para entender melhor e para apoiar uma pessoa com transtorno de personalidade limítrofe. Embora mais pesquisas sejam necessárias, a estratégia parece ser eficaz e realmente auxiliar no tratamento.
Leituras recomendadas:
1– Fonagy P, Luyten P. A developmental, mentalization-based approach to the understanding and treatment of borderline personality disorder. Dev Psychopathol. 2009;21(4):1355-1381
2– Stoffers JM, Völlm BA, Rücker G, Timmer A, Huband N, Lieb K. Psychological therapies for people with borderline personality disorder. Cochrane Database Syst Rev. 2012;(8):CD005652.
3– Cristea IA, Gentili C, Cotet CD, Palomba D, Barbui C, Cuijpers P.Efficacy of psychotherapies for borderline personality disorder: a systematic review and meta-analysis [published online March 1, 2017]. JAMA Psychiatry
4– Gunderson, John G. M.D. The New England Journal of Medicine: Volume 364(21), 26 May 2011, p 2037–2042
Sou o Francisco da Clinica Vitta, e gostaria de fazer parte
desse grupo para postar seu material em meus sites obrigado.
https://www.clinicavitta.org/tratamento-contra-dependencia-da-maconha.php